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Finanças

Após número de influenciadores de finanças dobrar, B3 e edutech criam curso

Enquanto isso, CVM discute a criação de um regulamento para os comunicadores.

O número de influenciadores de finanças mais que dobrou do 1º para o 2º semestre de 2022. Especialistas comemoram que assuntos sobre o mercado financeiro sejam mais difundidos, mas se preocupam também com o repasse de informações erradas. Essa preocupação também chegou à Comissão de Valores Imobiliários (CVM), que discute a criação de um regulamento, enquanto a bolsa brasileira, a B3, lançou em parceria com a edutech Melver um curso para influenciadores digitais de finanças.

As aulas miram tanto os interessados em começar a falar sobre finanças na internet quanto influenciadores que já são da área. O curso pretende ensinar como atuar no mercado digital para falar sobre finanças. As aulas serão gratuitas e ocorrerão virtualmente ao longo de 12 meses. A trilha de aprendizado será dividida em quatro áreas: marketing digital; bolsa de valores; estratégias de vendas; ética, boas práticas; e regulamentação.

Influenciador. (Foto: Freepik)
Influenciador. (Foto: Freepik)

“Os alunos aprenderão sobre personal branding, criação de conteúdos, regulação, análise fundamentalista, análise técnica, copywriting, vendas no perpétuo e como criar um curso on-line”, escreveu a Melver em nota.

De maneira geral, especialistas veem a iniciativa com bons olhos. Para Sillas Cezar, professor do curso de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), ações institucionais que promovam a melhoria da informação sobre a economia, de modo geral, e finanças, em particular, são sempre bem-vindas. “A B3, a propósito, já promove essas iniciativas há um bom tempo, e tem colhido resultados positivos disso”, pontua.

Da mesma forma, Carla Beni, professora de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta que é importante que haja esse tipo de formação no mercado, para evitar que informações erradas sejam repassadas.

“Ações pautadas em educação financeira ou educação de como atuar no mercado digital… se estiverem associadas à B3 ou se tiverem a chancela da CVM, são muito válidas e importantes”. 

carla beni, professora da fgv

Um estudo da Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) revelou que o número de influenciadores da área de finanças mais que dobrou do 1º para o 2º semestre de 2022, de 255 para 515.

O levantamento também mostrou que esses porta-vozes de finanças são responsáveis por 1.257 perfis nas redes sociais e no YouTube e conversam com 165,7 milhões de seguidores no total das plataformas (alta de 76% em relação ao período anterior). 

Juntos, eles produziram 276,8 mil publicações (47,2% a mais do que no levantamento anterior). Além disso, os influenciadores somaram 1.489 mil interações médias – medidas por curtidas, compartilhamentos e comentários – no segundo semestre do ano passado (alta de 10% frente aos primeiros seis meses do ano). 

Qual o problema do crescimento dos influenciadores de finanças? 

Cezar, da FAAP, explica que um dos problemas do crescimento de influenciadores de finanças é que, muitas vezes, eles não estão preparados para informar o público. “É importante pensar que a qualidade das informações desses novos canais é, em média, muito mais superficial e sujeita a erros do que nas mídias tradicionais. Primeiro porque eles, em geral, não possuem equipes de investigação, segundo porque nem sempre contam com qualificação jornalística adequada para lidar com as informações”, diz. 

“O principal problema é que, diferente das mídias tradicionais que ao menos buscam isenção nos tratamentos das informações, esses canais tendem a direcionar ao seu público somente as informações que geram engajamento, o que deturpa o processo de comunicação social e deteriora a compreensão geral sobre o tema.”

Sillas Cezar, professor do curso de Economia da faap

Na mesma linha, Beni, da FGV, aponta que o maior problema é a falta de conhecimento por parte de muitos que iniciam no mercado digital. “A maioria tem um baixo preparo para isso, não tem formação, não tem estudo o suficiente para poder dar esse tipo de orientação”, comenta.

Regulamento para influenciadores de finanças

Com a ampliação do número de pessoas falando na internet sobre o mercado financeiro, a CVM incluiu na agenda regulatória deste ano o tema “influenciadores digitais” para consulta pública, a fim de discutir a criação de um regulamento para a classe de comunicadores. Ainda não há data para audiência e nenhum exemplo de regulamentação prevista foi divulgado. 

