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Responsabilidade empresarial e o esvaziamento dos fundos ESG 

Neste artigo, a colunista Liliane Rocha analisa a onda global de descredibilização da agenda ESG e como isso pode afetar as empresas.

Ao longo dos últimos anos Larry Fink, CEO da BlackRock, empresa com cerca de US$ 9,4 trilhões em ativos, tornou-se amplamente conhecido – mesmo para quem é de fora do mercado financeiro –, devido às cartas anuais destinadas a CEOs, nas quais reforçava gradativamente que sua empresa só investiria em companhias que estivessem alinhadas e aderentes a tratativas ambientais, sociais e de governança. Sua atuação foi de grande relevância para fortalecer o conceito da sigla ESG (em tradução livre Ambiental, Social e Governança). Temas complexos, atuais e imprescindíveis para a gestão de risco, mitigação de crises e catástrofes, entre outros. 

No entanto, o próprio Larry em meados de junho de 2023 afirmou ter parado de usar o termo ESG devido à “politização do tema”. Disse que apesar disso, sua “gestora continuará conversando com as empresas nas quais têm participação sobre descarbonização, governança corporativa e questões sociais a serem abordadas”.  O que poderia parecer um movimento isolado tem, por incrível que pareça, se multiplicado em alguns setores da sociedade. Temos visto esforços para descredibilizar os impactos e a relevância dessa agenda.

No Brasil, recentemente o site “Brasil Paralelo” lançou o vídeo “A Face Oculta da Agenda ESG”, na qual a narrativa central questiona a atuação das empresas na agenda ESG, bem como outros aspectos. Os argumentos afirmam que um pequeno grupo de pessoas não eleitas está decidindo por todos.

Em meio a esse cenário, dados da consultoria Morningstar, divulgados pelo site Bloomberg, mostram que os investidores retiraram um recorde de US$ 5,1 bilhões líquidos de fundos ESG nos últimos três meses de 2023; ao longo de 2023 as perdas foram de US$ 13 bilhões. Outro levantamento realizado pela Lipper, uma fornecedora de dados financeiros, com dados obtidos com exclusividade pela CNN, mostra que os ativos sob gestão em fundos ESG nos EUA diminuíram de US$ 339 bilhões (cerca de R$ 1,706 trilhão) para US$ 315 bilhões (R$ 1,585 trilhão) até o final de setembro do ano passado. 

Confesso que isso me causa estranhamento e até uma certa perplexidade, em pleno 2024, após o empresariado ter visto tantas crises, falências, derrocadas de executivos e grandes empresas por crises ambientais, sociais e de D&I das mais variadas formas, termos que reafirmar, que qualquer negócio em um mundo com mais de 8 bilhões de habitantes, pós pandêmico, com inversões climáticas das mais estrondosas, que acarretam desastres impactando milhares de pessoas, um executivo ainda conceber a ideia de liderar um negócio, cortando ou restringindo investimentos nas temáticas ambiental, social e de governança.

Veja, uma empresa que fatura bilhões por ano para um pequeno grupo de acionistas, responsável por fazer a economia girar para seus funcionários, que tenta fortalecer sua marca junto a vários stakeholders, não deveria se preocupar em assegurar o mínimo de emissão de gases de efeito estufa possível na sua atuação? Ou, quem sabe, usar de modo mais eficaz e inteligente os recursos hídricos e energéticos que têm à disposição? Quem sabe realizar uma boa gestão dos seus resíduos sólidos?  Ou, se responsabilizar em disseminar internamente e externamente conteúdos consistentes sobre o tema?

Estas mesmas empresas não deveriam atentar para a redução das desigualdades nos municípios, muitas vezes pequenos, em todo o mundo nos quais estão presentes? Há como renunciar à diversidade, à inclusão, a ter maior proporcionalidade de mulheres, negros, pessoas com deficiência, LGBTQPIAN+, com mais de 50 anos em seus quadros funcionais?

Prestação de Contas, Transparência, Responsabilidade Corporativa e Equidade são assuntos secundários na gestão de grandes negócios globais, com alta possibilidade de impactar a vida de milhares de pessoas e de cada um de nós?

Acreditamos, de fato, que é possível traçar um novo marco de padrão civilizatório, na forma de investir e fazer negócios, ou ao final, politizamos estas questões, e simplesmente diremos que são ruins para a economia, Cortaremos projetos, fornecedores e parceiros nessas frentes e seguiremos normalmente, fazendo negócios, como sempre fizemos antes, da forma mais predatória possível?

Como sempre reforço, cada liderança tem neste momento em suas mãos a possibilidade de decidir em que direção da marcha civilizatória está caminhando.  

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