Setor de eventos: movimento está se recuperando, mas faturamento ainda é dúvida

Depois de dois anos de paralisações devido à pandemia, o setor de eventos tem voltado às atividades após a liberação das restrições sociais. De acordo com a Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (ABRAPE), espera-se que neste ano 100% da programação de eventos volte ao normal até dezembro, mas ainda é precoce fazer uma estimativa de faturamento porque muitas empresas ainda estão em processo de recuperação. 

Entre as dificuldades da retomada, Doreni Caramori Júnior, presidente da ABRAPE, aponta que, além das empresas do setor ainda estarem se ajustando financeiramente, ainda há o fator mão de obra. “Um dos grandes desafios do segmento atualmente é recuperar essa mão de obra qualificada para manter o padrão de qualidade dos eventos”, o que influencia no desenvolvimento dos projetos e acordo de novos negócios, explica. 

Ele ainda acrescenta que isso vai determinar como será a recuperação do setor até o fim do ano e quais serão as projeções para 2023.

A ABRAPE ainda aponta que a paralisação que atingiu cerca de 97% do setor de eventos (incluindo shows, festas, congressos, rodeios, eventos esportivos e sociais, teatro entre outros), responsável por 23 milhões de empregos. A interrupção das atividades na pandemia, ainda de acordo com a associação, ocasionou a demissão de 450 mil pessoas e a impossibilidade de faturar cerca de R$ 230 bilhões durante o período. 

Agora, a demanda voltou a subir e empresários do setor falam em um mercado “super aquecido” com o retorno da demanda. No segmento de casamentos, por exemplos, muitos noivos que haviam adiado a festa ou o início dos preparativos por conta da pandemia agora voltam a procurar os serviços.

Um dos exemplos é o casal Beatriz Alves Azevedo e Igor Leão, que noivou em dezembro de 2021 (isto é, quando a covid-19 já tinha dado uma trégua). “Depois da pandemia a gente decidiu adiantar o quanto antes”, comenta Beatriz.

Para que eles consigam se organizar com mais tranquilidade e finalizar algumas etapas pessoais, ela diz que o evento foi marcado para 2024 – mas não escondeu a ansiedade que sente. 

Setor de casamentos: a retomada

O InvestNews ouviu profissionais e representantes do setor, que contaram como tentaram driblar as dificuldades durante o período de paralisação das atividades, e relataram como está sendo a retomada. Veja abaixo:

Expo Noivas & Festas retorna após 2 anos

A Expo Noivas & Festas, maior feira do setor de casamentos e debutantes do país, é um exemplo de evento que paralisou devido à pandemia e retornou recentemente à capital paulista. A feira, em sua centésima-sexta edição que aconteceu em setembro em São Paulo, reuniu mais de 120 expositores e mais de 12 mil visitantes. 

José Luiz de Carvalho Cesar, empresário e diretor da Expo Noivas & Festas, conta que o evento surgiu anos atrás, no momento em que a sua esposa percebeu que aquilo era uma oportunidade de negócio. Ele lembra que no início teve prejuízo, mas com organização e planejamento as coisas engrenaram. Por isso, tantas edições aconteceram até hoje. 

Em relação à expectativa de retomada, ele menciona que sente que “as famílias estão precisando voltar a comemorar as suas festas por uma questão de sanidade mental… O sentimento, a vontade existe”. Por essa expectativa sobre a demanda, Cesar se diz esperançoso pela volta dos negócios. 

No entanto, o empresário menciona que “a pandemia destruiu o mercado” enquanto seu efeito não cessava. Ele lembra que, no início da paralisação, muitos eventos foram cancelados ou adiados, então “a primeira mexida do mercado foi ajustar as datas” e as finanças. Agora, segundo o empresário, com o restante da economia reagindo, o setor está em uma fase de ajuste. “O momento é esse, de ajustar as coisas”, comenta. 

Neste ano, o diretor diz que não haverá mais feira em São Paulo, isto porque “não tem mais mercado”, mas no ano que vem, em épocas diferentes, o evento deve acontecer outras duas ou três vezes na capital paulista. Em outubro, haverá uma edição na cidade do Rio de Janeiro. 

Ateliê de vestidos: retomada após costurar máscaras e roupas para pets  

Elienai Almeida, empresária e estilista, é dona de um ateliê de vestidos de festas que leva seu nome e fica em Curvelo (MG). Em 2022, ela resolveu participar pela primeira vez da Expo Noivas & Festas em São Paulo (SP), após passar por dificuldades na pandemia. Sem conseguir fazer atendimentos, ela chegou a demitir toda a sua equipe e teve que costurar máscaras e roupinhas de animais.

