Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) – O mercado de trabalho aquecido, o aumento da renda e a injeção de liquidez com o pagamento de precatórios devem garantir que a economia brasileira volte a crescer no início de 2024 depois de dois trimestres seguidos de estagnação, ainda que a perspectiva não seja de um movimento forte, avaliam economistas.
O Produto Interno Bruto deve mostrar uma retomada gradual ao longo do ano, de acordo com especialistas, calcada ainda no aumento do crédito diante do ciclo de afrouxamento da política monetária. A economia brasileira cresceu 2,9% em 2023, mas ficou estagnada tanto no terceiro quanto no quarto trimestres.
Um dos principais impactos positivos no primeiro trimestre do ano deve vir do pagamento dos precatórios feito no final do ano passado, que tem potencial de impulsionar o consumo das famílias.
“É uma injeção adicional de recursos que será traduzida para consumo. Serão mais de 30 bilhões de reais na economia no início de 2024, que sustentam gastos das famílias com bens e serviços”, disse Rodolfo Margato, economista da XP, calculando que 80% desse impacto ficará concentrado no primeiro trimestre.
Some-se a isso uma inflação menor e o impulso da renda disponível com um mercado de trabalho que permanece sólido, com uma taxa de desemprego que deve seguir em níveis baixos ao longo do ano, favorecendo o consumo. A taxa de desemprego ficou em 7,6% no trimestre encerrado em janeiro, com aumento no rendimento real dos trabalhadores.
No entanto, analistas alertam para o desempenho do setor agropecuário. Com safras recordes, a agropecuária sustentou o crescimento do PIB no ano passado, mas esse cenário não deve se repetir em 2024.
“O grande cabo-de-guerra no primeiro trimestre será esse, quanto vai cair o PIB agrícola e quanto vai crescer o consumo das famílias por causa desse impulso do pagamento dos precatórios”, alertou Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, que calcula um impacto de 0,2 ponto percentual do pagamento de precatórios no PIB do primeiro trimestre.
Outro fator positivo é o afrouxamento da política monetária, em um ciclo que começou em agosto do ano passado e tirou a taxa básica de juros Selic do pico de 13,75% para os atuais 11,25%, com expectativas de mais reduções nas próximas reuniões.
“Começamos a observar os efeitos do mercado de crédito. Vemos aumento das concessões tanto a pessoas físicas quanto jurídicas, queda da inadimplência e o comprometimento das rendas das famílias mostra queda paulatina”, disse Margato.
“Com a continuidade da desinflação e dos cortes de juros por parte do BC, a mensagem é que ao longo do ano o afrouxamento das condições monetárias tende a contribuir para um aumento de consumo e produção”, completou.
Com uma defasagem de seis a nove meses, os impactos do afrouxamento monetário devem ganhar tração principalmente no terceiro trimestre.
Mas há incertezas. O ano de 2024 deve ser marcado por disputas cada vez mais intensas entre o governo e o Congresso sobre quem deve pagar a conta pelos ajustes necessários para cumprir as metas fiscais ambiciosas da equipe econômica.
“As narrativas em torno da política fiscal deram uma melhorada, temos arrecadação maior. Mas olhando à frente, com a pressão de gastos que está alta, será que teremos que tributar mais? O que temos hoje é suficiente para a política fiscal ter deixado de ser um risco para a atividade?”, questionou Marco Antonio Caruso, economista-chefe do PicPay.
Em janeiro, a arrecadação do governo federal registrou o melhor resultado de todos os meses da série histórica da Receita, iniciada em 1995, com um total de 280,636 bilhões de reais.
Mas o Congresso derrubou um veto presidencial a um projeto de lei que estende a desoneração da folha de pagamento para vários setores da economia, e ao mesmo tempo a equipa econômica começou a discutir a possibilidade de voltar a impor impostos impopulares sobre importações no valor de até 50 dólares.
Pesquisa da Reuters feita em janeiro apontou que a economia deve crescer 1,6% em 2024.
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