À espera do 2º turno das eleições presidenciais no Brasil, investidores se preparam para o que pode acontecer com as aplicações de diversos setores do mercado de capitais. No caso do agronegócio, especialistas apontam que, se o mesmo governo permanecer, é esperada uma continuidade da política econômica, o que justificaria prosseguir com o incentivo à área. Agora, com a troca do governo, sem conhecimento claro do plano econômico, eles mencionam que o contexto para o agronegócio seria questionável.
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, afirma que, no caso de reeleição de Jair Bolsonaro (PL), é viável haver mais estímulos para o agronegócio porque há grande representatividade do setor nos planos de governo. Por outro lado, com a entrada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele acredita que deverá haver maior incentivo às estatais, portanto fica “questionável o ‘se’ e ‘como’ vai chegar [estímulos] na ponta para o médio produtor”.
“Não se vê, pelo menos a curto prazo, que o ex-presidente [Lula] seja um entusiasta do setor e que vai olhar com a mesma atenção que o atual presidente [Bolsonaro]”, menciona Alves.
Na mesma linha, Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, avalia que, numa eventual reeleição de Bolsonaro, já conhecendo a forma do atual presidente governar o país, o agronegócio ficaria mais forte em vista do plano de governo estar visando a modernização do setor.
Já no caso da eleição de Lula, mesmo havendo no plano de governo do candidato uma menção a intenção de modernizar a área, é mais difícil prever quais propostas devem se concretizar porque o ex-presidente ainda não divulgou a sua equipe de governo, segundo Gonçalvez. Além disso, para ele, algo que poderia limitar o setor seria a perspectiva de que Lula poderia impor limites à exportação de carne.
Para Francisco Turra, presidente do Conselho de Administração da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (APROBIO), área importante para o agronegócio, independente do vencedor, espera-se que o governo eleito substitua o combustível fóssil por renovável, o que influenciará positivamente tanto para o setor de energia quanto para o agronegócio.
Investimentos em agro: antes do 2º turno
“Em ambos os cenários, o ideal é diversificar o seu patrimônio em diversos setores. Em caso de reeleição [do Bolsonaro], o investidor pode até se expor um pouco mais no setor [do agronegócio]. Caso o Lula seja eleito, outros setores devem se beneficiar mais, como educação e varejo”, opina Gonçalvez, da Box Asset Management.
Na mesma linha, Alves, da Ação Brasil, diz que, “no caso de reeleição do Bolsonaro, a gente vai ter um cenário de incentivos ainda maior. Vamos ter uma flexibilização na legislação ambiental visando estimular o agronegócio e muito foco em crédito via setor privado, como já está acontecendo hoje tanto via mercado local quanto via investidores estrangeiros”.
Bolsonaro: o que ele planeja para o agronegócio?
No plano de governo de Bolsonaro, um dos tópicos descritos é “economia, tecnologia e inovação”, em que há um trecho voltado para a agropecuária e mineração.
No texto, é mencionada a necessidade de promover uma evolução tecnológica, de modo que aumente a produtividade sem a necessidade de aumentar as áreas produtivas. Isto em vista de que há um interesse de que as safras continuem crescendo “sem causar desmatamento, sem danos ao meio ambiente”, segundo o documento.
Para que isso aconteça, é prometido o estímulo a empresas e da bioeconomia – ciência que estuda novos modelos de produção com propósitos de que eles sejam mais sustentáveis.
“O governo fortalecerá a promoção de sistemas sustentáveis de produção de alimentos e a implantação de práticas agrícolas que aumentem a produtividade e a produção, mantendo os ecossistemas e a capacidade de adaptação às mudanças do clima, melhorando progressivamente as oportunidades de geração de emprego e renda dos produtores rurais, especialmente dos pequenos e médios produtores e dos agricultores familiares”, pontua o texto.
O plano de governo ainda menciona que haverá especial atenção aos Programas de Defesa Agropecuária, “dos quais dependem tanto a saúde humana, a contínua expansão da produção agropecuária brasileira e o acesso competitivo aos mercados externos” e que se deve aumentar a produção nacional de fertilizantes.
Lula: o que ele planeja para o agronegócio?
No plano de governo de Lula, um dos tópicos é “desenvolvimento econômico e sustentabilidade socioambiental e climática”, no qual se discute o agronegócio.
O texto menciona necessidade de cuidar das riquezas naturais do país, de modo que haja uma produção e consumo sustentável que contribua para combater a crise climática.
“Somaremos esforços na construção de sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis e no avanço da transição ecológica e energética para garantir o futuro do planeta, apoiando o surgimento de uma economia verde inclusiva, baseada na conservação, na restauração e no uso sustentável da biodiversidade de todos os biomas brasileiros”, pontua o plano de governo.
Para que isso ocorra, a proposta é “recuperar as capacidades estatais, o planejamento e a participação social fortalecendo o Sistema Nacional de Meio Ambiente e a Funai”.
O texto ainda fala em estabelecer uma política nacional de abastecimento, que inclui a retomada dos estoques reguladores e a ampliação das políticas de financiamento e de apoio à produção de alimentos.
O programa fala em fortalecer e modernizar a estrutura produtiva por meio da reindustrialização, com foco na produção agropecuária. “A principal missão da política industrial será promover o engajamento da indústria na transição tecnológica, ambiental e social”, diz o texto.
Outro item que a proposta de governo menciona é: comprometimento com a soberania alimentar, “por meio de um novo modelo de ocupação e uso da terra urbana e rural, com reforma agrária e agroecológica”.
Agronegócio no Brasil
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estimam que a participação da agronegócio no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil seja por volta de 25,5% em 2022, pouco abaixo dos 27,5% registrados em 2021.
As instituições apontam que no 1º semestre deste ano, comparado com o mesmo período no ano anterior, houve uma queda de 2,48% da participação do agronegócio no PIB do país. O atual percentual avaliado nos seis primeiros meses de 2022 equivale a R$ 63 bilhões, sendo R$ 12 bilhões do setor pecuário e R$ 51 bilhões do setor agrícola.
Para os pesquisadores do Cepea, esse resultado negativo no período “está atrelado em grande medida à forte alta dos custos com insumos no setor, tanto na agropecuária quanto nas agroindústrias”.
Por outro lado, quanto aos dados da exportação brasileira do agronegócio, de acordo com o Ministério da Agricultura, pecuária e outros, no período acumulado entre janeiro e setembro de 2022, o envio de produtos para fora somaram US$ 122,07 bilhões, o que representou um incremento de 30,5% na comparação com o mesmo período em 2021.
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