A libra caiu para o nível mais baixo em mais de um ano, as ações caíram e os títulos públicos ingleses – os gilts – estenderam o quarto dia consecutivo de perdas, devido à preocupação de que o governo trabalhista terá dificuldades para manter o déficit sob controle, com o aumento dos custos dos empréstimos.

A libra esterlina recuou pela terceira sessão, caindo até 1%, para US$ 1,2239 , o valor mais baixo desde novembro de 2023. Os gilts caíram acentuadamente na abertura, com o rendimento de 10 anos subindo até 13 pontos-base, para 4,92%. O índice FTSE 250 do Reino Unido, voltado para o mercado interno, caiu 1,1%, atingindo o menor valor desde abril, e estava a caminho de sua pior queda em três dias desde agosto.

Os ativos britânicos estão na linha de frente de uma derrocada global impulsionada, nesta semana, pelas últimas ameaças de Donald Trump de impor tarifas e pelas preocupações de que a inflação permaneça elevada por mais tempo do que o esperado. A velocidade dos movimentos levou à comparações com os efeitos do desastroso mini-orçamento de Liz Truss em 2022.

Embora a estrutura do mercado tenha sido reforçada para evitar uma crise dessa escala, o crescente peso da dívida do governo é mais uma vez uma fonte de preocupação para os investidores. Um ex-dirigente do Banco da Inglaterra chegou a traçar paralelos com a crise da dívida de 1976, que levou o governo britânico a pedir um resgate ao FMI. ”A preocupação é que os investidores tenham simplesmente perdido a fé no Reino Unido como um lugar para alocar seus ativos”, disse à Bloomberg Radio Eva Sun-Wai, gestora de fundos na M&G Investments. Ela acrescentou que quando os rendimentos sobem e a moeda cai, isso é “frequentemente um sinal de fuga de capitais”.

Os movimentos pegaram alguns participantes do mercado desprevenidos. Tipicamente, taxas de juros mais altas aumentam o apelo de uma moeda, então a queda desta vez pode ser um indicativo de que os ativos britânicos estão perdendo sua atratividade.

Se o aumento nos rendimentos de títulos de longo prazo for sustentado, isso poderá pressionar o governo do Reino Unido a apertar a política fiscal. A chanceler do Tesouro, Rachel Reeves, favorecerá novos cortes nos gastos públicos em vez de elevação de impostos, caso o aumento nas taxas de juros elimine seus 9,9 bilhões de libras (US$ 12,2 bilhões) de margem fiscal, de acordo com pessoas familiarizadas com os planos da chanceler.

“Os mercados estão bastante nervosos no momento”, disse Valentin Marinov, chefe de estratégia de câmbio do Grupo dos 10 do Credit Agricole, em Londres.