A farmacêutica Moderna já foi a queridinha do primeiro governo de Donald Trump, empenhado em ajudar a empresa a desenvolver vacina contra a Covid-19, que protegeu milhões de pessoas do vírus. Agora, a empresa de biotecnologia está no meio do fogo cruzado no segundo mandato de Trump, quando a fabricação de vacinas é criticada.
No mais recente revés para a Moderna, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou na sexta-feira (30) a vacina de próxima geração contra a Covid para uma população mais restrita de pacientes do que pretendia a empresa. A aprovação garante o uso da vacina apenas para idosos e pessoas de 12 a 64 anos com problemas de saúde.
Mudanças
A Moderna está em uma posição difícil. A empresa apostou alto no mRNA, a tecnologia usada em suas vacinas, para desenvolver produtos que possam tratar ou prevenir diferentes doenças.
Mas depois de enriquecer com sua vacina contra a Covid, a Moderna não conseguiu diversificar a produção. Isso se tornou prejudicial para a companhia, pois o governo Trump vê a tecnologia com olhos críticos e busca reformular a regulamentação, as recomendações e o desenvolvimento de vacinas.
O Health and Human Services (algo como ‘Departamento de Saúde e Serviços Humanos’ – HHS) cancelou recentemente um contrato de US$ 766 milhões que foi concedido à Moderna para desenvolver vacinas baseadas em mRNA para gripe em nível pandêmico, incluindo a gripe aviária.
A FDA lançou uma nova estrutura para aprovar vacinas contra a Covid, introduzindo regras mais rigorosas que exigem mais testes. E a Moderna retirou da agência seu pedido de aprovação para sua vacina combinada contra gripe e Covid, possivelmente porque, segundo analistas, o produto teria ficado aquém dos novos padrões.
Queda das ações
A empresa está buscando cortar custos e encontrar um novo caminho pós-pandemia. Suas ações caíram cerca de 35% este ano devido à baixa demanda pela vacina contra a Covid e às vendas decepcionantes de sua vacina contra o vírus sincicial respiratório. O preço das ações da Moderna, que em 2021 atingiu o pico de US$ 484, caiu para níveis anteriores à pandemia, de cerca de US$ 25.
“É apenas um momento ruim para o negócio de vacinas”, disse Jared Holz, estrategista de saúde da empresa financeira Mizuho. “A tendência mostrada por este governo certamente não está a seu favor.”
O HHS continuará buscando avanços por meio de tecnologias baseadas em evidências que atendam ao padrão ouro da ciência, disse uma porta-voz.
Os problemas da Moderna ressaltam o quanto o ambiente regulatório mudou desde a reeleição de Trump. A nova estrutura para aprovação exige que novas vacinas contra a Covid para certas crianças e adultos sejam submetidas a ensaios randomizados e controlados.
O secretário do HHS, Robert F. Kennedy Jr., um cético de vacinas de longa data, disse recentemente que algumas vacinas contra doenças respiratórias, incluindo as de mRNA, “nunca funcionaram”.
Em meados de maio, Kennedy disse que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças não recomendaria que mulheres grávidas e crianças recebessem vacinas contra a Covid-19.
Catálogo limitado
Embora muitos fabricantes de vacinas, incluindo a Pfizer, enfrentem ventos contrários do governo, a maioria está melhor posicionada porque vende mais produtos.
A Moderna tem apenas três vacinas aprovadas e luta para avançar sua produção, que inclui tratamentos para câncer e doenças raras e vacinas para o vírus do herpes e da doença de Lyme.
Ao retirar o pedido de aprovação de uma vacina contra a gripe e a Covid, a Moderna informou que o fez após consultar a FDA, que pediu mais dados sobre a gripe, e o reenviaria depois que os resultados do estudo chegassem, ainda este ano.
Gripe aviária
O contrato do governo foi concedido durante o governo Biden, e a vacina contra a gripe aviária mostrou resultados positivos em um estudo em estágio inicial, disse a Moderna.
Mas o governo rescindiu o contrato depois de concluir que a vacina contra a gripe aviária “não era científica ou eticamente justificável”, disse um porta-voz do HHS na época. “Não se trata simplesmente de eficácia — trata-se de segurança, integridade e confiança”, disse ele, acrescentando que o mRNA “permanece pouco testado”.
Um porta-voz da Moderna disse que os “resultados durante a pandemia falam por si, incluindo a eficácia demonstrada e um perfil de segurança estabelecido em mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo”.
O CEO da Moderna, Stephane Bancel, disse em uma conferência com investidores em maio que o novo governo parece focado na vacinação contra a Covid para pessoas de alto risco, uma meta que ele disse ser um “número total positivo” e um grande mercado.
Bancel afirmou ainda que a Moderna entende que tem o ônus de provar a segurança e a eficácia de seus produtos baseados em uma tecnologia mais recente.
“Temos exatamente o mesmo objetivo”, disse Bancel. “Não gostaríamos de colocar no mercado um produto que não seja eficaz, que não seja seguro.”
Antes de a pandemia fazer da Moderna um nome conhecido, a empresa não tinha produtos aprovados pela FDA. Então, em 2020, recebeu bilhões para o desenvolvimento da vacina contra a Covid como parte da Operação Warp Speed de Trump, que ajudou a apoiar os testes de vacinas em milhares de pessoas.
Tecnologia
A vacina contra a Covid da Moderna passou a ser usada globalmente e tem o crédito de ter salvado milhões de vidas. Ela elevou as vendas anuais da empresa para quase US$ 20 bilhões por dois anos, e sua equipe cresceu, chegando a 5.800 pessoas.
A Moderna assumiu seu próximo objetivo: tratar ou prevenir certas doenças apostando na tecnologia de mRNA. Mas o desenvolvimento de novos produtos de mRNA está lento.
Alguns estudos para outras vacinas não produziram os dados que a Moderna esperava e outros enfrentaram contratempos regulatórios. A vacina da Moderna para o vírus sincicial tem tido dificuldade para garantir participação de mercado contra as vacinas da Pfizer e da GSK, com vendas abaixo do esperado.
Além disso, a empresa não investiu para ir além do mRNA, algo que a deixa dependente de uma tecnologia para crescer.
“Eles construíram um tanque para a guerra e agora a guerra acabou”, disse Holz. “Na minha opinião, eles não têm mais um negócio.”
No final do ano passado, a Moderna disse que cortaria os custos de pesquisa em 20% e alguns funcionários, e reduziria a produção de medicamentos experimentais. Começou 2025 aumentando esses números e prometeu mais US$ 1 bilhão em cortes de custos.
A empresa também continuou investindo no desenvolvimento de medicamentos. Tinha US$ 8,4 bilhões em mãos em 31 de março, abaixo dos US$ 9,5 bilhões de três meses antes.
Holz disse que a Moderna deve levantar dinheiro ou emitir dívidas, porque poderá ficar sem capital em 18 meses.
A Moderna informou que espera terminar o ano com cerca de US$ 6 bilhões em caixa e investimentos, e planeja reduzir gastos e parar de perder dinheiro em 2028.
Além disso, a companhia já informou que não vai buscar injeção de capital.
O futuro da Moderna depende do sucesso das vacinas que está desenvolvendo, de mais aceitação da nova vacina contra a Covid e da possível expansão de sua vacina contra o vírus sincicial. A FDA deve decidir sobre essa expansão em junho.
Traduzido do inglês por InvestNews
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