A economia dos Estados Unidos registrou uma inesperada contração no segundo trimestre, com os gastos do consumidor crescendo no ritmo mais lento em dois anos e os gastos das empresas em queda, o que pode alimentar temores de que o país já esteja numa recessão.
O Produto Interno Bruto (PIB) caiu a uma taxa anualizada de 0,9% no último trimestre, disse o Departamento de Comércio em sua estimativa antecipada do PIB nesta quinta-feira. Economistas consultados pela Reuters previam uma recuperação do PIB a uma taxa de 0,5%.
As estimativas variaram de uma contração de 2,1% a um ritmo de crescimento de 2,0%. A economia contraiu a um ritmo de 1,6% no primeiro trimestre.
O segundo declínio trimestral consecutivo do PIB atende à definição padrão de recessão.
Mas o escritório nacional de estatísticas dos EUA, o árbitro oficial das recessões no país, define uma recessão como “um declínio significativo na atividade econômica espalhada por toda a economia, com duração superior a alguns meses, normalmente visível na produção, emprego, renda real, e outros indicadores”.
A geração de empregos ficou, em média, em 456.700 vagas por mês na primeira metade do ano, o que está estimulando fortes ganhos salariais. No entanto, riscos de uma recessão aumentaram. A construção e a venda de moradias enfraqueceram, enquanto a confiança de consumidores e empresários piorou nos últimos meses.
Demanda estanca
Os gastos do consumidor, que respondem por mais de dois terços da atividade econômica dos EUA, cresceram a uma taxa de 1,0%. Foi o ritmo mais lento desde o segundo trimestre de 2020 e representou uma desaceleração ante a taxa moderada de expansão de 1,8% do primeiro trimestre.
Os gastos das empresas contraíram, puxados pelo fraco investimento em equipamentos e estruturas não residenciais. Os gastos do governo também se mostraram fracos, refletindo declínio acentuado em despesas não relacionados à defesa.
A Casa Branca está energicamente contestando comentários sobre a ameaça de recessão, conforme busca acalmar cidadãos antes das eleições de meio de mandato, em 8 de novembro, que decidirão se o Partido Democrata, do presidente Joe Biden, manterá o controle do Congresso.
Mercado de trabalho
Um relatório paralelo do Departamento do Trabalho norte-americano mostrou nesta quinta-feira que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego caíram em 5 mil, para leitura ajustada sazonalmente de 256 mil, na semana finda em 23 de julho. Economistas consultados pela Reuters previam 253 mil solicitações para a semana passada.
Os pedidos de auxílio-desemprego continuam abaixo da faixa de 270 mil a 350 mil que economistas dizem sinalizar um aumento na taxa de desocupação. Mesmo assim, a desaceleração do crescimento econômico pode encorajar o Fed a reconsiderar seus robustos aumentos de juros, embora isso dependa do caminho da inflação, que está bem acima da meta do banco central, de 2%.
O Fed elevou na quarta-feira sua taxa de juros em outros 75 pontos-base, levando o aumento total dos custos dos empréstimos desde março para 225 pontos-base. O chair do Fed, Jerome Powell, reconheceu o resfriamento da atividade econômica como resultado da política monetária mais rígida.
Repercussão
“A economia está altamente vulnerável a uma recessão”, disse Sal Guatieri, economista sênior da BMO Capital Markets. “Isso pode desencorajar o Fed a forçar outro grande aumento de juros em setembro.”
Apesar da contração, Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, destaca que o consumo pessoal cresceu 1%, um resultado ainda robusto mesmo com a desaceleração frente ao trimestre anterior. Com isso, segundo ele, nota-se sinais ambíguos sobre a economia, já que o mercado de trabalho também estaria bastante aquecido.
“Mesmo com a queda no PIB, a forte criação de empregos, o desemprego próximo do pleno emprego e o aumento do consumo pelas famílias demonstram que a economia dos EUA não estaria numa espiral recessiva, mas, sim, numa correção de rota após a crise da covid-19”, destaca Sung.
Por fim, este resultado, segundo o economista-chefe da Suno Research, é um indicativo de que alguns setores da economia norte-americana já estão desacelerando, o que pode aliviar a inflação e diminuir o ritmo de aperto monetário do Fed. Porém, de acordo com Sung, pode ser mais uma “dor de cabeça” para a popularidade do presidente Joe Biden.
*Com informações da Reuters
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