A varejista Magazine Luiza (MGLU3) reportou ao mercado na noite de segunda-feira (15) um prejuízo líquido ajustado de R$ 309,4 milhões referente ao 1º trimestre de 2023. A cifra é bem maior do que os R$ 98,8 milhões reportados em igual período um ano antes. Maiores despesas financeiras e alta taxa de juros são a justificativa pelo resultado, segundo a companhia.
A repercussão no mercado foi negativa, com a ação despencando mais de 22%. Para analistas do Santander, BTG Pactual, Itaú BBA e Genial Investimentos, os números vieram abaixo das expectativas. Nesta terça-feira (16), as ações da empresa operam em forte queda na bolsa, chegando a despencar mais de 16% na mínima do dia até agora.
Sem ajustes por fatores não recorrentes, como impactos tributários, o prejuízo líquido foi de R$ 391,2 milhões, em comparação à perda de R$ 161,3 milhões no primeiro trimestre do ano passado.
Análises
Segundo a Genial Investimentos, ao somar o efeito de uma receita menor, rentabilidade mais baixa e despesas financeiras maiores que o estimado, “a companhia reportou um prejuízo líquido duas vezes maior que a estimativa, com uma margem líquida negativa em 4,3%”.
Para o Itaú BBA, o mercado continuará aguardando uma recuperação mais concreta da rentabilidade e uma recuperação total da varejista “ainda pode demorar”.
O BTG, por sua vez, apontou que os resultados mais fracos do que o esperado foram impulsionados por pressões macro, mas que desde o ano passado esperava-se que os números também fossem impactados pelo crescimento mais lento das vendas online dada a exposição a categorias altamente cíclicas, como eletroeletrônicos e eletrodomésticos (o que aponta para margens menores), além dos resultados da Luiza Cred e maior custo de captação para desconto de recebíveis.
O resultado financeiro da companhia ficou negativo em R$ 632,4 milhões, 49,8% mais alto do que o registrado um ano antes.
Os analistas Luiz Guanais e Gabriel Disseli, do BTG, ainda pontuaram que, apesar da migração de vendas da Americanas, o modelo de negócios multicanal e os possíveis cortes na Selic não serão suficientes para conter “os ventos contrários após os números reportados mais fracos que o esperado no primeiro trimestre”.
No entanto, a evolução da lucratividade deve ser a chave para o desempenho das ações nos próximos trimestres, segundo relatório.
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Desempenho das ações MGLU3
No acumulado deste ano, os papeis da varejista registravam alta de 59,86% até o fechamento do pregão da segunda-feira (15) – ou seja, antes da forte queda desta terça.
Segundo o TradeMap, ainda assim, as ações MGLU3 estão entre as maiores altas do Ibovespa no ano. IRB Brasil (IRBR3) e Grupo Ultra (UGPA3) acumulam as maiores altas antes da varejista, de 45,5% e 36,68%, respectivamente.
O balanço nos detalhes
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado subiu 3,2% em relação ao ano anterior, para R$ 448 milhões. A margem Ebitda ficou em 4,9% no trimestre, contra 5% um ano antes.
Em relatório, o Santander pontuou que o Ebitda ficou 10% abaixo do consenso dos analistas principalmente devido às despesas de vendas acima do esperado.
“Ainda assim, o Magalu conseguiu manter a margem Ebitda praticamente estável em relação ao ano anterior, apesar da pressão na margem bruta”.
santander research
Os analistas do banco reiteram ainda que o Ebitda da companhia exclui despesas extraordinárias de R$ 124 milhões, relacionadas a (i) fechamento de um centro de distribuição e fechamento de quiosques; (ii) ajustes contábeis nas empresas adquiridas relacionadas; e (iii) ajustes operacionais.
Quanto ao faturamento total, a varejista registrou um crescimento de 10,1%, incluindo marketplace, para R$ 15,55 bilhões. As vendas do comércio eletrônico, também incluindo marketplace, cresceram 11,1% no trimestre encerrado em março, para R$ 11 bilhões.
A empresa afirmou que sua participação de mercado em comércio eletrônico atingiu no trimestre uma máxima histórica.
Mas o BTG ressaltou em relatório o cenário difícil para o comércio eletrônico que registrou queda de 14% no e-commerce no 1º trimestre do ano, segundo a Neotrust, além de pressão inflacionária pesando contra.
Segundo a Magalu, seus resultados são afetados pela taxa básica de juros (Selic), que está em 13,75% ao ano, e da “sazonalidade das despesas financeiras”.
Para o Itaú BBA, de fato a sazonalidade impactou negativamente, em especial a dinâmica de capital de giro no trimestre.
“A empresa reportou consumo de caixa operacional de R$ 2,5 bilhões, mas apresentou melhora ano a ano no capital de giro, com menores níveis de estoque e maior conta de fornecedores”
Analistas do Itaú BBA
Já para o Santander, apesar de o resultado estar sob pressão, o consumo de caixa da varejista está melhorando.
O consumo de caixa no trimestre (com variação da dívida líquida) atingiu R$ 654 milhões, o que aponta para uma melhora significativa em relação a igual período do ano anterior (R$ 2,25 bilhões).
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