Lula foi eleito após fazer uma campanha que propõe medidas como revogação do teto de gastos e zerar o Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Especialistas apontam que a situação fiscal é a principal preocupação, mas acrescentam que ainda é cedo para prever mudanças – especialmente enquanto ainda se aguarda o anúncio dos nomes que irão compor a equipe econômica do novo governo.
Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, diz que “a grande expectativa do mercado financeiro agora é em relação à questão de planos econômicos, divulgação de possíveis ministros e a percepção em relação à questão de gastos. Esse é um dos pontos mais importantes agora.”
Mas, independente do cenário e dos nomes escolhidos para a equipe econômica, o economista Roberto Luis Troster afirma que o governo Lula “tem três nós importantes para desamarrar”.
“O primeiro são as contas públicas. É um nó difícil. São muitos gastos, vai precisar de uma reforma tributária e uma fiscal. O segundo nó são as próprias reformas. Tem que fazer reformas se o Brasil quiser avançar um pouco mais. E o terceiro nó é um projeto de país. Mostrar para onde a gente vai seguir não só nos próximos 4 anos, mas nos próximos 10 anos, 12 anos”, diz Troster.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini avalia que, por mais que haja incertezas sobre a equipe econômica, não há “espaço para um ‘cavalo de pau’ na economia brasileira, até porque a economia vai estar blindada por conta de um Congresso mais alinhado à direita”.
“Primeiro ano de governo sempre é para negociações com o Congresso e ver o que pode ser feito. Não tem muitas expectativas de alguma medida do novo governo de Lula”, diz o economista.
Vieira, da Infinity Asset, acrescenta que “temos que lembrar que o governo Lula não vai ser um governo com apoio do Congresso”. “O Congresso em si quebrou o paradigma do presidencialismo de coalizão, com a criação do chamado Orçamento de Parlamentar, ou seja, dos tais ‘orçamentos secretos’. Tirou muito poder do Executivo.”
O economista diz que “precisa-se entender como será um governo Lula com poderes limitados, principalmente com a oposição ao governo dele literalmente dominando as duas casas.”
Cenário externo
Agostini comenta que “o principal desafio do Brasil não vai ser o novo governo, que vai mudar ou não o que está em curso, mas sim o cenário internacional, que pode trazer um desafio muito grande – aliado, claro, às necessidades de colocar as contas fiscais em ordem.”
Também comentando o cenário externo, Troster aponta expectativas que devem beneficiar o cenário econômico para o Brasil em meio à mudança de governo. “O setor externo para o novo governo, apesar de tumultuado no resto do mundo, se mostra positivo para o Brasil. Os preços das commodities acima do patamar histórico anterior à pandemia, taxa de juros, apesar da alta, abaixo da média histórica e os mercados bursáteis favoráveis (bolsa de valores) ao Brasil.”
O economista acrescenta: “a projeção é que tenha uma supersafra no ano que vem. Mais produtos exportados e com preços mais caros, são mais dólares entrando para a economia brasileira.”
26/10/2022 REUTERS/Carla Carniel