Muitas vezes, é um fabricante, um despachante logístico ou aduaneiro ou, em alguns casos, o próprio varejista que encomendou a remessa.
Mas economistas e outros especialistas têm observado sinais de quem, em última análise, arcará com o custo. Serão os fornecedores estrangeiros, reduzindo os preços no início, ou os consumidores, pagando preços mais altos no caixa? Ou serão as empresas americanas que ficam no meio do caminho que arcarão com o ônus?
Está cada vez mais claro que as empresas americanas, da General Motors e Nike à floricultura local, estão absorvendo grande parte dos custos por enquanto.
Participação de mercado
Em um mercado competitivo, uma empresa que aumenta os preços pode perder participação de mercado para uma rival que mantém seus preços estáveis. Muitas relutam em aumentar os preços até que seja absolutamente necessário e até que saibam que as tarifas em constante mudança continuarão em vigor. Em alguns casos, as empresas afirmaram que planejam aumentar os preços nos próximos meses.
Situação do Brasil à parte, alguma estabilidade pode estar a caminho. Os EUA fecharam acordos com a União Europeia e o Japão para tarifas de 15% sobre produtos importados.
Isso proporciona mais clareza, mas também pode desencadear aumentos mais gerais de preços em milhares de importações.
Há sinais de que alguns fornecedores estrangeiros, especialmente de produtos chineses que agora têm uma tarifa extra de 30%, reduziram alguns preços para ajudar. Esse apoio não chega nem perto dos níveis prometidos por Trump quando disse que os países estrangeiros pagariam a conta.
A inflação começou a subir para alguns produtos tarifados, incluindo móveis, brinquedos e roupas. Até agora, esses aumentos têm sido relativamente moderados. A inflação de junho subiu para 2,7% em relação ao ano anterior, contra um aumento de 2,4% em maio.
O aumento foi mais lento do que o esperado, em parte porque muitas empresas deixaram de comprar ou estocaram antes da entrada em vigor das tarifas, e em parte porque as empresas estão optando por absorver o impacto. Por enquanto.
“As empresas americanas ainda estão arcando com a maior parte da conta das tarifas, e ainda não repassaram uma grande parte do custo tarifário aos consumidores”, disse Preston Caldwell, economista-chefe da Morningstar para os EUA.
Sinais da queda nos lucros estão aparecendo nos relatórios das companhias.
A General Motors informou esta semana que pagou mais de US$ 1 bilhão em tarifas sobre importações de automóveis no segundo trimestre. A empresa não implementou aumentos de preços em larga escala em resposta às tarifas, mas não descartou aumentos de preços, segundo disse a CEO Mary Barra na terça-feira.
A Stellantis, empresa holandesa controladora das marcas americanas Ram e Jeep, anunciou esta semana que as tarifas sobre importações de automóveis reduziram seus lucros em US$ 350 milhões.
As tarifas reduziram o lucro da RTX, informou a empresa aeroespacial e de defesa. A fabricante de brinquedos Hasbro afirmou na quarta-feira que o impacto financeiro das tarifas foi menor do que o esperado no último trimestre, mas que alguns dos efeitos ainda podem estar por vir. As tarifas provavelmente criarão uma despesa de US$ 60 milhões para todo o ano fiscal, informou a diretoria da empresa.
“Os preços dos brinquedos devem subir ainda neste ano”, disse Chris Cocks, CEO da Hasbro. “Normalmente, um brinquedo leva de cinco a oito meses para ir da fábrica às prateleiras”, disse ele. Por enquanto, alguns varejistas estão adiando suas compras, e a Hasbro está compensando os custos mais altos das tarifas com cortes de custos, trabalhando com novos fornecedores, lançando novos produtos e aumentando os preços, disse ele.
No mês passado, executivos da Nike disseram que as tarifas reduziriam o lucro da empresa em cerca de US$ 1 bilhão neste ano fiscal, com a maior parte do impacto no primeiro semestre, antes que seus esforços de mitigação pudessem entrar em vigor. O aumento “cirúrgico” no preço dos produtos chegará às prateleiras ainda este ano, disse Matthew Friend, diretor financeiro da Nike.
