
A aquisição da Avon pela Natura, anunciada em maio de 2019, parecia um momento de virada de chave para a empresa brasileira de cosméticos. A marca nacional se tornaria uma gigante global com valor de mercado de US$ 16 bilhões e cerca de R$ 60 bilhões em ativos.
Cerca de cinco anos mais tarde, a Natura anuncia uma reorganização societária que, na prática, reverte todo o movimento feito para a aquisição da Avon. É, basicamente, uma volta às origens e, de certa forma, um reconhecimento de que a estratégia de expansão internacional se revelou equivocada.
Na reorganização confirmada nesta quarta-feira (26), a companhia vai extinguir sua holding não operacional (a Natura &Co), criada em 2019 para englobar as operações da Natura Cosméticos, que responde pelo mercado brasileiro, e pelas marcas globais adquiridas no período, a The Body Shop, Aesop e a Avon.
Na solução comunicada ao mercado a Natura Cosméticos passará a ser a holding operacional do grupo e vai incorporar a Natura & Co. A assembleia geral para aprovar a operação está marcada para 25 de abril. A aprovação também está sujeita à autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para a conversão do emissor e da listagem no Novo Mercado da B3.
A reestruturação vem acompanhada de uma significativa mudança em sua liderança executiva.
João Paulo Ferreira, atual CEO da Natura Cosméticos, passará a ser o principal executivo da Natura e vai ganhar assento no conselho. Já Guilherme Castellan deixará o posto de CFO. Silvia Vilas Boas, atual CFO para América Latina, assumirá a área financeira de toda a companhia e o cargo de diretora de Relações com Investidores a partir de 25 de abril.
Fábio Barbosa, que assumiu em 2022 o comando da empresa em meio à turbulência pós-pandemia, deixará as funções operacionais para presidir o Conselho de Administração da Natura Cosméticos. O cargo atualmente é dividido pelos fundadores Guilherme Leal, Pedro Passos e Antônio Seabra, que juntos detêm 38,4% do capital da empresa.
O conselho de administração da nova estrutura continuará contando com a presença dos fundadores, além de Bruno Rocha, Duda Kertesz e Gilberto Mifano. A novidade é a entrada de Alessandro Carlucci, que já atuou como CEO da Natura no passado. Por outro lado, Carla Schmitzberger deixará o Conselho após sete anos.
A nova estrutura, segundo a companhia, busca “destravar valor aos acionistas” e recuperar a lucratividade. A Natura registrou um prejuízo de cerca de R$ 8,929 bilhões em 2024 e hoje seu valor de mercado caiu para a casa dos US$ 2,3 bilhões, quase sete vezes menor do que o pico logo após a aquisição da Avon há cinco anos.
A Natura vendeu a Aesop em agosto de 2023 e a The Body Shop em dezembro do mesmo ano. Quanto à Avon, está sendo negociada com a gestora IG4 para a venda das operações Avon fora da América Latina, sem exclusividade.
O grupo avalia ainda estratégias alternativas como parcerias e um “spin-off”, ou seja, uma separação de negócios.