O novo governo de Donald Trump está planejando uma grande operação de imigração em Chicago na próxima semana, segundo quatro pessoas com conhecimento do assunto. Esta será a primeira ação da campanha de deportação em massa prometida pelo presidente eleito.

A operação deve começar na manhã de terça-feira (21), um dia após a posse de Trump, e se estenderá por toda a semana. O Serviço de Imigração e Controle de Alfândega dos EUA (ICE) enviará entre 100 e 200 agentes para executar a operação.

Trump concorreu à presidência com a ousada promessa de realizar a maior deportação em massa da história dos EUA.

A equipe de Trump pretende focar em imigrantes ilegais com antecedentes criminais — muitos com infrações consideradas menores pelo governo Biden, como violações de trânsito. No entanto, as fontes alertaram que qualquer outra pessoa em situação irregular presente durante uma prisão também será detida.

A equipe de transição considerou diversas cidades para essa operação inicial, com o objetivo de enviar um recado às chamadas “cidades santuário”, que adotam políticas de restrição à cooperação com autoridades federais de imigração. Chicago foi escolhida tanto pelo grande número de imigrantes potenciais alvos quanto pela rivalidade pública entre a equipe de Trump e o prefeito democrata da cidade, Brandon Johnson.

Embora ainda não esteja claro quantas pessoas serão alvo da operação, a equipe de Trump planeja trabalhar com veículos de mídia conservadores para amplificar a repercussão da ação.

Tom Homan, futuro chefe de fronteiras da administração, deu indícios sobre a operação durante uma visita a Chicago no mês passado.

“Vamos começar bem aqui em Chicago, Illinois”, disse Homan em uma festa de fim de ano no North Side da cidade. “Se o prefeito de Chicago não quiser ajudar, que se afaste. Mas se ele tentar nos impedir, se ele esconder ou proteger conscientemente um imigrante ilegal, eu vou processá-lo.”

Em resposta aos comentários de Homan, o governador de Illinois, JB Pritzker, democrata, afirmou: “Vou garantir que a lei seja cumprida. Estou preocupado que a administração Trump e seus aliados não sigam a lei.”

A equipe de transição de Trump e o ICE não responderam imediatamente aos pedidos de comentário na sexta-feira, assim como os representantes de Pritzker e Johnson.

Grandes centros de imigração, como Nova York, Los Angeles, Denver e Miami, também estão na mira da nova administração, e outras operações específicas podem ocorrer. Para viabilizar essas ações, a equipe de Trump estuda mudanças amplas que deem mais poder aos xerifes locais, oferecendo recompensas a jurisdições que cooperarem e impondo sanções financeiras às que resistirem.

Homan, por exemplo, já ameaçou publicamente prender o prefeito de Denver, que tem criticado abertamente os planos de imigração de Trump.

O Departamento de Polícia do Condado de Los Angeles afirmou em nota que, desde 2020, autoridades locais estão proibidas de colaborar com órgãos federais de imigração, que não podem usar propriedades, bancos de dados ou funcionários do condado sem um mandado federal. “Estamos aqui para proteger as comunidades que servimos, não para aplicar leis de imigração”, afirmou o departamento.

Os conselheiros de Trump disseram que pretendem penalizar as cidades santuário cortando bilhões de dólares em repasses federais.

Com a posse de Trump se aproximando, rumores sobre operações do ICE se espalharam nas redes sociais nos últimos dias. A Coalizão pelos Direitos Humanos dos Imigrantes de Los Angeles (CHIRLA) informou ter realizado mais de 140 workshops desde a eleição para orientar imigrantes sobre seus direitos, recursos legais e como agir se abordados por agentes do ICE.

Imigrantes em busca de asilo esperam para serem levados sob custódia por agentes da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA em Yuma, Arizona, EUA, no domingo, 20 de fevereiro de 2022. Foto: Nicolo Filippo Rosso/Bloomberg

“Se a intenção é instaurar um clima de terror e perseguição, a administração Trump está sendo muito eficaz”, disse Jorge-Mario Cabrera, porta-voz da CHIRLA.

Com o envelhecimento da população americana, a economia dos EUA tem se tornado cada vez mais dependente da mão de obra imigrante, especialmente nos setores de alimentação, construção civil e serviços.

Desde o fim de 2020, cerca de 10 milhões de pessoas migraram para os EUA, descontando aqueles que deixaram o país, tanto de forma legal quanto ilegal. Essas chegadas ajudaram a reduzir a escassez de mão de obra e impulsionaram o crescimento econômico.

Economistas e líderes empresariais afirmam que deportações na escala sugerida por Trump causariam um choque na economia, afetando setores essenciais já impactados por falta de trabalhadores.

Muitos eleitores sentiram que as políticas de fronteira do presidente Biden sobrecarregaram cidades e escolas pelo país. Na eleição de novembro, a imigração foi uma das principais preocupações dos eleitores, ficando atrás apenas da economia, segundo pesquisas.

Chicago se tornou um ponto de tensão política durante o governo Biden, quando o governador do Texas, Greg Abbott, começou a enviar ônibus com migrantes que buscavam asilo na fronteira sul para Chicago e outras cidades do norte. Desde agosto de 2022, mais de 51 mil migrantes chegaram à cidade, segundo dados da prefeitura.

Fasika Alem, diretora de programas da Organização Unida Africana em Chicago, afirmou que seu grupo e outras organizações têm se mobilizado para garantir que as pessoas conheçam seus direitos e tenham planos para cuidar de seus filhos caso sejam separadas.

“Estamos preparando nossa comunidade para estar pronta”, disse ela. “É assim que estamos lidando com a situação.”

O Departamento de Polícia de Chicago encaminhou qualquer questionamento sobre ações de imigração ao governo federal.

Em nota, o departamento citou a Lei da Cidade Acolhedora de Chicago, pela qual a polícia “não registra o status migratório” nem compartilha informações com autoridades federais de imigração. “Não vamos intervir ou impedir que outros órgãos governamentais desempenhem suas funções”, completou.

Escreva para Michelle Hackman em [email protected] e Joe Barrett em [email protected].

Traduzido do inglês por InvestNews

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