A CSN renovou nesta quarta-feira (24) o direito de exclusividade para a negociação da compra da InterCement, terceira maior produtora de cimentos do país e que é controlada pela Mover (ex-Camargo Corrêa). O acordo anterior havia vencido no último dia 12. E, agora, a exclusividade passa a valer até 12 de agosto.
A renovação ocorre poucos dias depois de a InterCement ter obtido uma proteção contra credores por 60 dias – movimento que, normalmente, precede um pedido de recuperação judicial (RJ) ou extrajudicial. O movimento da CSN confirma o que o InvestNews apurou, de que o grupo de Benjamin Steinbruch deseja comprar a concorrente independentemente de uma RJ ou não.
Parte da alta cúpula da CSN vê o cenário atual como favorável para uma negociação porque permitiria a definição de um preço mais limpo, sem a necessidade de se fazer o que se chama de “assunção da dívida”, que é a transferência do passivo de uma empresa para terceiros. A InterCement alega ter R$ 11,7 bilhões em dívidas.
A CSN Cimentos fez uma oferta de R$ 10 bilhões pela InterCement, já assumindo uma dívida que a Mover tem com o Bradesco. Mas a Mover quer um valor mais alto pela cimenteira, que detém um portfólio de 15 fábricas no Brasil, outras nove na Argentina, além das marcas de cimento Cauê, Goiás e Zebu.
A divergência de valores passa principalmente pela real situação do endividamento – por isso a negociação em meio a uma RJ não é vista como tão negativa para o potencial comprador. Com a RJ, a dívida passaria a ser negociada diretamente com os credores, o que permitiria a definição de um preço “limpo” para o ativo em si. Claro que, antes de fechar o negócio, o comprador faz um processo de due diligence na empresa à venda. Mas mesmo nesse processo, as contas da companhia não são totalmente abertas.
Endividada
Na última segunda-feira (22), a InterCement obteve uma proteção contra credores por 60 dias. A medida ocorreu a poucos dias do vencimento de uma dívida de cerca de R$ 3 bilhões da InterCement com credores internacionais donos de títulos de dívida emitidos no exterior (“bond”), no valor de US$ 565 milhões.
Sem condições de cumprir a obrigação ou obter um acordo com os credores para alongar o prazo de pagamento (“waiver”) em tempo hábil, a cimenteira informou nesta segunda que instaurou um processo de mediação na Câmara Especial de Resolução de Conflitos em Reestruturação de Empresas (CamCMR) para promover uma negociação com seus principais credores financeiros.
“A Tutela Cautelar não afeta as obrigações assumidas pela Companhia com fornecedores, colaboradores, clientes, prestadores de serviço e parceiros comerciais, de forma que a Companhia continua desempenhando as suas atividades em caráter de normalidade”, afirmou a InterCement, em fato relevante.
Apesar do problema no pagamento dos bonds, o grosso da dívida da InterCement, pouco mais de R$ 4,7 bilhões, está nas mãos dos brasileiros Bradesco, Itaú e Banco do Brasil, que terão papel de influência para selar o destino da empresa, seja para em uma venda para CSN, recuperação judicial ou extrajudicial.
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