O aumento do desemprego no 1º trimestre de 2023 reflete a desaceleração da economia, mas ainda não é possível afirmar que isso seja resultado somente do alto patamar da taxa juros, a Selic. É o que disseram especialistas nesta quinta-feira (18). Mas, segundo eles, não se pode descartar que o desemprego suba ainda mais nos próximos meses.
A taxa de desocupação do país cresceu para 8,8% no 1º trimestre de 2023, um aumento de 0,9 ponto percentual na comparação com o 4º trimestre de 2022 (7,9%), segundo a Pnad Contínua, divulgada nesta quinta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para Gabriel Meira, economista da Valor Investimentos, a taxa de desocupação cresceu de forma significativa do 4º trimestre de 2022 para o 1º trimestre de 2023. “Um percentual bem relevante para um período de três meses”, diz.
Orlando Assunção Fernandes, professor de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), comenta que “o fraco ritmo de crescimento econômico brasileiro nestes últimos meses tem deixado suas marcas no cenário laboral”.
A economia brasileira vem perdendo força nos últimos meses, na esteira da manutenção da Selic em 13,75% ao ano desde agosto de 2022. O Banco Central não tem dado indicações de que deve haver cortes no curtíssimo prazo, apesar das reclamações do governo de que o alto nível dos juros esteja freando a atividade.
Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos, afirma que o aumento do desemprego reflete, sim, a política monetária. Mas ele acrescenta que o aumento da desocupação no 1º trimestre de 2023 se justifica também por outras razões e, entre elas, a primeira seria o efeito sazonal em começos de ano.
Portanto, “não dá para dizer que isso foi [somente] efeito da política monetária” contracionista, diz ele. Mesmo assim, o economista alerta que, “olhando para frente, pelo nível de juros, é (possível) que a taxa de desocupação continue subindo até o fim do ano”.
Alerta sobre a renda
Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio de São Paulo, chama atenção para o dado sobre o rendimento médio real mensal habitual foi de R$ 2.880, ficando estável frente ao quarto trimestre de 2022 (R$ 2.861) e crescendo ante o mesmo trimestre de 2022 (R$ 2.682). Ele afirma que, inicialmente, o dado pode parecer positivo, mas há um sinal de alerta.
“O dado positivo é a renda média do trabalhador, que cresceu – porém abaixo da inflação e abaixo da renda antes da pandemia”.
Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio de São Paulo
O professor afirma que “a inflação de 2020, 2021 e 2022 somadas são 20%, então isso explica por que a população está com dificuldade. Os preços subiram 20% e o salário caiu 2%, as pessoas perderam poder de compra. As coisas estão mais caras e os salários estão mais baixos“.
Melhora sobre a pandemia
Apesar da alta sobre o trimestre anterior, o percentual de desocupação caiu 2,4 pontos percentuais na comparação com o mesmo período de 2022 (11,1%).
Por outro lado, Fernandes, da FAAP acrescenta que, com o fim da pandemia da covid-19, os dados de desocupação “parecem indicar uma clara acomodação do mercado de trabalho” – visto que, no auge da disseminação da doença, eles chegaram nos maiores patamares dos últimos dez anos.
Pacheco, da Guide, lembra também que, apesar da taxa de desocupação ter subido, ela está em um “nível bem próximo da mínima dos últimos dez anos”.
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