Campos Neto: ‘não acho que mudar as regras seja bom’

Em evento capitaneado pelo BTG Pactual, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, falou sobre a atual política monetária do Brasil, que vem sendo questionada pelo atual mandatário do país. 

Segundo Campos, “não estamos em um período bom para experimentar, mas sim, para melhorar a credibilidade do país”. O presidente do BC se referia ao sistema de metas da inflação após rumores que a instituição teria proposto o aumento destas. 

Na véspera, em entrevista ao programa Roda Viva, Campos Neto afirmou que o BC não propôs ao governo um aumento da meta de inflação para ganhar flexibilidade na política monetária.

“Não acho que mudar as regras seja bom; a regra do jogo é que que quem determina a meta é o governo e o BC segue a meta e opera dentro dos instrumentos pra persegui-la.”

De acordo com o presidente do BC,  quando a inflação está alta, é comum que as autonomias dos Bancos Centrais sejam desafiadas, inclusive em países desenvolvidos. “No entanto, quando se analisa os 10 princípios básicos da constituição nos países, um deles é não mexer com a autonomia [dos Bancos Centrais]”. 

Para o presidente da autarquia, é justo questionar o juro alto e faz parte o debate sobre o real motivo. Segundo ele, o Banco Central deveria melhorar a sua comunicação, reconhecendo que isso deveria ser feito de forma mais frequente e didática.

“Acho que o governo está na direção certa, falar de juros é natural, estamos caminhando nessa direção, e o BC está à disposição para explicar o que precisa ser explicado”.

Campos também fez aceno ao trabalho de Haddad frente à pasta e que é preciso ter mais boa vontade com o atual governo, já que 45 dias é pouco tempo para tantas cobranças. 

“O investidor é muito apressado, muito afoito, e precisa ter mais boa vontade com o governo. Acho que o ministro Haddad tem uma enorme boa vontade dado ter sinalizado que vem sendo trabalhado um arcabouço, que vem sendo seguido um plano fiscal com disciplina, então precisamos ter um pouco mais de boa vontade”.   

No entanto, Campos alerta que é preciso olhar para um ciclo um pouco mais longo [da inflação]. 

Perguntado sobre se haverá debate sobre as metas de inflação na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) marcada para esta quinta-feira (14), Campos Neto disse que será preciso aguardar para ter essa resposta, ressaltando que a prerrogativa de pautar e definir o tema é do governo, mesmo que o BC tenha aperfeiçoamentos a propor.

O CMN é composto pelo presidente do BC e os ministros da Fazenda e do Planejamento, o que significa que o governo tem dois dos três votos para a tomada de decisões no comitê.