A ação da Marfrig teve dia de forte alta nesta terça-feira (29), chegando a disparar mais de 15% na máxima do pregão, enquanto Minerva despencou, com o mercado repercute a notícia de acordo bilionário entre as empresas para compra de ativos.
O papel MRFG3 subiu 10,7%, a R$ 7,45, após chegar a R$ 7,75 mais cedo. Já a ação BEEF3 recuou 18,26%, a R$ 8,91, na mínima do dia. Segundo dados do TradeMap, a Marfrig ganhou R$ 475 milhões em valor de mercado, enquanto a Minerva perdeu R$ 1,16 bilhão.
A Minerva e sua controlada Athn Foods Holdings fecharam acordo de R$ 7,5 bilhões para comprar determinadas unidades de abate de bovinos e ovinos da Marfrig no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, conforme anúncio feito pelas duas empresas concorrentes na segunda-feira (28). A transação está sujeita a aprovação de autoridades concorrenciais.
“Estrategicamente, o acordo melhora o posicionamento de ambas as empresas nos seus respectivos nichos, uma vez que as empresas de proteínas listadas estão a seguir caminhos diferentes”.
Itaú bba, em relatório
Para Hugo Queiroz, Sócio da L4 Capital, “este acordo não só pavimenta o caminho para a Marfrig adquirir a BRF por completo, mas também solidifica a Minerva como a maior plataforma de bovinos na América Latina”.
A ação BRFS3 caiu 0,41% neste pregão, a R$ 9,62.
Apesar do movimento das ações, Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, por sua vez, acredita que “Minerva foi o grande vencedor da operação e Marfrig, o perdedor”, porque a segunda decidiu “abrir mão de 16 plantas lucrativas no Brasil e ficou com plantas pouco lucrativas nos EUA”.
“O mercado gosta de precificar quase tudo no primeiro dia como se não tivesse amanhã”
Flávio Conde, analista da Levante Investimentos
“Acredito que operação foi um ‘ganha Marfrig’ no curto prazo e ‘ganha Minerva’ no médio prazo porque Marfrig conseguiu R$ 7,5 bilhões à vista e Minerva comprou barato com um payback de 5 anos”, diz Conde.
Impactos para Marfrig
Analistas do Itaú BBA apontaram que o acordo “é um passo em direção à consolidação da Marfrig como player de valor agregado: a empresa mantém suas fábricas de carne processada na América do Sul, deixando-a com um portfólio que, após a aquisição da BRF, agora se inclina para o lado de valor agregado da mistura”.
Na mesma linha, analistas do Santander avaliam que “a venda está alinhada com a estratégia da Marfrig de buscar um portfólio de maior valor agregado, ao mesmo tempo que ajuda a desalavancagem da empresa no curto prazo (embora com efeito limitado na alavancagem e outras métricas)”.
“Em nossa opinião, embora a alavancagem da Marfrig tenha um efeito limitado nesta transação (já que esses ativos são relativamente pequenos no portfólio do grupo), acreditamos que isso poderia aliviar as preocupações do mercado em relação à situação financeira da empresa”, diz o Santander.
Para Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, “a notícia é muito positiva para a empresa”, pois “vai derrubar a alavancagem da Marfrig que se encontra hoje em 3,7 vezes para 3,0 vezes, e a questão de alavancagem na Marfrig é uma tecla em que o mercado vem batendo muito”.
Efeitos para Minerva
Para analistas do Santander, “a aquisição da Minerva está alinhada com a sua estratégia de construir uma plataforma de exportação de carne vermelha, ao mesmo tempo que aumenta a capacidade de exportação nos países onde já opera”.
“Dito isto, a elevada alavancagem no curto prazo, combinada com dividendos mais baixos e uma maior concentração de carteira (especialmente no Brasil), poderia ser preocupante para os investidores à primeira vista, embora esperemos que a aquisição seja digerida em 12-18 meses, dada a ampla disponibilidade de gado no Brasil.”
Santander, em relatório
Já o relatório de Itaú BBA destaca “a continuação da estratégia de crescimento inorgânico de longo prazo da empresa de buscar a consolidação entre os exportadores de carne bovina pura”.
Fernandes, da A7 Capital, comenta que “apesar da Minerva conseguir aumentar sua fatia aqui na América Latina, esse acordo acaba por elevar a alavancagem da empresa no D+0, para 3,2 vezes, algo que acende um sinal amarelo no mercado, e coloca em dúvida a capacidade da Minerva reduzir a alavancagem com os resultados que essas plantas possam adicionar a empresa”.
Veja também
- JBS investirá R$ 14,5 bilhões para construir seis fábricas na Nigéria
- ‘Gigante dos frangos’, BRF vê guerra comercial de Trump impulsionando as vendas no Brasil
- Após mais de um ano, Cade aprova compra de frigoríficos da Marfrig pela Minerva
- Consumidores não querem pagar a conta dos alimentos sustentáveis, diz CEO da JBS
- Petisco ameaçado: embargo ao frango brasileiro afeta consumo de pé de galinha na China