Com régua mais alta, Wall Street pressiona as empresas que não correspondem às expectativas
As ações da Starbucks, da Five Below e da Netflix caíram após divulgação de resultados
Wall Street está com pouca paciência com as empresas que não correspondem às expectativas.
Com a temporada de resultados do primeiro trimestre quase terminando, as empresas do S&P 500 estão prestes a garantir um salto de 5,4% nos lucros em relação ao ano passado, o maior aumento em quase dois anos, de acordo com a FactSet.
Mas aquelas que ficaram aquém das previsões dos investidores estão sendo punidas de modo mais duro que o normal. As ações de empresas que não atingiram as estimativas caíram em média 2,8%, em comparação com a média de queda de cinco anos de 2,3%.
Enquanto isso, as que superaram o desempenho não receberam prêmios especiais. As que se saíram melhor que as previsões dos analistas viram suas ações subirem em média 0,9%, comparado à média de 1% nos últimos cinco anos. A situação está de acordo com os dados da FactSet, que analisou os preços das ações nos dois dias anteriores ao relatório das empresas e nos dois dias seguintes.
“[O mercado] não vai fazer perguntas — apenas vai reduzir os valuations muito rapidamente se você não tiver um bom desempenho”, explicou George Gonçalves, chefe de estratégia macro dos EUA da MUFG Securities Americas.
As empresas estão com pouca margem para erros, em parte porque as ações parecem estar bem valorizadas, especialmente devido à persistente incerteza de um corte na taxa de juros pelo Federal Reserve este ano. A Starbucks foi uma das que sentiram as consequências ao decepcionar investidores no final do mês passado.
A rede de cafeterias se comprometeu a acelerar o atendimento e a lançar novas bebidas depois que uma forte desaceleração na frequência atingiu suas vendas e seu lucro. As ações, no entanto, caíram 16% no dia seguinte à divulgação dos resultados e ainda estão quase 14% abaixo.
O lucro da varejista Five Below também ficou abaixo das previsões de Wall Street, apesar de mais um trimestre de forte crescimento nas vendas, pois investiu na contenção de roubos por meio de medidas como reforço da segurança. Suas ações caíram mais de 15% no dia seguinte à divulgação dos resultados no final de março, e a queda se aprofundou, chegando a mais de 30% desde a divulgação dos resultados.
Em outros casos, as empresas estão sendo punidas mesmo quando superam as expectativas. No mês passado, a Netflix divulgou vendas e lucro acima das previsões, impulsionados por um aumento de novos clientes. Mas a gigante do streaming mostrou uma perspectiva de receita mais suave do que o esperado para o trimestre atual, e suas ações caíram 9,1% no dia seguinte. Desde então, a ação recuperou a maior parte de suas perdas.
O alto padrão exigido das empresas nesta temporada de resultados reflete o nervosismo dos investidores em relação às ações que estão muito valorizadas. O S&P 500 está sendo negociado a cerca de 20 vezes os ganhos esperados nos próximos 12 meses, acima de sua média de dez anos, de 18. A perspectiva de taxas de juros persistentemente altas, por sua vez, diminui o apelo das ações em relação aos bonds (títulos do Tesouro americano), ao mesmo tempo em que aumenta a possibilidade de custos de empréstimos mais elevados para as empresas.
O S&P 500 permanece 0,6% abaixo de sua máxima recorde em março. O índice de referência avançou 1,9% na semana passada, impulsionado por sinais mais recentes de arrefecimento econômico, e acumula alta de 9,5% no ano.
O rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos, um dos principais impulsionadores das taxas de hipotecas e outros custos de empréstimos, estava em 4,5% na sexta-feira (10). O número era superior aos 4,18% vistos no início de março, mas abaixo da máxima de 4,71% de 2024, no final de abril.
“O mercado tem que redefinir as expectativas”, afirmou Tim Hayes, estrategista-chefe de investimentos globais da NDR. “Talvez haja uma visão um pouco mais realista do rumo das coisas, realista sobre quais podem ser os ganhos.”
Hayes disse que a mudança nas expectativas de um corte de juros aumentará a pressão sobre todos os setores por resultados impecáveis, não apenas o grupo de ações de tecnologia, as Sete Magníficas, que impulsionou o crescimento dos lucros do S&P 500 no ano passado.
Por enquanto, as ações de tecnologia permanecem no comando. Com seis das sete empresas do grupo já tendo apresentado os resultados do primeiro trimestre, os lucros do grupo devem subir 48%, em comparação com uma queda de 2,2% para as outras integrantes do S&P 500, de acordo com John Butters, analista sênior de lucros da FactSet.
O setor de serviços de comunicação do S&P 500 está superando as expectativas de Wall Street com a segunda maior margem, impulsionado pelas ações da Alphabet e da Netflix. Mas o setor de tecnologia da informação, que inclui Apple, Microsoft e Nvidia, supera as projeções de lucro com a terceira menor margem entre os 11 setores do índice.
Don Nesbitt, gerente sênior de portfólio da F/m Investments, explicou que isso é preocupante porque as ações de tecnologia respondem por cerca de um terço dos retornos do índice.
“É aí que vemos um grande risco agora”, disse ele.
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traduzido do inglês por investnews