O comércio global de bens em 2025 deverá crescer menos do que o inicialmente projetado, conforme informou a Organização Mundial do Comércio (OMC). Essa desaceleração ocorre devido ao aumento da instabilidade que impacta a atividade econômica e ameaça o transporte marítimo.
A OMC prevê que o volume total de mercadorias crescerá 3% no próximo ano, abaixo dos 3,3% previstos há cinco meses. A previsão de expansão para este ano foi ligeiramente revisada para cima, para 2,7%. Esses números acompanham a estimativa da OMC de que o Produto Interno Bruto (PIB) global crescerá 2,7% em ambos os anos.
A guerra da Rússia na Ucrânia e o aumento das tensões de Israel em Gaza e no Líbano ameaçam desestabilizar ainda mais uma economia global onde muitos bancos centrais, após controlarem a inflação, começaram a reduzir as taxas de juros para evitar desacelerações econômicas mais profundas.
“Os riscos para a previsão são claramente negativos devido a conflitos regionais, tensões geopolíticas e incertezas políticas”, de acordo com o relatório divulgado nesta quinta-feira pela organização, sediada em Genebra. “Uma escalada do conflito no Oriente Médio poderia perturbar ainda mais o transporte marítimo e elevar os preços da energia, dada a importância da região na produção de petróleo.”
A avaliação reflete uma perspectiva mais sombria para o comércio internacional. Em abril, a OMC já havia mencionado que “os riscos para a previsão são negativos.”
LEIA MAIS: China dá choque de adrenalina na economia com o maior pacote de incentivos desde a pandemia
Fragmentação das cadeias
Outra ameaça ao comércio global é a “fragmentação das cadeias de suprimentos ligada a considerações geopolíticas.” No entanto, há “um potencial de alta limitado caso os cortes nas taxas de juros em economias avançadas tenham um impacto positivo maior do que o esperado sobre o crescimento, sem reacender a inflação”, afirmou a OMC.
O comércio entre China e EUA está passando por “países conectores”, com a OMC destacando Vietnã e México em sua análise para ilustrar essa mudança, conforme explicou Ralph Ossa, economista-chefe da organização, durante uma coletiva de imprensa. “Vemos que parte do comércio que costumava fluir diretamente está tomando uma rota um pouco mais longa. Essa é uma mudança clara que estamos observando”, disse ele.
O relatório também destacou ritmos diferentes de crescimento do comércio, dependendo do setor e da localização geográfica.
No primeiro semestre de 2024, o valor do comércio mundial de mercadorias cresceu apenas 0,1%, segundo a OMC, enquanto o comércio de serviços comerciais saltou 8% entre janeiro e março em comparação com o ano anterior. Dados preliminares sugerem que “um crescimento relativamente forte provavelmente será sustentado no segundo trimestre.”
LEIA MAIS: Com exceção dos EUA, cerca de 80 países chegam a acordo sobre comércio eletrônico
Comércio de serviços em alta
O crescimento do comércio de serviços está sendo impulsionado pela transformação digital, que “aumentou drasticamente o potencial de certos serviços serem negociados entre fronteiras”, afirmou a OMC. Os serviços entregues digitalmente representaram mais de 54% das exportações totais de serviços e quase 14% de todas as exportações de bens e serviços em 2023.
A OMC também ressaltou disparidades regionais, com “os pontos fracos mais evidentes na economia global” sendo a Alemanha e a Argentina. Pesquisas com gerentes de compras em outros países, incluindo os EUA, “também sinalizaram fraqueza na manufatura, enquanto o setor de serviços parece estar se mantendo melhor.”
As exportações da Ásia crescerão mais rapidamente do que em qualquer outra região este ano, com um aumento de até 7,4%, seguida pelo Oriente Médio, com crescimento de 4,7%, e América do Sul, com 4,6%. Ao mesmo tempo, espera-se que as exportações da América do Norte aumentem 2,1%, enquanto as da Europa devem recuar 1,4%.
A região de crescimento mais rápido para importações será o Oriente Médio, com um aumento de 9%, seguido pela América do Sul, com um crescimento de 5,6%, conforme informou a OMC.
O fator Trump
Ainda assim, o panorama do comércio global pode mudar dependendo das políticas protecionistas que os países adotem, como tarifas e controles de exportação. Um estudo da Bloomberg Economics divulgado mais cedo mostrou como o comércio global poderia ser afetado caso Donald Trump volte à Casa Branca.
Ossa comentou que, embora a OMC não tenha avaliado o impacto direto da ameaça de Trump de aumentar as tarifas sobre as importações dos EUA, políticas que trazem incerteza ao comércio global são prejudiciais para a economia.
“Esse é um dos principais benefícios da Organização Mundial do Comércio”, afirmou. “O sistema não oferece apenas tarifas baixas, mas também tarifas previsíveis. Qualquer coisa que comprometa essa previsibilidade, naturalmente, prejudica o comércio internacional.”
Veja também
- A pedido da China, OMC abre investigação contra pacote anti-inflação dos EUA
- Agronegócio prevê alta dos custos de produção no próximo ano
- OMC vê forte desaceleração no crescimento do comércio global em 2023
- 5 fatos para hoje: IPC-Fipe desacelera; Energia eólica pode dobrar no Brasil
- 5 fatos para hoje: carros elétricos da 99; gratuidade no despacho de bagagens