A aquisição do Grupo CRM, dono da Kopenhagen e Brasil Cacau, pela Nestlé representa mais uma expansão nas áreas de atuação da empresa do que o fortalecimento em um mesmo segmento, analisam especialistas ouvidos pelo InvestNews. O CRM representaria, na verdade, o ingresso da Nestlé em um ramo de varejo de presentes.
A compra acontece em um momento de expansão das vendas da Nestlé no Brasil, com alta de 24% nos últimos 12 meses, segundo resultado mais recente. A empresa chegou a anunciar em julho um investimento de R$ 2,7 bilhões no país até 2026 para ampliar e atualizar fábricas de biscoitos e chocolates, “que responde por fatia relevante dos negócios da multinacional”.
Segundo multinacional suíça, o investimento é o triplo do aplicado pela empresa nos últimos quatro anos no Brasil, que representa um mercado relevante para a Nestlé: é o maior segmento de chocolates do grupo no mundo.
Mas a expansão nas vendas da empresa não está ocorrendo somente no Brasil – mesmo em um cenário de temores sobre o consumo em diversos países. No primeiro semestre de 2023, a Nestlé teve vendas de US$ 53 bilhões, uma alta de 8,7%. A companhia chegou a liderar o ranking de maiores pagadoras de dividendos no último trimestre, com R$ 57 milhões, segundo relatório da Janus Henderson.
A rapidez da venda da Kopenhagen
Além dos números positivos da Nestlé, também chamou a atenção do mercado a rápida venda do Grupo CRM, que havia sido adquirido pela empresa de private equity Advent International há apenas três anos.
Ricardo Schweitzer, CEO da consultoria Ricardo Schweitzer, avalia que o tempo pode ser considerado rápido, já que o vesting de investimentos como o feito pela Advent demoram em média cinco anos. Fatores como o preço conseguido e as expectativas com a empresa podem ter apressado o prazo.
Como fica a Nestlé com Kopenhagen?
Neste cenário, a Nestlé entra como uma empresa que “já conhece muito do Brasil”. A empresa já possui muitas marcas atuantes no mercado nacional, de diversos produtos, incluindo temperos, biscoitos e chocolates como a Garoto, cuja aquisição foi concluída após 20 anos.
Mas, para Schweitzer, o processo de aquisição da marca naquele momento difere muito da atual compra da Nestlé. Antes, tratava-se de assumir uma grande posição em uma empresa com capacidade produtiva. “Eu não acho que a Nestlé está comprando agora marca e capacidade industrial, eles estão comprando canal direto no varejo“, explica o especialista.
De maneira semelhante, o professor José Sarkis Arakelian, da FGV-EAESP, avalia que, por mais que pareçam próximos por se tratarem de “chocolates”, os negócios com a Garoto e com a Kopenhagen e Brasil Cacau são muito diferentes. “São canais de venda e distribuição completamente diferentes, atendendo à necessidades e desejos completamente diferentes.”
Arakelian chega a fazer um paralelo com a existência da linha de cafés da Nestlé. “A Kopenhagen estaria dentro do portfólio da Nestlé mais ou menos como está a Nespresso, que é um produto diferente para o público em uma outra jornada”.
“O único que pode estar preocupado é o dono da Cacau Show“, cogita Schweitzer, ao explicar como a compra não muda a relação da Nestlé com a maior parte dos players do Brasil.
De modo semelhante, Arakelian explica que a aquisição deve repercutir mais entre as lojas de presentes, da qual a Cacau Show é o maior representante nacional, mas também pode repercutir entre concorrentes regionalizados.
A aquisição do Grupo CRM pela Nestlé
A Nestlé assinou contrato para aquisição do grupo CRM na madrugada do feriado de 7 de setembro. Os valores não foram divulgados, mas o jornal “Valor Econômico” avaliou a transação em R$ 4,5 bilhões.
O negócio está sujeito à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e será submetido ao órgão regulador nas próximas semanas. A expectativa é de o que fechamento da transação ocorra em 2024.
Marca centenária, a história da Kopenhagen foi fundada em 1928 e conta com produtos de grande popularidade, como Língua de Gato e Nhá Benta. São mais de 600 lojas espalhadas pelo Brasil.
Já a Cacau Brasil é mais recente. No mercado desde 2009, foi criada para oferecer produtos de chocolate em formatos de presentes a preços mais baixos. Hoje, são mais de 400 lojas. Tanto a Kopenhagen como a Cacau Brasil contam ainda com cafeterias em algumas unidades.
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