“Acho importante a CVM se deter nisso, afinal uma de suas missões institucionais é ‘desenvolver’ o mercado de capitais. Coibir a disseminação de informações imprecisas é fundamental. Sendo mais específico, entendo que a CVM deve sinalizar como desacreditados aqueles canais que omitem informações sobre os custos e riscos envolvidos nas operações financeiras. Aqueles canais que ‘vendem ilusão’ devem ser fortemente desacreditados.”

Sillas Cezar, professor do curso de Economia da faap.

Do mesmo modo, Beni, da FGV, menciona que “a iniciativa da CVM para começar a regular esse tema é muito relevante, precisa acontecer”. Mas ela acrescenta que os usuários de redes sociais que procuram por influenciadores de finanças também precisam se atentar ao que consomem. “As pessoas também precisam começar a entender que elas devem procurar consultores especializados, registrados, com certificados específicos”, diz.  

O que pensam os influenciadores de finanças

Júlia Abi-Sâmara (As Investidoras)

“O discurso que os influenciadores usam no mercado financeiro… acaba fugindo muito da realidade do que é de fato investir“, diz Júlia Abi-Sâmara, influenciadora digital de finanças focada para o público feminino, do portal “As Investidoras”, sobre grande parte dos colegas de profissão. 

Ela ainda comenta que, hoje em dia, existem muitas pessoas na internet fazendo “promessas milagrosas”, oferecendo “ganhos muito acima do que as pessoas vão de fato conseguir” e vendendo “investimentos que são mais arrojados como se fosse um ganho certo e como se não tivesse risco na operação”. 

“Eu sou a favor de ter algum tipo de regulamentação porque eu acho que tem muita gente ruim no mercado e tem muita gente fazendo o que não podia estar fazendo.”

Júlia Abi-Sâmara, influenciadora digital de finanças.

Falando sobre a sua atuação, Abi-Sâmara conta que começou a ensinar sobre finanças sem a pretensão de se tornar uma porta-voz do tema no mercado digital. “O projeto ‘As Investidoras’ começou antes do Instagram. Então eu passei um ano mais ou menos dando aulas presenciais para mulheres, aulas gratuitas. Eu fazia como um projeto social”, diz. 

Ao criar a conta na rede social e começar a se empenhar para monetizar o projeto, ela menciona que seu crescimento na plataforma foi gradual. Segundo Abi-Sâmara, algo que ajudou na visibilidade foi o período em que ela trabalhou sem expectativa de retorno financeiro. 

“A minha audiência foi crescendo muito gradualmente, e eu percebi que ela cresceu muito por indicação no boca a boca”, comenta. “O que eu percebi é que esse período, fazendo isso como um projeto social, fez com que as pessoas confiassem muito no meu trabalho e percebessem que era muito genuíno o que eu estava fazendo. Eu realmente não tinha nenhuma intenção financeira”, acrescenta. 

Yolanda Fordelone (Econoweek)

“O que a gente mais tem percebido hoje em dia é o surgimento de golpes”, diz Yolanda Fordelone, influenciadora digital de finanças focada em renda fixa, do portal Econoweek. “Quando surge um golpista, falando qualquer asneira, vendendo curso… as pessoas acreditam que vão ter rendimento [por exemplo] de 20% em um mês”, argumenta. 

Para a influenciadora, “é uma responsabilidade muito grande falar de um assunto que vai influenciar o futuro das pessoas”, por isso ela conta que trabalha em uma linha mais voltada para a educação financeira. 

“As pessoas querem respostas fáceis, respostas diretas. O grande desafio como criador de conteúdo é dar as ferramentas para as pessoas… e fazer elas entenderem o porquê elas estão juntando dinheiro.” 

Yolanda Fordelone, influenciadora digital de finanças.

Ela ainda conclui que “se a pessoa não tiver um objetivo muito claro, uma meta muito bem definida… de nada adianta conhecer o produto financeiro porque ela vai desistir no meio do caminho. A gente sabe que é um sacrifício”.

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