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Intervalo: o que esperar do mercado financeiro para o 2º semestre?

É preciso acompanhar de perto a evolução dos números da economia e de outros sinais que permitam que se identifique um momento melhor para assumir posições mais arriscadas ou cautelosas.

O ano de 2022 chega à metade. E não foi uma primeira metade fácil para os mercados financeiros, como demonstrado pelo desempenho negativo dos bônus e ações em todo o mundo, com quedas de 14% e 20%, respectivamente, de acordo com os registros dos índices Bloomberg Global Aggregate e MSCI ACWI em 30 de junho. Esses números refletem as preocupações decorrentes dos altos níveis da inflação e das reações de aumento das taxas de juros por parte dos bancos centrais, bem como do efeito dessas altas sobre o crescimento econômico. Somam-se a isso eventos geopolíticos que aumentam a incerteza, como a guerra na Ucrânia e o aumento do populismo político. Com tudo isso, o primeiro tempo de 2022 está terminando como um dos mais difíceis em quase 50 anos, com a sensação de que os investidores não encontrarão refúgio em lugar algum. 

A situação anterior pede que eles sejam especialmente cuidadosos no momento de tomar decisões de investimento. A falta de visibilidade em relação aos possíveis cenários macroeconômicos e políticos fazem com que seja difícil identificar as convicções necessárias para se aventurar em excesso, ainda que não impeçam que se busque oportunidades de maneira seletiva. É preciso acompanhar de perto a evolução dos números da economia e de outros sinais que permitam que se identifique um momento melhor para assumir posições mais arriscadas ou, pelo contrário, continuar com uma postura cautelosa.  

Quais sinais devem ser observados na segunda metade do ano? Para indicações de que as coisas poderão melhorar, é necessário começar pelo macro. Uma condição necessária é uma mudança no discurso dos bancos centrais de um foco exclusivo sobre o combate à inflação para um que reconheça a importância de reativar o crescimento, dando a possibilidade de se chegar ao fim do ciclo de alta das taxas, insinuando, inclusive, cortes futuros. Isso dificilmente acontecerá sem que antes a inflação dê algum sinal de diminuição. Caso contrário, o risco de que os bancos centrais tenham que continuar aumentando as taxas faz com que uma recuperação sólida seja difícil, tanto para os bônus quanto para as ações. 

Outro sinal particularmente importante para o investimento em renda variável será a evolução das estimativas de crescimento dos lucros. As atualizações entregues pelas empresas sobre os resultados do primeiro semestre, bem como os planos sobre o que esperam ter pela frente, são essenciais para se entender se os preços das ações – mesmo após o ajuste visto até este ponto – refletem o cenário macroeconômico mais complexo de pressões sobre as margens, ou vendas menores, ou se ainda restam correções a serem incorporadas. As informações entregues por setores especialmente sensíveis às taxas de juros, como o setor imobiliário ou o setor financeiro, serão essenciais para encontrar esses sinais. 

No entanto, para uma grande maioria de investidores, o horizonte relevante se estende muito além dos próximos seis meses. A história mostra que, eventualmente, os mercados sempre se recuperam após as crises, mesmo que as quedas costumem ser mais rápidas do que as recuperações. Ainda que seja importante ficarmos atentos aos sinais de mudanças de tendências como os mencionados neste artigo, eles devem ser utilizados para que façamos ajustes pequenos e não devem afetar fortemente a maneira como investimos ao considerarmos os objetivos de longo prazo.

*Axel Christensen é diretor de estratégia de investimentos para a América Latina da BlackRock.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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