A área da construção civil é uma alavanca da economia brasileira, com a geração de empregos e renda, no entanto, as previsões para o próximo ano não são tão positivas, de acordo com representantes das empresas do setor.
“Nós não devemos ter um cenário muito animador em 2023, vai ser um ano de arrumação, independente do governo que fosse eleito. Vamos ter um ano com muitos desafios, vai ser um ano de muito trabalho, muita dificuldade e muita discussão, mas vamos chegar no fim do ano como chegamos ao fim de todos os outros.”
Odair Senra, presidente Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de SP
O setor da construção civil no Brasil mostra uma desaceleração para 2023 e a taxa de crescimento anual deve ser de 2,4%, de acordo com a previsão da Faculdade Getúlio Vargas (FGV). O índice do PIB da construção é inferior ao estimado neste ano de 7% e do medido em 2021, que foi de 10%.
O PIB da construção civil é um indicador útil para medir o desenvolvimento do segmento ao longo de um ano, que também pode ser comparado a outros resultados econômicos. O índice engloba tanto a construção formal (construtoras e incorporadoras) e o segmento informal (obras de reforma, autoconstrução e pequenos empreiteiros).
O que esperar do setor da construção em 2023?
Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Odair Senra, a construção civil é um setor que depende demais do estado e da economia brasileira, o que indica uma necessidade de financiamento grande, que requer alinhamento do crescimento econômico menos volatilizado do que o observado nos últimos anos.
E as mudanças políticas, econômicas e fiscais, que ocorrem com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), geram ainda mais incerteza para o setor.
“Houve um choque nas expectativas no fim deste ano de quase 9%. As sondagens da FGV, em novembro deste ano, refletiram uma deteriorização muito grande das expectativas tanto dos consumidores quanto empresarias. Sem dúvida isso está relacionado com o período de transição e incerteza que o período sempre carrega.”
Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV/Ibre
Um dos motivos da desaceleração do ritmo do PIB da construção de 2023 é a diminuição do rendimento das famílias, com elevado endividamento, além de questões fiscais. Apesar disso, o índice continua crescendo com o mercado imobiliário formal.
Como ficou o desempenho da construção civil em 2022?
A taxa acumulada dos últimos 12 meses do PIB da construção foi de 8,8% no último trimestre de 2022. O índice está com crescimento acima da economia há cinco trimestres consecutivos.
“É um crescimento bastante significativo principalmente quando consideramos que a taxa de 2021 foi revista para cima passando de 9,7 para 10%. Então estamos falando de um crescimento acima de uma base alta de 2021, mas ao mesmo tempo a gente vê uma desaceleração no ritmo de crescimento. A construção está crescendo em um ritmo superior ao da economia e da própria indústria”, afirmou Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV/Ibre.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice de ocupação no terceiro trimestre do ano foi de 8,7% em comparação ao mesmo período do ano anterior. E o rendimento médio real teve um crescimento de 5,8%.
O número de pessoas com 14 anos ou mais ocupadas no setor no último trimestre, entre agosto e outubro, era de 7.404 trabalhadores, uma variação de -0,2% em comparação ao mesmo período de 2021. O saldo líquido de emprego formal no Brasil na área de construção foi de 242.348 pessoas em 12 meses, finalizado em outubro de 2022, uma alta de 10,3%.
Dados da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB) mostram que a estimativa de investimentos com infraestrutura no Brasil deve crescer em 2022 para R$ 163 bilhões, sendo R$ 131,1 bilhões de investimentos privados e R$ 31,9 bilhões de investimentos públicos.
“Sabemos [investimentos] estão muito abaixo das nossas necessidades na infraestrutura, mas o que importa é o ciclo do crescimento nos últimos dois anos”, disse Ana Maria.
A perspectiva do crescimento do PIB da construção em 2022 foi revista para cima, em 7%. Antes, a previsão inicial de crescimento era de 2% neste ano.
Crescimento acima do esperado
Para o SindusCon-SP, a construção civil trabalhou durante a pandemia, mas a pandemia modificou substancialmente a questão produtiva de todos os setores, e a produção passou a
ser mais regionalizada do que antes.
Apesar do cenário adverso, o crescimento do PIB da construção ficou acima do esperado.
“As taxas de juros baixas mostraram que o imóvel ainda é um atrativo, um porto seguro dos investimentos, houve um desencanto com a rentabilidade do mercado financeiro. Tivemos um cenário bastante expressivo em 2022 mesmo com a taxa de juros alta, com desemprego e menos renda disponível para as famílias.”
Odair senra
Já Ana Maria Castelo, do Ibre da FGV, diz que a inflação alta na primeira metade de 2022 reajustou os salários que se transformou em ganho real no fim do ano. Ela destaca que entre os meses de janeiro e setembro, a venda de imóveis novos cresceu 7,9% ante o mesmo período de 2021. Já a comercialização das unidades econômicas teve queda de 1,2% no mesmo período, e os lançamentos cresceram 4,3%, sendo que 0,6% de alta no segmento econômico.
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