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Por Gabriel Araujo e Allison Lampert

A operadora de jatos particulares Flexjet, um importante cliente norte-americano da Embraer, sugeriu nesta quinta-feira que irá manter um acordo com a fabricante brasileira de aviões, apesar da turbulência causada pelas novas tensões comerciais entre Estados Unidos e Brasil.

O presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou na quarta-feira a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras a partir de 1º de agosto.

As ações da Embraer chegaram a cair até 8% com as declarações de Trump, antes de devolverem parte das perdas e encerrarem em queda de 3,7%. No ano, os papéis da companhia ainda sobem 34%, em meio à demanda por seus jatos executivos e aviões regionais.

As tarifas mais altas representam um novo desafio para a Embraer, especialmente em um momento em que as companhias aéreas dos EUA, o maior mercado de aviação regional e particular do mundo, enfrentam uma desaceleração na capacidade e na demanda por viagens domésticas.

Questionada sobre um acordo firmado em fevereiro com a Embraer para a compra de até 212 jatos particulares, avaliados em até US$ 7 bilhões com base no preço de tabela, a Flexjet, sediada em Cleveland, Ohio, disse que seus clientes tendem a “prosseguir” com tais decisões.

“Com base em meus 40 anos na indústria, este grupo de compradores tende a seguir com suas decisões independentemente, dadas suas prioridades e comportamento de compra anterior”, disse o presidente da Flexjet, Kenn Ricci, em comunicado.

“No curto prazo, as aeronaves que já estão sob contrato com fabricantes estrangeiras estão cobertas por acordos existentes. Se as tarifas sobre aeronaves fabricadas no exterior realmente aumentarem, os fabricantes provavelmente absorverão parte do impacto inicial desses pedidos comprometidos”, disse ele, mas acrescentou que, com o tempo, “esses custos adicionais serão repassados ao comprador”.

As entregas da Flexjet estão previstas para começar em 2026.

Impacto da tarifa

A Embraer, terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, disse em um comunicado que está avaliando os possíveis impactos das tarifas e que fornecerá mais comentários na sua conferência de resultados do segundo trimestre, em 5 de agosto.

Atualmente, as importações brasileiras para os EUA estão sujeitas a uma tarifa de 10%, mas a Embraer pode deduzir o conteúdo produzido em solo norte-americano nas suas aeronaves, e alguns de seus jatos são montados na Flórida.

Analistas do Itaú BBA afirmaram que 60% da receita da Embraer vem da América do Norte, sendo que três quartos desse montante podem estar expostos às tarifas. Eles estimaram um impacto potencial de US$150 milhões sobre o lucro antes de juros e impostos (Ebit) da Embraer de agosto a dezembro.

De acordo com os registros da empresa em 31 de março, a American Airlines tem contratos de compra para 90 jatos E175 da Embraer, com entregas em 2025 e além. A American não quis comentar sobre as tarifas antes da divulgação de seu resultado trimestral marcada para este mês.

A Alaska Airlines, que em junho informou ao Seattle Times que havia adiado a entrega de dois jatos E175 devido às tarifas, não estava imediatamente disponível para comentários.

Não ficou claro se a Embraer pode tentar pressionar companhias aéreas norte-americanas que são suas clientes a cobrir quaisquer custos associados às entregas adiadas.

A montagem dos jatos executivos da Embraer é concluída na Flórida, mas partes importantes dos aviões, como a fuselagem do Phenom, vêm do Brasil.

Tarifas mais elevadas podem ter um impacto maior sobre o menor jato da Embraer, o Phenom 100, que é produzido em baixos volumes e tem margens menores, disse uma fonte do setor.

“O segmento inferior da família de jatos executivos é mais sensível ao preço”, disse Brian Foley, analista de aviação executiva dos EUA.

As aeronaves estão entre as principais importações norte-americanas do Brasil, juntamente com petróleo, produtos siderúrgicos, café e suco de laranja.

“Embora vejamos o anúncio de Trump principalmente como uma alavanca de negociação, esperamos que a preocupação dos investidores permaneça alta, dado o impacto potencial significativo que uma tarifa de importação de 50% sobre os produtos brasileiros implicaria para a Embraer”, afirmaram analistas da XP.