O grupo J&F, da família Batista, iniciou o ano com um apetite bastante diversificado por aquisições. Os alvos da vez, segundo o noticiário recente, são os campos de petróleo da Brava Energia (a fusão de 3R com Enauta) e uma fatia de 50% do Grupo Petrópolis, dono da Itaipava e de outras bebidas, como o energético TNT.

Essa variedade de itens no cardápio é uma demonstração do faro apurado dos irmãos Wesley e Joesley na busca por bons ativos em um momento de crise. A holding não comentou nenhuma das operações. Mas o modus operandi dos Batista em cada um desses segmentos dá pistas da estratégia que está por trás desses negócios.

No setor de alimentação, a J&F sempre priorizou marcas fortes para engordar seu portfólio. Foi assim na compra da americana Swift em 2007, ou na aquisição da Seara em 2013. O conglomerado ainda não tem uma empresa de bebidas, então não seria de se estranhar o interesse em uma companhia que detém cerca de 12% do mercado nacional de cervejas, como é o caso do grupo dono da Itaipava.

A informação, publicada inicialmente pelo colunista Lauro Jardim, é de que os irmãos Joesley e Wesley Batista estavam em conversas com Walter Faria, dono do Petrópolis, para comprar 50% da dona da Itaipava. O que é negado pelo Petrópolis, que afirma sua aquisição é constantemente alvo de especulação. “Isso só reforça o quanto nosso negócio é bom”, disse o grupo, em nota.

A especulação ganhou ainda mais força na tarde desta segunda-feira (20), quando o Valor Econômico noticiou que o grupo conseguiu um financiamento DIP (aquele destinado para empresas em recuperação judicial) de R$ 328 milhões com o Banco Original, que é da J&F. Vale lembrar que o Grupo Petrópolis está em recuperação judicial desde maio de 2023, à época com uma dívida de R$ 4,4 bilhões.

Esse empréstimo DIP, alegou o grupo à Justiça, é necessário para manter as operações da empresa. Importante destacar também que o financiamento não tem ações do Grupo Petrópolis como garantia, o que afasta a possibilidade deste empréstimo ser um passo inicial para a aquisição. “Esse aporte permite que sejam honrados compromissos financeiros assumidos pela companhia, sem afetar a operação”, disse o Petrópolis.

Energia e commodities

A outra investida do grupo J&F ocorre no setor de petróleo, com a Fluxus, adquirida em 2023 pela holding. A empresa entrou no processo competitivo para comprar campos de petróleo onshore (aqueles em terra firme) da Brava Energia, empresa que surgiu da fusão entre 3R e Enauta em agosto de 2024 e que está revendo seu portfólio desde então. O mercado avalia que os ativos possam valer R$ 2 bilhões.

Neste caso, a Fluxus concorre com outras quatro empresas, que também enviaram propostas aos bancos responsáveis pela venda. O processo ainda está em fase bem inicial.

Segundo a Reuters, a companhia de petróleo dos Batista quer expandir sua atuação no Brasil – atualmente, a Fluxus possui campos de petróleo na Argentina e na Bolívia. Ainda de acordo com a agência, o interesse da Fluxus nos ativos da Brava dependerá de análises mais aprofundadas.

Aqui vale destacar que a estratégia da holding para o setor de energia e commodities é de ir construindo um portfólio de ativos aos poucos, pinçando oportunidades.

Foi assim, por exemplo, com a Âmbar Energia, que foi comprando algumas usinas termelétricas ao longo dos anos até ter musculatura e conhecimento suficiente para uma grande cartada: a compra de um pacote de 12 usinas termelétricas da Eletrobras, consideradas o filé mignon da energia térmica, por R$ 4,7 bilhões no ano passado e que desencadeou também na controversa compra da Amazonas Energia meses depois.

Na mineração, também não foi diferente. A J&F Mineração, atualmente Lhg Mining, comprou quatro ativos de minério de ferro e manganês da Vale no Centro-Oeste por US$ 1,2 bilhão em 2022. Apesar de ser uma cifra expressiva, são ativos menores dentro do contexto da mineração. As plantas entregam cerca de 4 milhões de toneladas de minério por ano, com potencial de produzir até 10 milhões de toneladas anuais – ou cerca 3% do que a Vale produz em um ano.