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Salário mínimo: o que mudou no poder de compra em 5 anos

Levantamento mostra que abastecer o carro ficou mais caro, mas custo de moradia ficou menor.

Salário mínimo: o que mudou no poder de compra em 5 anos

Arte: Beatriz Pezzatto/InvestNews

Há 5 anos, um consumidor precisava de mais salários mínimos do que precisa hoje para comprar uma casa de 40 metros quadrados. Por outro lado, se em 2017 um salário mínimo podia comprar duas cestas básicas com alguma sobra, hoje em dia isso não é mais possível. 

É o que aponta um levantamento feito pelo InvestNews sobre o salário mínimo. A reportagem comparou a evolução de seu valor com a média de diversos preços, como cesta básica, combustíveis, carros, imóveis e plano de saúde, calculadas por instituições diferentes. 

Os números mostram que o poder de compra do salário mínimo não evoluiu da mesma maneira entre as diferentes bases de comparação. Enquanto os combustíveis parecem mais caros hoje em dia diante do valor do salário mínimo, o mesmo não se pode dizer sobre os imóveis, por exemplo. 

Em 2017, um salário mínimo era o suficiente para encher 5 tanques de gasolina de 50 litros, considerando o preço médio por litro calculado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Hoje, um salário consegue encher menos de 4 tanques. 

Por outro lado, quem quisesse comprar uma casa ou apartamento de 40 metros quadrados precisava de 309 salários mínimos em 2017. Hoje, um imóvel do mesmo tamanho custaria cerca de 260 salários, considerando a média nacional de preços de venda de imóvel da pesquisa FipeZap.

O levantamento considera os valores de janeiro de cada ano, de 2017 a 2022. Nesse intervalo, o salário mínimo federal passou de R$ 937 para R$ 1.212.

Enquanto isso, considerando os últimos exemplos, o que mudou foi que o preço dos combustíveis passou de um cenário em que o preço do petróleo estava perto de US$ 60 por barril e o dólar valia aproximadamente R$ 3,14 para outro em que o petróleo era cotado a mais de US$ 90 e o dólar estava em R$ 5,30 (ainda considerando dados de janeiro). 

Já os imóveis tinham preço médio de R$ 7.255 por metro quadrado em janeiro de 2017 – o que equivaleria a R$ 9.347,46 em valores de janeiro de 2022, corrigindo pela inflação. Mas o preço em janeiro de 2022 era de R$ 7.902 – ou seja, o preço dos imóveis não acompanhou a inflação desde então. 

Especialistas ouvidos pelo InvestNews explicam que essa diferença diz muito mais sobre os produtos e preços comparados do que a própria evolução do valor do salário mínimo. 

O levantamento traz ainda o exemplo do mercado de veículos. Para comprar o carro zero mais vendido do momento, em janeiro de 2017 um brasileiro precisaria de 41 salários mínimos, considerando o preço do modelo mais barato na tabela Fipe. Em 2022, são necessários 56 salários para comprar o carro mais vendido também em janeiro. 

Por diversos motivos, os preços dos carros estão mais altos do que há 10 anos. Entre eles estão itens de segurança que se tornaram obrigatórios para os fabricantes, estratégias de investimentos de montadoras e, mais recentemente, falta de itens para a produção de carros, o que reduziu a oferta no mercado. 

Se no mercado automotivo o cenário mudou de forma mais intensa o poder de compra do salário mínimo, o mesmo não aconteceu com o segmento de planos de saúde. Em 2017, para pagar a mensalidade de um plano individual, um brasileiro de 44 a 48 anos precisaria de 0,55 salário mínimo. Agora, o cenário é quase o mesmo: é necessário 0,54 salário, considerando os preços médios divulgados pela Agência Nacional de Saúde (ANS). 

Salário mínimo x comida: um caso à parte

Considerando outro exemplo, os preços das cestas básicas, houve perda do poder de compra para o assalariado. Um salário mínimo comprava 2,3 cestas em 2017. Agora, compra 2 cestas. 

