Os dados da inflação americana divulgados na manhã desta quarta-feira (14) em 2,9%, menor patamar desde março de 2021, reforçaram o coro para que o Federal Reserve corte a taxa de juros, há um ano no maior nível desde 2001.
Uma das vozes mais altas nesse grupo é a da economista americana Claudia Sahm. “O Fed deveria cortar a taxa de juros. A economia está normalizando e é hora de o Fed fazer o mesmo”, afirmou ela em entrevista ao InvestNews.
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Especialista em macroeconomia e gastos de consumo, ela já trabalhou no próprio Fed, o banco central dos EUA, e foi catapultada para a fama por ter criado em 2019 uma fórmula que leva seu nome: a Regra de Sahm.
Atualmente economista-chefe da New Century Advisors, dona de sua própria consultoria e colunista da Bloomberg, ela voltou aos holofotes depois que o ‘gatilho’ criado por ela foi acionado pela taxa desemprego de julho.
O índice de 4,3% divulgado, em 2 de agosto, uma sexta-feira, ajudou a provocar uma sangria nas bolsas do mundo (que se deu na segunda, 5 de agosto), com temores de que a maior economia do mundo já estaria num processo de recessão – só vai dar para saber de fato quando chegarem os números do PIB do terceiro e do quarto trimestres, mas a regra serve como uma forma de antever isso.
Esses 4,3% deixaram a média de maio, junho e julho de 2024 em 4,13%, o que é 0,53 ponto percentual acima da menor média móvel dos 12 meses anteriores (3,60%, em julho de 2023). Pela regra de Sahm, uma diferença maior do que 0,5 p.p. configura recessão. Dá para entender melhor nos slides abaixo:
Considera-se recessão basicamente qualquer período em que haja duas quedas consecutivas do PIB. Houve apenas duas excessões, em 1947 e em 2022, nas quais isso não bastou para o governo cravar recessão (pois outros índices, como o de emprego, iam bem).
Bom, a Regra de Sahm foi aplicada retroativamente segundo os indicadores de desemprego desde 1950. Das dez recessões americanas de lá até aqui, a regra só falhou em “prever” duas (1959 e 1969).
A fórmula, segundo a própria economista, serve para identificar o problema na economia o quanto antes, de modo que o governo possa tomar medidas anti-recessivas – a começar por cortes nos juros.
A taxa de desemprego, ela diz, foi escolhida porque costuma apresentar uma tendência muito gradual de aumento no início da recessão, e só dispara quando já é tarde demais.
Sahm nega recessão atual, mas não afasta risco
“Considerando outros indicadores, como gastos de consumo e renda, a situação geral não sugere que os Estados Unidos estejam em uma recessão”, diz a economista.
Mas ela não afasta o risco.
“O aumento na taxa de desemprego nos EUA é preocupante, mesmo que não seja tão preocupante quanto a Regra de Sahm sugere. A tendência é um problema e, até que a taxa de desemprego se estabilize ou volte a cair, os riscos de uma recessão seguirão elevados.”
claudia sahm
Os dados da inflação de julho divulgados nesta quarta reforçariam, então, a necessidade de baixar a taxa de juros.
“Esse era o meu conselho mesmo antes de a Regra de Sahm ter sido disparada. A inflação está em um caminho claro rumo aos 2%, e o mercado de trabalho está se moderando há um tempo.”
Por que a regra pode ter errado dessa vez?
Nas últimas duas semanas, Sahm tem discutido publicamente o que pode ter acionado o gatilho de 0,5 ponto percentual de sua regra. Um dos principais motivos é a pandemia.
“Ela pode ter afetado o mercado de trabalho, o que poderia afetar a precisão do limiar do gatilho”, diz.
O ponto é o seguinte: a pandemia forçou uma redução dos juros para perto de zero num momento em que, nas condições normais de temperatura e pressão, eles deveriam ter passado por uma alta.
Agora é aguardar para ver se o Fed reduzirá os juros no ritmo certo. Isso, só o futuro poderá responder.
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