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Diversidade: uma estratégia corporativa ou só modismo?

A constatação que realizar – e divulgar – ações em prol da diversidade agrega valor aos negócios precisam avançar para que as iniciativas sejam realmente efetivas, contínuas e progressivas.

funcionários de diferentes etnias, raças e condições em um escritório
Créditos: seventyfourimages/ Envato

Em 2020, a McKinsey & Co realizou uma pesquisa em mais de 15 países, inclusive o Brasil, com dados de 1000 grandes empresas, que identificou como a inclusão e diversidade nas empresas podem significar melhor retorno financeiro. Entre os dados, o estudo revela que empreendimentos com maior diversidade étnica, em suas equipes executivas, permitem um incremento de até 33% em sua rentabilidade.

No entanto, mesmo com a melhoria dos indicadores de rentabilidade, a realidade brasileira mantém seu ritmo lentíssimo de mudança, com os passos continuamente contidos pelo racismo estrutural. Em sua grande maioria promovem o Diversity Washing (lavagem de diversidade), para promover falsamente a reputação das marcas. Assim, só podemos concordar totalmente com a Nina Silva:  “O Racismo demonstra-se como uma burrice econômica. Mulheres negras têm 40% da renda de um homem branco no país. Homens negros têm 55% da renda de um homem branco. Se nós tivéssemos equidade de renda sobre a raça, injetaríamos na economia brasileira cerca de R$ 800 bilhões no PIB por ano. Se nós equiparássemos o déficit de gênero, seriam mais R$ 505 bilhões por ano”.

A possibilidade de mudança desse cenário ganhou uma contribuição de excelência no mês de julho, a partir da publicação do primeiro relatório do Índice ESG de Equidade Racial Setorial (IEERS). No início do mês, a Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial, que tem o objetivo de transformar a forma como empresas e investidores podem contribuir para a equidade racial no Brasil, apresentou ao mercado, imprensa e grande público dados fundamentais para pensar e agir, nesse primeiro relatório do IEERS.

Com o Índice, deve ser possível ter parâmetros para cada segmento da economia nacional, viabilizando de forma mais objetiva e padronizada, o combate à desigualdade racial dentro das empresas. Ao estabelecer uma referência de cada segmento da economia, se chega a uma diretriz que permite a cada empresa criar metas de desenvolvimento e atingir seus objetivos. 

O estudo traz dados e bases confiáveis para que cada setor avance para além desse contexto que citamos inicialmente, de se posicionar publicamente no combate ao racismo, implementar ações, passando a ter elementos científicos para identificar o quanto e como é preciso qualificar o que está em andamento, a partir do estudo da realidade de cada setor em relação à presença negra, de forma geral, e nos cargos de gerência e liderança, em especial.  

Vale destacar, em relação ao primeiro relatório do Índice, os resultados do setor financeiro, especificamente sobre os bancos de investimentos, que tem uma maioria esmagadora de pessoas brancas em espaços estratégicos. Ou seja, nesses nichos em que atuam os profissionais que decidem onde aportar capital, pessoas negras estão praticamente fora do jogo.

A pesquisa indica que, ao comparar o setor financeiro com outros, a desigualdade racial é ainda mais gritante e se torna maior de acordo com o nível de liderança analisado, chegando a ser praticamente toda composta por pessoas brancas nessas posições. São estudos como esses que nos dão elementos para afirmar que, para além do modismo, é preciso e possível avançar no S de Social do ESG. 

Os indicadores são um passo inicial e fundamental e deles deve-se partir para a ação. Também há alternativas para empresas que – realmente – querem incluir com pertencimento e buscam inovação e boas práticas. Nessa linha de ação vale a pena conhecer o MBM Project, que tem como especialidade desenvolver experiências com a comunidade negra, uma iniciativa que transforma marcas em agentes da diversidade ao propor um prisma afirmativo desde a contratação à aceleração de carreiras, impactando diretamente as relações de dentro e de fora da organização. Essas ações ocorrem através de atividades de letramento Racial e Employer Branding .

Como parte desse contexto, em que a necessidade de dar o salto além do modismo se torna também uma pauta prioritária, outra novidade chegou em julho, dando um bom gás nessa jornada. Após 10 anos de trabalho no desenvolvimento da métrica, o Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural obteve o reconhecimento do Inmetro para o programa de certificação da Escala Cidadã Olga Kos (Ecok), para monitorar as ações de organizações e a eficácia nas práticas ESG.

Assim como o Índice ESG de Equidade Racial Setorial e o MBM Project , a Escala Cidadã Olga Kos, é outra iniciativa que pode impulsionar e dar concretude à inclusão e diversidade no mercado de trabalho. Ao usar a Escala Cidadã para mensurar, a partir da identificação, monitoramento e avaliação, de que modo se pratica a inclusão, levando em conta as barreiras que impedem a inclusão nas instituições.

O Instituto Olga Kos propõe, a partir da certificação e do selo, que as empresas tenham base para medir práticas diversas praticadas. São cinco variáveis, 20 indicadores e 37 requisitos que permitem mensurar o quanto uma empresa é inclusiva. No caso da Escala Cidadã, além das práticas de equidade racial, também são mensurados, nesse processo, a qualidade do ambiente para gênero, idade, deficiência, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual ou outras diferenças que impliquem em fator de exclusão.

Para sair do lugar de reprodução de modismo, marketing, narrativa vazia, as práticas de equidade, diversidade e inclusão, no tocante à participação negra em espaços empresariais estratégicos, é preciso estudar, avaliar, agir, ajustar. As três iniciativas que comentamos aqui são ferramentas com potencial para apoiar o estudo de cada realidade, do quanto mudar enquanto estratégia corporativa, e como implementar a transformação, na prática. Os números avisam: avançar na pauta racial é potencial de lucro e não de prejuízo.

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