O ano de 2023 já começou confirmando que o Brasil não é mesmo para amadores. Em uma semana passamos do cenário harmônico e desejável de um novo governo federal que tem representantes da diversidade do povo brasileiro subindo a rampa, na posse do Presidente Lula, em 01 de janeiro, para o cenário de guerra da tentativa de golpe. O plot twist não apaga, entretanto, o início promissor dessa gestão – que coloca as diferenças da população – simbólica e concretamente – no protagonismo da posse.
Além da imagem da rampa, o primeiro escalão do governo que se inicia mostrou um avanço considerável em relação ao anterior, com recriação e criação de ministérios em que as políticas públicas de ações afirmativas, de equidade de gênero e raça, a distribuição de renda, a valorização de questões ambientais e das pessoas são centrais, num realinhamento prático com a agenda ESG. Este movimento histórico traz para a cena nacional ministérios como o da Igualdade Racial, das Mulheres, Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Povos Indígenas e Meio Ambiente,
Essa mudança converge e encontra lastro nas tendências internacionais de mudanças, inclusive para o setor privado. A 17ª edição do estudo “A Governança Corporativa e o Mercado de Capitais”, um lançamento do ACI Institute Brasil, revela que 29% das empresas abertas brasileiras ainda apresentam conselhos sem presença feminina e que as mulheres representam 16% dos cargos em conselhos de companhias abertas. Na edição anterior do mesmo estudo, as mulheres nesses cargos eram 14%. O avanço é pequeno, mas ele existe e a necessidade de que se amplie segue se consolidando.
Em relação a conselhos de administração, por exemplo, esse mesmo estudo aponta que 71% das empresas abertas têm ao menos uma mulher no conselho de administração, quando eram 63% no ano anterior, com tendência de crescimento. Em relação às pessoas negras, o Perfil Social, Racial e de Gênero do Instituto Ethos indica que quanto maior o cargo, menor é a presença de pessoas negras, que estão em menos de 5% dos cargos executivos e dos conselhos de administração.
São levantamentos que demonstram a necessidade de ampliação da diversidade e da renovação dos conselhos. A rede global do ACI Institute, em conjunto com o Board Leadership Center da KPMG, destacou nove temas significativos a serem considerados à medida que os conselhos elaboram e executam suas agendas para 2023, dos quais destaco três:
- Manutenção das questões do ESG, incluindo o risco climático e as questões em DE&I (Diversidade, Equidade e Inclusão), nas discussões — abrangendo o planejamento estratégico e os riscos corporativos — e monitorar o desenvolvimento regulatório no Brasil e no mundo;
- Definir claramente se e quando o CEO deve se posicionar sobre questões sociais;
- Pensar de forma estratégica sobre as questões de talento, especialização e diversidade no conselho de administração.
Nesse contexto, até surpreende que ainda sejam identificadas vozes na contramão das tendências globais e nacionais. Como Conselheiro Administrativo (formado pelo IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), me chama atenção, posicionamentos como o de Tallis Gomes (G4 Educação, Singu – Easy Taxi), em um vídeo postado no Instagram em 3 de janeiro, expondo o que chamamos de Diversity Washing – termo cunhado por Liliane Rocha na obra “Como ser um líder inclusivo”.
Com um alcance de mais de 1 Milhão de pessoas em suas redes sociais, o vídeo de Tallis Gomes se mostra contrário ao cenário contemporâneo. Integrante de conselhos, se essa visão faz parte de sua atuação – levando em conta os estudos mais atuais e a conjuntura política – induz as empresas ao retrocesso, ao passado, pois reproduz discurso de oligarquias coloniais, diametralmente contra o novo modelo da economia.
Outro caso, bastante preocupante e que merece um debate sério, é em relação à Americanas, além da fraude contábil destacamos ainda a prática perversa de adiar pagamentos, prejudicando a cadeia de fornecedores, de forma deliberada, causando prejuízos a toda cadeia. Em entrevista à BBC Brasil, o consultor André Pimentel, sócio da consultoria Performa Partners, afirma que a Americanas, “historicamente, já de muitos anos, traz essa cultura de apertar fornecedores para maximizar a rentabilidade” e acrescenta, como exemplo, que “enquanto o mercado pratica prazos de 30 a 90 dias para pagamento aos fornecedores, a Americanas chegava a 120, 180 dias para pagamento”.
Nesse mesmo Brasil em que visões tão opostas emergem, em que temos o fortalecimento de ações públicas e privadas na cultura ESG, além de uma atenção maior para o público a ser contemplado por iniciativas correlatas, vemos falas como a do Tallis Gomes e a situação gravíssima em que se encontra a Americanas. Esta última também demonstrando desalinhamento com o S de Social e o G de Governança. Por conta da situação atual da empresa, já aconteceu sua exclusão do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e do Ibovespa.
Devido a todos os pontos levantados inicialmente, a sociedade de seguir alinhada com a agenda ESG, apoiando e promovendo ações concretas como o programa Construindo um Futuro Digital no Metaverso, que é uma parceria Movimento Black Money e Meta.
Essa iniciativa visa capacitar jovens e adultos para aproveitar as crescentes oportunidades na Web3, seja como novos profissionais ou empreendedores num mercado em que a média salarial dos profissionais de tecnologia cresceu 29% em um ano, enquanto o Brasil é o 9° país com maior dificuldade em preencher vagas de profissionais na área. As inscrições estão abertas, e o melhor, são gratuitas.
Que possamos, através da agenda ESG e da manifestação popular, realizar ações para efetivamente combater a contradição interna do sistema capitalista, que faz com que os trabalhadores sejam produtores de tudo por meio de sua força de trabalho, mas excluídos do sistema de educação, saúde, segurança e de programas estratégicos para alcançar a equidade.
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