A Braskem reportou um dos trimestres mais fracos de sua história recente — com prejuízo, queima de caixa e endividamento recorde —, levando suas ações ao menor patamar em 15 anos. No pregão desta quinta-feira (7), os papéis chegaram à mínima de R$ 8,16, queda de 4,0% em relação à abertura, refletindo o peso do balanço e o momento de fragilidade da companhia.

Foi nesse cenário que começou a circular no mercado uma informação capaz de devolver algum fôlego às expectativas: a possível venda das operações nos Estados Unidos, negócio estimado em cerca de US$ 1 bilhão.

Ao longo do dia, reduziram parte das perdas fecharam o dia a R$ 8,39, queda diária de 1,53%, mas alta de pouco mais de 2% sobre a mínima do dia — um alívio parcial, mas insuficiente para mudar o tom negativo.

O balanço

No segundo trimestre de 2025, a Braskem registrou prejuízo líquido de R$ 267 milhões. A receita líquida foi de R$ 17,86 bilhões, pressionada por queda de volumes no México e pela redução de preços no mercado internacional.

O lucro operacional (Ebitda) recorrente despencou 77% em dólares na comparação anual, para US$ 74 milhões, com a margem Ebitda recuando para 2%, afetada pelo custo mais alto de matérias-primas em estoque. No período, a empresa consumiu R$ 1,45 bilhão de caixa.

A dívida líquida ajustada encerrou o trimestre em US$ 6,8 bilhões (R$ 37,1 milhões), e a alavancagem (dívida líquida ajustada pelo Ebitda dos últimos 12 meses) saltou de 6,79 para 10,59 vezes em um ano — patamar considerado insustentável para qualquer empresa.

Planta petroquímica da Braskem em Duque de Caxias (RJ)
Planta petroquímica da Braskem em Duque de Caxias (RJ) (Bloomberg)

A piora foi tamanha que justificou um rebaixamento pela agência Fitch do rating de crédito global da Braskem de “BB+” para “BB”, com perspectiva estável — sinal de que o mercado enxerga o endividamento elevado e a fraca geração de caixa como risco crescente.

Justamente no dia em que essa fotografia negativa foi apresentada, surgiu a informação – confirmada por fontes ouvidas pelo InvestNews – de que a Unipar fez um pedido formal para acessar as informações financeiras dos ativos da Braskem em solo americano.

Após negar inicialmente que estivesse em conversas com a Unipar, a Braskem confirmou nesta sexta-feira (8) que abriu negociações com a concorrente, mas que ainda não há nenhuma proposta firme ou contrato assinado.

Embora inicial, essa negociação pode representar uma alternativa para levantar capital em um momento em que a Braskem é cobrada por medidas mais contundentes para reequilibrar sua estrutura financeira.

Frank Geyer Abubaki, controlador da Unipar
Frank Geyer Abubaki, controlador da Unipar (Ilustração: João Brito)

Nos bastidores, integrantes da gestão reconhecem que o setor vive uma das fases mais desafiadoras das últimas décadas, com margens comprimidas, demanda fraca e excesso de oferta global. A leitura interna é de que o ciclo ainda deve demorar a virar, mantendo a pressão sobre caixa e estratégia.

Controle em disputa

A indefinição sobre o controle da Braskem segue no pano de fundo. A Novonor (ex-Odebrecht) ainda busca um comprador, com Nelson Tanure e a gestora IG4 na disputa, sob o olhar da Petrobras — que deverá ter a palavra final sobre qualquer acordo.

Fontes próximas à administração reconhecem que o impasse gera ruído e dificulta decisões de longo prazo na petroquímica, consumindo energia e foco da companhia.

Unipar tenta de novo

Com o interesse nas operações da Braskem nos EUA, a Unipar volta ao centro das atenções do setor químico. Não é a primeira vez. A empresa já tentou comprar o controle da própria Braskem e, mais recentemente, negociou um ativo industrial americano — sem sucesso.

Fontes de mercado dizem que a companhia tem apetite por ativos em terreno americano, mas avança com parcimônia. Desta vez, porém, o cenário mostra a empresa bem posicionada: a Unipar encerrou o primeiro trimestre de 2025 com R$ 1,48 bilhão em caixa e uma dívida líquida de R$ 959 milhões, resultando em uma alavancagem de 0,88x – estrutura de capital lhe dá fôlego para aquisições

Resta saber se o movimento vai além das sondagens — ou se será mais uma aproximação que não se concretiza.