Em tempos de guerra comercial, a China encontrou formas de contornar vários obstáculos impostas pelos EUA à sua economia — desde restrições ao acesso a chips até sanções contra o petróleo do Irã. Mas não é tão fácil escapar da força gravitacional do Federal Reserve.
Os economistas tiraram duas lições dos dados chineses divulgados esta semana. Primeiro, embora a economia tenha dado sinais de força no início do ano, será preciso mais estímulo. Segundo, fica cada vez mais difícil para o Banco Popular da China fazer isso através da redução de juros.
Isso porque, mesmo em meio a uma tendência deflacionária na China, a alta persistente dos preços nos EUA compromete as perspectivas de cortes do Fed, o que ampliou para um nível recorde o spread entre a taxa dos Treasuries americanos de 10 anos e a dos títulos equivalentes chineses. Uma redução de juros do BC chinês alargaria ainda mais esse diferencial e aumentaria a pressão sobre o yuan, que a China tenta a todo custo defender.
“O governo está atualmente dando maior prioridade à estabilidade do câmbio”, disse Arthur Budaghyan, estrategista-chefe de mercados emergentes e investimentos na China da BCA Research. O risco, disse ele, é que o BC chinês “flexibilize a política monetária muito menos do que o necessário para a recuperação da economia”.
A autoridade monetária chinesa não mexe em sua taxa de referência de um ano, de 2,5%, desde agosto, mesmo com uma inflação ao consumidor próxima de zero e preços ao produtor em queda há um ano e meio. O crescimento econômico está ancorado no setor industrial e exportações, enquanto os gastos das famílias estão deprimidos pela crise imobiliária e se beneficiariam de crédito mais barato.
Mas desde o ano passado, a China fez da defesa do yuan uma prioridade mais alta do que costumava ser. Os principais líderes do Partido Comunista prometeram manter a moeda “estável” durante uma reunião em julho, e o presidente Xi Jinping enfatizou no início deste ano que o país precisa de um “moeda poderosa” para se tornar uma grande potência financeira.
A China também teme o tipo de fuga de capitais que se seguiu à desvalorização do yuan em 2015. O banco central teve de gastar US$ 1 trilhão de suas reservas internacionais para conter as saídas na época.
Isso levou o BC a adotar taxas de referência diárias para o câmbio artificialmente fortes desde o final do ano passado. Muitos analistas esperam que essa estratégia continue, apesar de um afrouxamento esta semana.
Com a defesa do câmbio, o banco central chinês utilizou outras ferramentas de flexibilização monetária, em vez de cortes de juros.
As autoridades têm sinalizado que reduzirão a alíquota dos depósitos compulsórios dos bancos para liberar liquidez no sistema financeiro. O banco central também lançou um programa de incentivo a empréstimos que apoiem a inovação tecnológica e a atualização de equipamentos.
Enquanto isso, o UBS espera que os juros de referência permaneçam inalterados este ano.
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