Impactado pela alta da inflação, a maior desde 1994, o brasileiro terá uma Páscoa mais salgada neste ano. O preço do ovo de Páscoa subiu 19,53% nos últimos 12 meses, de acordo com pesquisa do Núcleo de Inteligência e Pesquisas da Fundação Procon-SP.
Neste cenário, consumidores tentam adaptar as compras, escolhendo marcas diferentes, por exemplo. Essa alta de preços e possível mudança de comportamento no consumo pode impactar o setor. Uma projeção do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar) indica queda de 6,7% na intenção de compra nesta Páscoa em relação ao mesmo período do ano passado.
A tradição milenar de dar ovos de chocolates durante a Páscoa, que teve início na França e representa o renascimento de Cristo, deixou de ser apenas uma festa religiosa e passou a ser uma data comercial importante para o varejo.
E o coelho, usado como símbolo da fertilidade, passou a fazer parte do imaginário infantil para a celebração da Páscoa. Essa magia do período é uma das razões que motivam os pais a continuarem comprando ovos para as crianças, apesar do aumento do preço que pesa no bolso.
A bancária Camila Carvalho, de 40 anos, disse que notou o aumento do preço do ovo de Páscoa, mas comprou apenas para agradar o filho.
“Paguei caro, mas não tem jeito, as crianças pedem. Não sei a diferença de preços de um ano para o outro, mas está mais caro que no ano passado”, afirmou.
A promotora de chocolates Fabiana de Macedo, que trabalha em supermercado da Zona Norte de São Paulo, atendia os poucos clientes que paravam para olhar os preços dos ovos de Páscoa.
“As pessoas estão procurando outras opções. Elas olham e estão comparando muito os preços dos ovos com os preços da barra de chocolate e da caixa de bombons. Os consumidores acham os preços dos ovos caros, principalmente os infantis, e compram mais pela magia”.
Fabiana também é mãe e vai pagar R$ 60 em um ovo de apenas 150 gramas. “Se gastasse essa quantia em barra de chocolate ia comprar bastante”, afirmou.
O preço médio dos bombons também teve um aumento de 2,36%, e de 13,02% nos tabletes de chocolate.
Além dos consumidores, quem fabrica presentes de Páscoa artesanais também tenta se ajustar à nova realidade dos preços. A confeiteira Vanessa Pinheiro teve que adaptar seu cardápio para conseguir ter algum lucro. Acostumada a trabalhar apenas com produtos feitos com chocolate belga, neste ano, ela teve que mudar sua produção e escolheu fazer os ovos com um chocolate nacional fino.
“O preço do quilo do chocolate está muito caro. Economizei 70% na hora de comprar os chocolates para fazer os ovos de Páscoa com a mudança. O chocolate belga é cotado em dólar e estava muito caro”, disse Vanessa, dona de uma confeitaria na Chácara Santo Antônio, na Zona Sul de São Paulo.
A dona da confeitaria diz que, após dois anos de pandemia, espera ter uma Páscoa mais próspera com aumento de vendas.
“No ano passado, com o movimento fraco por causa da pandemia, vendi cerca de 320 ovos. Neste ano, já vendi mais que isso. E como o brasileiro deixa tudo pra última hora, essa semana as vendas devem aumentar mais”, afirmou ela ao InvestNews. Vanessa espera vender pelo menos 600 ovos.
Por que o chocolate está mais caro?
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também aponta alta nos preços. A barra de chocolate subiu 10,91% nos últimos 12 meses. Em 2022, o aumento foi de 2,50%.
Marcus Vinicius Pujol, diretor da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor do Procon, disse que a alta no preço do chocolate tem relação direta com a pandemia de covid-19.
“Estamos vendo um acréscimo crescente da inflação desde 2020, no período que iniciou a pandemia, e o mercado de chocolates não fica atrás. O setor da venda de chocolates foi muito prejudicado durante a paralisação das atividades econômicas. Com o isolamento social, a comemoração da Páscoa ficou muito prejudicada e teve uma queda nas vendas desses produtos. Com a retomada das atividades, o que se verifica é uma tentativa de reposição dos preços e recomposição das perdas que eles tiveram em 2020 e 2021″, afirmou.
Ovos de chocolate, bombons e tabletes
Pesquisa realizada pela Fundação Procon, entre os dias 14 e 17 de março, avaliou preços de ovos de Páscoa e tabletes de chocolates de diversas marcas, tipos e modelos. O levantamento aponta os valores médios do quilo:
- Ovos de Páscoa com brinquedos: R$ 394,65
- Ovos de Páscoa sem brinquedos: R$ 214,96
- Bombons: R$ 184,21
- Tabletes de chocolate: R$ 77,27
Para Pujol, sempre houve diferença de preços, mas não tão exorbitantes como neste ano.
“O que se leva em consideração é o local onde o estabelecimento comercial se localiza. Se estão localizadas em um shopping com um alto poder aquisitivo o preço se eleva. Agora se o ovo está em um bairro mais popular, perto do comércio de rua, o preço fica mais acessível.”
Diferença de preços chega a mais de 140%
O Procon orienta os consumidores a pesquisarem bem os preços antes de comprar os produtos, pois as diferenças de preços são exorbitantes e chega a 144,65% entre os ovos de Páscoa da mesma marca e gramatura em lojas diferentes.
A maior diferença encontrada foi no Ferrero Rocher de 365 gramas. Em um estabelecimento o preço encontrado foi de R$ 178,35 e, em outro, R$ 72,90 – ou seja, o consumidor chegava a pagar R$ 105,45 a mais.
Entre as barras, a maior diferença encontrada foi de 223,64% no tablete de chocolate meio amargo 40% de 92 gramas da Hershey’s. Em um estabelecimento custava R$ 12,46 e, em outro, R$ 3,85, uma diferença de R$ 8,61.
Nas caixas de bombons, a maior diferença foi de 96,54%, a caixa de Sortidos Garotices de 250g da Garoto custava R$ 16,49 em uma loja e, em outra, R$ 8,39, diferença de R$ 8,10.
Intenção de compras
O Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), que projeta queda de 6,7% na intenção de compra nesta Páscoa em relação ao mesmo período do ano passado, também mostrou que houve uma mudança na preferência dos consumidores na escolha de marcas de chocolate e dos ovos.
Após dois anos seguidos como terceira mais escolhida pelo consumidor, a Lacta passa a liderar o ranking, trocando de posição com a Nestlé. A Ferrero Rocher assume a vice-liderança na escolha dos compradores.