O segundo trimestre do Mercado Livre foi recebido com um susto: depois de caírem quase 7% no after market do mercado americano, as ações da companhia iniciaram a sessão na Nasdaq perdendo cerca de 4%. Mas, ao longo do dia, o humor virou e, por volta das 13 horas, o papel subia 1,22%.

O vaivém do preço da ação é a reação típica dos momentos em que os números negativos do desempenho da companhia escondem uma história mais positiva. É que o lucro líquido ajustado do Meli ficou em US$ 523 milhões, 1,5% abaixo do registrado em igual período do ano passado, 17% aquém das projeções do BTG Pactual e 12% abaixo do esperado pelo Itaú BBA, por exemplo.

Já a margem líquida recuou 2,8 pontos percentuais, para 7,7%, pressionada principalmente pelos novos subsídios de frete e maiores gastos com marketing no Brasil.

Depois da decepção imediata com a fotografia, o mercado olhou para uma história mais ampla — e estratégica. O trimestre marcou uma mudança de postura do Meli diante da concorrência de Shopee e Temu, especialmente no Brasil.

A nova política de frete grátis para compras a partir de R$ 19, lançada em junho, impulsionou o número de itens vendidos no mês (+34%) e ajudou a acelerar o crescimento do volume de vendas (GMV), que avançou 29% no país no trimestre, em moeda local.

Além disso, a base de compradores únicos ativos chegou a 70,8 milhões, crescimento de 25% — o maior desde o primeiro trimestre de 2021. O engajamento também subiu: o número médio de itens comprados por usuário aumentou 5%, para 7,8. A expansão ocorreu sem perda de eficiência logística: 52% das entregas foram feitas no mesmo dia ou no dia seguinte, alta de 28% ano contra ano.

Para um gestor que acompanha o papel, mesmo com o custo de margem, a resposta da MELI foi acertada. “Demorou um pouco para reagir à Shopee, mas agora reagiu direito. Criaram uma boa equação econômica para o seller jogar nesse segmento de tíquete mais baixo. Isso deu uma estragada na brincadeira da concorrente.”

A receita líquida total cresceu 34%, para US$ 6,8 bilhões, com crescimento de 61% em base cambial neutra. O lucro operacional bateu recorde, em US$ 825 milhões, e a geração de caixa ajustada chegou a US$ 454 milhões.

Para o gestor, o movimento do Meli no e-commerce também reforça seu posicionamento como “everything store” no Brasil. “Agora vende de tudo: de supermercado a TV. E mesmo nas categorias que não trazem tanto lucro, elas trazem frequência, recorrência. Isso importa muito para um ecossistema desse tamanho.”

Negociado a cerca de 46 vezes o lucro estimado para os próximos 12 meses, o Meli tem pouco espaço para tropeços. Mas a percepção é de que o recado deste trimestre não foi de fraqueza, e sim de ataque.