Economistas estimam que a alíquota média efetiva de tarifas sobre todos os produtos importados esteja agora próxima de 17%, acima dos 2,3% do ano passado.
Preços
O índice de preços de importação, que acompanha o que os importadores pagam por muitos produtos produzidos no exterior antes da cobrança de tarifas, manteve-se estável nos últimos meses.
Alguns economistas consideram isso um sinal de que os fornecedores estrangeiros não estão reduzindo seus preços de forma generalizada para compensar os custos para seus clientes nos EUA.
O Goldman Sachs realizou o que chamou de uma análise mais granular dos preços de importação e concluiu que as empresas estrangeiras, especialmente as chinesas, parecem estar absorvendo cerca de 20% dos custos tarifários por meio de cortes de preços.
Impactos mais amplos para os consumidores podem estar a caminho. Em maio, o Walmart afirmou que havia começado a aumentar os preços de alguns produtos para compensar o custo das tarifas e que mais aumentos de preços ocorreriam neste verão (no hemisfério norte). Por exemplo, em maio, executivos do Walmart afirmaram que as tarifas sobre produtos da América do Sul e Central elevaram o preço da banana, um dos itens mais comprados no Walmart, de US$ 0,50 por libra para US$ 0,54 por libra.
Ao contrário de empresas menores, o Walmart pode usar seu poder de compra e sua cadeia de suprimentos global para oferecer preços mais baixos do que muitos concorrentes. Os maiores fornecedores do Walmart são China, México, Canadá, Vietnã e Índia, segundo executivos.
“Continuaremos a ser líderes em preços”, disse o diretor financeiro do Walmart, John David Rainey, em junho, quando questionado sobre tarifas em uma conferência com investidores. Para itens de preços mais altos, como churrasqueiras importadas, o Walmart comprou menos estoque para compensar a esperada desaceleração nas vendas devido aos aumentos de preços relacionados às tarifas, disse ele.
Muitas grandes empresas têm hesitado em vincular os aumentos de preços diretamente às tarifas, com medo de atrair a ira de Trump. Dias depois de o Walmart anunciar que alguns preços aumentariam em maio, Trump publicou online que o Walmart e a China deveriam “absorver as tarifas”, e não aumentar os preços. Quando vários outros grandes varejistas divulgaram seus lucros na semana seguinte, incluindo a Home Depot e a Target, eles enfatizaram seus esforços para resistir aos aumentos de preços.
Empresas menores
Shayai Lucero, uma florista perto de Albuquerque, Novo México, está arcando com parte do custo extra das tarifas, ao mesmo tempo em que aumenta os preços. As rosas de caule longo importadas da América do Sul que ela compra de atacadistas dos EUA costumavam custar de US$ 1,15 a US$ 1,35 cada, mas agora estão custando de US$ 1,95 a US$ 2,15 cada. Isso a forçou a aumentar o preço de um vaso com uma dúzia de rosas de US$ 60 para US$ 69, disse ela.
As coroas de flores e espumas que ela importa da China também aumentaram de preço desde que Trump impôs tarifas de 30% sobre essas importações. Uma coroa de flores em formato de coração da China, que custava US$ 24, recentemente saltou para US$ 38. Isso e os preços mais altos das flores reduziram o lucro de um arranjo que ela fez recentemente para um funeral de US$ 30 para US$ 6, informou.
Ela teme que preços mais altos possam levar à perda de negócios. “É aquela linha tênue entre perder clientes ou continuar no mercado?”, disse ela. Para cortar custos, ela está eliminando algumas coroas de flores caras de sua linha, incluindo aquelas no formato das palavras Mamãe e Papai, e está pedindo aos membros da comunidade que doem vasos para seu negócio.
Algumas empresas de calçados anunciaram planos para aumentar os preços nas próximas semanas, disse Matt Priest, CEO da Footwear Distributors and Retailers of America, uma associação comercial do setor de calçados.
“Grande parte do impacto já foi absorvido pela marca e pelo varejista, mas eles não conseguem fazer isso por muito tempo”, disse Priest sobre suas empresas associadas. Cerca de 99% dos calçados vendidos nos EUA são importados da China, Vietnã, Itália e outros países.
Traduzido do inglês por InvestNews
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