Walter Salles levou o Oscar de melhor filme internacional pelo longa metragem ‘Ainda Estou Aqui’. Foto: Mike Coppola/Getty Images

O filme brasileiro “Ainda Estou Aqui” entrou para a história neste domingo (2) ao render ao Brasil seu primeiro Oscar em uma categoria principal, a de melhor filme internacional.

O longa metragem tem como pano de fundo a ditadura militar e conta a história real de uma mãe de cinco filhos cujo marido, Rubens Paiva, desaparece, levado pelos militares. Em seu discurso de agradecimento, o diretor Walter Salles dedicou o prêmio a Eunice Paiva, esposa de Rubens, que, segundo o diretor, decidiu “não se curvar e resistir”.

“Este prêmio vai para ela, Eunice Paiva, e vai para as duas mulheres extraordinárias que lhe deram vida, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro”, disse ele.

Walter Salles discursa após receber o Oscar por melhor filme internacional. Foto: Kevin Winter/Getty Images

Adaptado do livro de memórias de 2015 escrito por Marcelo Rubens Paiva, filho da protagonista Eunice Paiva, “I Am Still Here”, nome em inglês do filme, compartilha a história comovente de perda e resiliência da família diante da opressão.

A família Paiva foi uma das muitas vítimas do regime militar no Brasil, que durou 21 anos e foi estabelecido após um golpe de estado das forças armadas em 1964. Durante esse período, milhares de pessoas foram detidas, torturadas e centenas desapareceram à força, sendo que muitas foram exiladas e perseguidas.

Outras indicações

O filme já havia feito história por ter sido um dos dez indicados na categoria de melhor filme, a primeira fez que uma produção brasileira competiu na categoria, e pela indicação de Fernanda Torres, que interpretou Eunice, para a categoria de melhor atriz.

Ambas as categorias foram vencidas por “Anora”, um filme independente americano que retrata a realidade de uma trabalhadora do sexo em Nova York. A produção de baixo orçamento conquistou cinco das seis estatuetas às quais estava concorrendo, com Mikey Madison vencendo o Oscar de melhor atriz e o diretor Sean Baker sendo premiado nas categorias de melhor roteiro, melhor edição, melhor direção e melhor filme — dividindo esse último prêmio com os produtores do longa metragem.

Mikey Madison, vencedora do Oscar de melhor atriz em 2025 por ‘Anora’, com Fernanda Torres e Walter Salles após a cerimônia de premiação. Foto: Getty Images

Repercussão

Logo depois do anúncio da vitória brasileira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou suas contas nas redes sociais para comemorar o prêmio.

“Hoje é o dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. Orgulho do nosso cinema, dos nossos artistas e, principalmente, orgulho da nossa democracia”, escreveu. “O Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui é o reconhecimento do trabalho de Walter Salles e toda equipe, de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, Selton Mello, do Marcelo Rubens Paiva e família e todos os envolvidos nessa extraordinária obra que mostrou ao Brasil e ao mundo a importância da luta contra o autoritarismo.”

Walter Salles e Fernanda Torres no tapete vermelho do Oscar 2025. Foto: Monica Schipper/Getty Images

Brasil no Oscar

O último filme brasileiro a ser indicado pela Academia na categoria internacional foi “Central do Brasil”, em 1999, também dirigido por Salles.

Em 1960, a coprodução França, Itália e Brasil “Orfeu Negro”, com um elenco predominantemente brasileiro e direção francesa, venceu a categoria internacional, mas quem recebeu o prêmio foi a França.