As taxas dos contratos futuros de juros com prazos longos fecharam a segunda-feira (8) em alta firme, com investidores reagindo negativamente ao anúncio de que o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, será indicado para a diretoria de Política Monetária do Banco Central.
Entre os vencimentos de curto prazo, as taxas cederam após o anúncio, mas terminaram a sessão muito próximas da estabilidade.
O anúncio foi dado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no início da tarde. Galípolo é o braço-direito de Haddad no ministério e, no Banco Central, ocupará a diretoria mais prestigiada, tornando-se na prática o número dois da autarquia, abaixo de Roberto Campos Neto.
Com a informação circulando nas mesas, a curva a termo passou por um processo de inclinação: as curtas cederam um pouco, enquanto as longas aceleraram as altas.
Por trás do movimento está a percepção de que Galípolo, como diretor, pode elevar a pressão para que o Comitê de Política Monetária (Copom) corte a taxa básica Selic, hoje em 13,75% ao ano.
“O fechamento das taxas mais curtas mostra uma reação ao Galípolo, mas as longas abrem com a possibilidade de um erro na política monetária. Ou seja, é a ideia de que corta agora e sobe lá na frente”, resumiu durante a tarde Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos.
Além de Galípolo, Haddad anunciou que Ailton de Aquino Santos ocupará a diretoria de Fiscalização do BC. A diferença é que Santos já faz parte do quadro do Banco Central e ocupará uma diretoria que, tradicionalmente, é comandada por servidores de carreira.
No Copom, em um grupo de nove pessoas que definem a Selic –incluindo Campos Neto– duas delas passarão a ser indicações do novo governo. Pela Lei de Autonomia do Banco Central, Lula poderá indicar mais dois diretores no início de 2024 e trocar o presidente do BC no início de 2025, além de outros dois diretores. Na prática, os indicados de Lula passarão a ser maioria na cúpula do BC em 2025.
Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, a indicação de Galípolo eleva a pressão por cortes da Selic.
“Galípolo vai entrar na diretoria do BC com o objetivo claro de tentar antecipar o movimento de corte de juros. Então, a preocupação é justamente com uma mudança no balanço de forças dentro do BC na direção de uma maior leniência com a inflação”, comentou Rostagno.
“Após o anúncio, o contrato para janeiro de 2025 passou a cair e a parte longa da curva, como no caso do janeiro 2029, ampliou a alta”, acrescentou.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,68%, ante 11,71% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 11,4%, ante 11,371% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,56%, ante 11,474%. A taxa do DI para 2019 fechou em 11,96%, ante 11,85%.
Perto do fechamento, a curva a termo precificava 21% de chances de o Banco Central reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual no encontro de política monetária de junho e 79% de probabilidade de ele manter a taxa em 13,75% ao ano, patamares próximos aos observados na sexta-feira.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries subiam no fim da tarde, com investidores reduzindo a busca de proteção dos títulos norte-americanos em meio ao otimismo com o setor bancário.
Às 16:56 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– subia 6,90 pontos-base, a 3,5148%.
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