“Eu tive que fechar totalmente a minha empresa, dispensei as minhas funcionárias… bordadeiras e costureiras. Não tive como manter. Eu fiquei sozinha“, lembra ela. “Eu fui inventando outras coisas… como eu costuro e faço de tudo, fui atendendo peças avulsas”, explica.

Agora, ela busca retomar as atividades mantendo o serviço exclusivo que oferecia anteriormente. Isso inclui ir até suas clientes para combinar os detalhes de produção, tirar as medidas e fazer as provas, além de comparecer pessoalmente no dia do casamento para vestir a noiva e evitar que qualquer imprevisto aconteça.

“Eu vejo que 90% das minhas clientes fecham comigo por eu estar presente no dia do casamento. Eu acho que transmite muita segurança e tranquilidade, elas não precisam ficar preocupadas”, pontua.

Com a retomada, a empresária comenta que hoje sente que já conseguiu o mesmo número de clientes que tinha antes da pandemia, mas que agora elas parecem estar mais criteriosas e gastando valores mais baixos. 

Da feira, Almeida diz esperar não só número de vendas, mas parcerias com outros lojistas e expansão de negócio a ponto de levar seu nome para São Paulo. Mais a longo prazo, ela deseja focar somente em um nicho de produção de vestidos. “Meu sonho mesmo é ter um segmento só para noivas. Quero conseguir ficar só com as noivas”, ressalta.  

“Eu quero atender da melhor forma, oferecer o melhor produto, poder realizar o sonho das minhas clientes. Eu espero poder realizar o sonho de muitas noivas e que o valor que eu receber seja só consequência de um trabalho bem feito, com muito amor e muita dedicação”, conclui a empresária. 

Confeitaria: produção de pães na pandemia

Lucia Machado, empresária e confeiteira, é proprietária de uma confeitaria intitulada como Lulu Glace Doces Finos, que atende a grande cidade de São Paulo. Nos anos de pandemia, ela atendeu um volume e tamanho de eventos muito menores. Mas houve outra coisa que a ajudou a se manter durante o período: produzir pães artesanais e vendê-los via WhatsApp. 

Felizmente, ela conta que não teve prejuízos porque tem uma cozinha de produção em sua casa. “Eu não tinha compromisso financeiro nessa parte de locação”, pontua. 

Agora, em relação à retomada, a empresária acredita que o mercado está bem aquecido para o segmento de doces. E, para o futuro, ela deseja abrir junto a sócios um centro de casamento que atenda vários serviços.

Ela explica que a empresa tem um catálogo que serve como sugestão, mas que também faz serviços personalizados. Segundo Machado, os clientes podem fazer mudanças nos doces, o que significa alterar os sabores, tipos de chocolates e recheios. “A nossa ideia é fazer com que eles tenham um carinho maior com os doces, assim como eles tem para todo o resto, como decoração e buffet”, comenta. 

A empresária explica que, fazendo esses ajustes, os doces não são mais dela, e sim do casal. “Dificilmente o convidado vai comer o mesmo doce em outra festa… então isso faz com que o momento fique marcado”, acrescenta. 

Assessoria: ‘voltando com tudo’ após fechar as portas

Fabricia Leite, empresária e especialista em eventos sociais, é proprietária da empresa de assessoramento de festas SF Assessoria e Cerimonial, que atende em diversas cidades do estado de São Paulo.

Ela conta que no início da paralisação, ocasionada pela pandemia, precisou fechar as portas. “Eu tive que ficar parada, não teve jeito”, diz. Além disso, a empresária também menciona que teve cancelamentos e desistências de contratos. 

Leite explica que, durante essa fase, em que também ficou doente, só conseguiu se manter devido ao apoio de seu marido. 

Quando foi iniciada a vacinação contra covid-19 no país, ela conta que conseguiu retomar aos poucos o seu negócio e que, agora em 2022, está “voltando com tudo”. A empresária diz que sente o mercado muito aquecido. 

Para o futuro, ela deseja fazer ainda mais parcerias, montar mais equipes e fazer mais workshops. Leite ainda lembra que, apesar de seu serviço ser novo no mercado, ele é muito importante. “A gente trabalha com sonhos, é um investimento muito alto para deixar na mão de qualquer pessoa. É sonho, se tiver um erro não tem como voltar atrás.”