Os números levam em conta uma média de preços da cesta básica em janeiro de cada ano em 17 capitais, com dados coletados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O professor de economia da Faculdade Mackenzie, Rubens Moura, lembra que o INPC é utilizado para reajustar o salário mínimo porque supostamente mede a variação de preços dos produtos e serviços mais consumidos por famílias com renda entre 1 e 5 salários mínimos – diferente do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que tem um recorte de 1 a 40 salários. 

“Infelizmente, entre os mais pobres, boa parte da renda é destinada para bens de consumo primários, alimentação por exemplo. No ano passado, o INPC bateu 10%. Só que os alimentos aumentaram 35%. Cria um indicador que não reflete muito bem a realidade das pessoas”, explica Rubens. 

Comparação entre os países

Um estudo feito pela Austin Rating a pedido do InvestNews sobre as condições do mercado de trabalho pelo mundo mostra que, entre 39 países, o Brasil tem o segundo menor salário mínimo (ganhando somente da Rússia) e a sétima maior taxa de desemprego (à frente somente de Montenegro, Costa Rica, Macedônia, Grécia, Espanha e Colômbia). Veja a tabela completa no final da reportagem. 

Entre os países que se destacaram positivamente na pesquisa (ou seja, com as menores taxas de desemprego e maiores salários) ficaram Austrália, Luxemburgo, Nova Zelândia, Reino Unido e Holanda. 

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, comenta que esses países “não têm um sistema tributário tão oneroso como é o nosso”, o que ajuda a explicar o posicionamento no ranking. “Em média, todos os benefícios que o funcionário recebe de uma empresa chega a 85% do valor do salário bruto. O cidadão ganha R$ 1.000 e a empresa tem uma despesa com ele de R$ 1.850.”

O economista acrescenta que “outro ponto é a educação”. “A competitividade do cidadão em termos de renda é igual para todo mundo praticamente, ou a diferença é muito pequena. A diferença entre o que ganha um funcionário comum de uma empresa e um médico é pequena.” 

“O problema do Brasil é a taxa de desemprego estrutural. Por mais que possamos acertar nas políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do emprego, infelizmente a gente não consegue atender às necessidades de mão de obra no país. Nós falhamos em qualificar mão de obra”, continua o especialista. 

Moura, do Mackenzie, comenta que “o salário mínimo tem que refletir a produtividade da população, e isso infelizmente nós não temos”. “As coisas são caras pela falta de produtividade, e pelo risco muito alto que o empresário tem. Incerteza dificulta o investimento. E o capital caro é descontado no trabalhador.”

Veja abaixo o comparativo dos países feito pela Austin Rating:

PaísSalário Mínimo em US$Taxa de desemprego
Luxemburgo2.702,05,6%
Austrália2497,65,2%
Nova Zelândia2459,64,3%
Irlanda2.115,37,8%
Reino Unido2087,25,0%
Holanda2.067,43,6%
Bélgica1.994,96,3%
Alemanha1.933,93,7%
França1.907,68,1%
Coreia1646,93,8%
Israel1644,95,1%
Espanha1.332,315,4%
Eslovênia1.256,84,5%
Estados Unidos1.256,75,4%
Malta962,93,6%
Portugal952,06,9%
Grécia930,615,8%
Argentina862,510,0%
Lituânia787,86,5%
Eslováquia764,56,8%
Polônia758,43,5%
Estônia716,66,5%
República Tcheca701,13,4%
Croácia631,38,4%
Letônia613,67,7%
Hungria575,44,1%
Romênia562,34,9%
Costa Rica516,616,3%
Turquia481,812,2%
Chile4709,1%
Sérvia450,09,3%
Bulgária407,85,2%
Montenegro406,623,8%
Macedônia399,615,9%
Albânia279,912,0%
Colômbia263,714,5%
México216,74,1%
Brasil 212,613,8%
Rússia169,54,9%

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