A Pfizer anunciou nesta segunda-feira (14) que interrompeu o desenvolvimento do danuglipron, a “pílula de emagrecimento”. Com isso, fracassou a principal aposta da farmacêutica para concorrer no lucrativo mercado de perda de peso, atualmente dominado pelas injeções da Novo Nordisk, com o Ozempic e o Wegovy, e da Eli Lilly, que produz o Zepbound.

Em um comunicado, a gigante farmacêutica anunciou que “descontinuou” o desenvolvimento de seu medicamento experimental de maior destaque após o danuflipron ter sido associado a danos hepáticos em pacientes em um ensaio clínico.

Um paciente que recebia o medicamento desenvolveu sinais de lesão hepática, informou a Pfizer. Como resultado, a empresa não avançará com o medicamento de uso diário para a fase final de testes e, em vez disso, investirá em tratamentos em estágio inicial para o mercado de obesidade que ela visava em seus planos de recuperação pós-Covid.

Os riscos já haviam sido observados em 2024, mas os testes do novo medicamento nos pacientes só foram encerrados no fim do primeiro trimestre deste ano.

Reação do mercado

As ações da Pfizer subiram menos de 1% quando os mercados abriram em Nova York, enquanto a Novo subiu 3,8% em Copenhague e a Lilly teve alta de até 3,2%. A Viking Therapeutics, que também está trabalhando em uma pílula para obesidade, chamada VK2735, disparou até 22%, enquanto a Structure Therapeutics subiu até 14%.

Esse revés da Pfizer “vem como um desenvolvimento revigorante para os acionistas da Viking”, escreveu o analista da William Blair, Andy T. Hsieh, em uma nota para clientes.

Pós-Covid

A Pfizer fez da competição no mercado da obesidade um ponto central de seu plano de recuperação pós-Covid. À medida que a demanda por vacinas e terapias contra o coronavírus diminui, o negócio de venda de tratamentos para perda de peso tem crescido — e espera-se que alcance US$ 130 bilhões até o final da década.

Pílula do emagrecimento

A Pfizer já estava atrás da concorrência. A Lilly, cuja injeção semanal Zepbound rapidamente alcançou quase US$ 5 bilhões em vendas anuais após a aprovação nos EUA em 2023, também possui um tratamento oral na fase final de desenvolvimento. A AstraZeneca Plc também está desenvolvendo um composto oral para obesidade.

Anteriormente, a Pfizer teve que interromper o desenvolvimento de uma versão de danuglipron com administração duas vezes ao dia depois que altas taxas de náusea e vômito levaram pacientes a desistir de um estudo intermediário de cerca de 1.400 pessoas. Meses antes, a empresa abandonou outro medicamento oral para obesidade que mostrou efeitos preocupantes no fígado em um ensaio clínico.

“O fato de a Pfizer não alocar recursos significativos de P&D para uma molécula que não é a melhor da classe é uma coisa boa”, escreveu o analista da Evercore ISI, Umer Raffat, em uma nota para investidores.

Albert Bourla, CEO da Pfizer
Albert Bourla, CEO da Pfizer. Foto: Bloomberg/Stefan Wermuth/Bloomberg

Alternativas para a Pfizer

A Pfizer tem cerca de US$ 15 bilhões reservados para futuros negócios, e a empresa espera desempenhar um papel no mercado da obesidade nos próximos anos, disseram executivos. A Pfizer poderia buscar adquirir um tratamento de próxima geração para perda de peso, escreveu o analista da BMO, Evan Seigerman, em uma nota para clientes, o que significaria outro medicamento oral ou uma droga injetável que possa melhorar os tratamentos aprovados da Lilly e da Novo.

De qualquer forma, os resultados intensificarão a pressão sobre o CEO da Pfizer, Albert Bourla, que repetidamente apontou para o pipeline da empresa como uma fonte subvalorizada de crescimento futuro. Espera-se que a empresa perca cerca de US$ 15 bilhões em receita até o final da década à medida que medicamentos-chave perdem a proteção de patente.

Uma série de aquisições de vários bilhões de dólares ainda não gerou novos blockbusters, e o pipeline interno da Pfizer gerou pouca empolgação. As ações da empresa caíram mais de 60% desde seu pico pandêmico em 2021.