Tem ficado cada vez mais comum as pessoas se depararem com placas de vende-se ou aluga-se onde antes funcionava uma agência de banco. O encolhimento dos endereços físicos segue a passos largos conforme o mundo financeiro fica cada vez mais digital.
Porém, na contramão do fechamento de postos de atendimento, a rede de caixas eletrônicos Banco24horas alcançou o maior tamanho de sua história entre 2023 e 2024. E a quantidade de máquinas de autoatendimento (ATM) em operação do grupo já supera o número total de agências físicas no país em quase 50%.
Os dois movimentos têm tudo a ver um com o outro. Quanto mais agências são encerradas, mais os clientes dessas regiões recorrem aos ATMs como alternativa para sacar dinheiro, fazer pagamentos e outras transações.
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Não por acaso, a TecBan, dona da rede Banco24horas, tem como principais acionistas os cinco maiores bancos públicos e privados do país. Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal detêm juntos cerca de 94% de participação na holding.
Para as instituições financeiras, a rede Banco24horas virou uma espécie de substituto automatizado e menos custoso das agências. O gerente de produto e canais de distribuição da TecBan, Rodrigo Maranini, explica que há uma espécie de acerto informal com as instituições para não deixar os clientes órfãos do atendimento físico. “Em muitos locais, os bancos chegam e falam ‘vou fechar uma agência’ e passam para a gente a tarefa de oferecer atendimento aos clientes na região.”
Diante desse movimento, a rede da TecBan alcançou no ano passado seu maior tamanho em mais de quatro décadas. Cada terminal é quase um banco compactado: dá para sacar, depositar, pagar boletos, pedir e desbloquear cartões, solicitar crédito, fazer recargas de celular e até adquirir vales-presente.
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O Banco24horas já conta com 24,5 mil terminais no país. Isso significa que a rede de caixas eletrônicos multibancária já supera em em 50% a quantidade de agências no país. Os dados do Banco Central mostram que o número de postos de atendimento físico no Brasil pode ter terminado 2023 com um total de 16,5 mil endereços, se os dados mais recentes de fechamentos, do primeiro trimestre do ano passado, forem anualizados.
Já na categoria que o BC chama de “postos de atendimento eletrônico” – sabe aqueles espaços nos supermercados e lojas de conveniência com um Banco24horas? – os dados também refletem essa tendência. No ano passado, os ATMs que atendem várias instituições, como os da TecBan e de outras companhias especializadas, chegaram a 59 mil máquinas, ante 47,4 mil em 2022. Os caixas exclusivos de apenas um banco caíram para 5,8 mil nos PAE. Eram 19 mil um ano antes.
Além dos bancões, várias fintechs e bancos digitais usam a rede Banco24horas como forma de oferecer um canal físico de atendimento. Clientes de Nubank, Inter, C6, PicPay, Neon, Mercado Pago e PagBank, por exemplo, também podem fazer saques, depósitos ou transações por meio dos terminais.
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É claro que, em metrópoles como São Paulo ou Rio de Janeiro, o uso de papel moeda fica cada vez menor. Mas, mesmo em plena era PIX, a demanda pelo dinheiro físico ainda continua intensa, principalmente nos rincões mais remotos do país.
O Brasil fluvial
Em áreas ribeirinhas do Pará e do Amazonas, os habitantes precisam navegar por horas para alcançar a cidade mais próxima. E não são apenas algumas poucas localidades. Nesse Brasil dos rios, 40% dos municípios do Pará dependem exclusivamente dos cursos d’água para se conectar. No Amazonas, 59 cidades criaram sistemas municipais de transporte hidroviário.
Quem recebe algum auxílio do governo, como o Bolsa Família, e mora nesses locais precisa aproveitar qualquer oportunidade quando se desloca até uma cidade maior para sacar e levar suas cédulas para casa. Grande parte das retiradas são supridas por meio de caixas eletrônicos.
Há ainda um segundo fator por trás do impulso ao autoatendimento. Também na contramão dos bancos, as cooperativas de crédito, que, na prática, funcionam como instituições financeiras, com conta e cartão de crédito, têm investido na ampliação de suas redes. O segmento já está presente de forma física em 57% dos municípios brasileiros ou 3.117 cidades.
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Diante dessa demanda crescente, outras empresas têm se lançado no mercado. A Protege, por exemplo, que atua no transporte e guarda de valores, com carros-forte, passou a oferecer serviços de locação e gestão de ATMs multibancos em 2023. A empresa não divulga os números de máquinas em funcionamento, mas prevê um crescimento de 10 vezes em 2025.
A própria digitalização financeira, na verdade, tem como efeito colateral um aumento de soluções de manuseio e gerenciamento de cédulas em pontos de venda. “Os ATMs têm ganhado uma maior escala pela conveniência do crédito online”, conta o diretor comercial do grupo, Rodrigo Marchini.
As empresas que lidam com gestão de dinheiro físico têm criado formas de reaproveitar as notas que chegam dos clientes. Até porque em lugares mais remotos o custo de transportar dinheiro e até mesmo um caixa eletrônico pode ser um problema. Imagine levar uma máquina com mais de uma tonelada de peso em um barco por várias horas em um afluente do Amazonas? E ter de abastecer esse equipamento com dinheiro vivo de tempos em tempos?
Mas não precisa estar longe de tudo para valorizar a possibilidade de reciclar as cédulas recebidas. Essa é uma demanda comum a qualquer comércio, porque o dinheiro físico, no fim do dia, precisa ser transportado e depositado em uma conta, o que gera custos.
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A Protege, por exemplo, criou uma forma de transformar os pagamentos em notas em valores digitais. A aplicação usa justamente os ATMs que reciclam as notas ou cofres inteligentes. Chamada de Protege Bank, essa solução usa os equipamentos para contar o dinheiro, registrar os valores depositados no caixa eletrônico ou guardados no cofre e, imediatamente, transformar esse numerário em um crédito na conta online do estabelecimento.
O “mini Banco 24 Horas”
A TecBan lançou no ano passado um equipamento ainda mais compacto chamado de Atmo. É uma espécie de ATM (muito) miniaturizado, quase do tamanho de uma maquininha de pagamentos usada no comércio.
Esses equipamentos contam ainda com leitura biométrica e de QR Code. Desse modo, permitem saques sem necessidade de uso de cartão.
Com a maquininha, o cliente de um estabelecimento pode fazer retiradas de dinheiro convencionais ou saque via PIX. A loja, por sua vez, usa as próprias cédulas recebidas em vendas nessas operações. O Atmo registra tudo e deposita o valor das cédulas numa conta digital da loja. “Os estabelecimentos podem usar o papel recebido nas vendas nessas operações de saque, em lugar de transportar para um banco”, resume Maranini, da TecBan.
Maranini explica que os Atmos fazem parte da rede Banco24horas. A companhia já conta com 600 miniterminais. Mas a previsão é de alcançar 2 mil já no ano que vem. “É uma solução que resolve o problema de alcançar lugares onde a gente não consegue chegar com um ATM.”
Talvez um dia o dinheiro físico acabe. Mas a mesma tecnologia que pressiona o papel pode estender o uso das notas. Afinal, mesmo quem não usa com frequência como a geração dos muito jovens pode achar útil ter uma “impressora de PIX” por perto, em algum momento. Ainda que seja só por curiosidade.
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