Nem o ouro escapou das turbulências das tarifas de Trump. O preço do metal precioso chegou a quebrar o recorde intradiário nesta sexta-feira após a revelação de que o governo dos Estados Unidos decretou tarifas de 39% sobre as importações de barras de ouro de 1 kg vindas da Suíça.

A medida tem o potencial de reduzir a oferta de ouro nos EUA, já que o país europeu é líder no refino do metal. Daí a reação do mercado.

Os contratos futuros de ouro para dezembro, o mais negociado no mercado, tocaram na máxima de US$ 3.534 a onça troy nesta sexta-feira. Depois os preços cederam um pouco: o metal negociava com alta de 1,27% a US$ 3.497,10 na Comex, em Nova York, às 10h50.

A reclassificação da barra de ouro de 1 kg sob um novo código aduaneiro que os sujeita a tributos pegou o mercado de surpresa. A tarifa de 39% sobre as exportações da Suíça para os EUA passou a valer na quinta-feira. Mas ninguém tinha se atido que ela valeria para barras de ouro também. O entendimento tradicional é o de que o ouro não é exatamente uma mercadoria, mas um ativo financeiro. De certa forma, seria como tarifar ações ou francos suíços, o que não faria o menor sentido.

O detalhe estava na carta de decisão — usada pelos Estados Unidos para esclarecer sua política comercial — desde o dia 31 de julho. Quem percebeu foi o Financial Times. O jornal britânico encontrou a tarifa nas “letras miúdas” da carta e publicou na quinta.

A agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP, na sigla em inglês) informou que as barras de ouro estão sujeitas a tarifas e não estão isentas, como o setor havia entendido inicialmente.

As exportações de ouro da Suíça se tornaram um ponto crítico em suas negociações comerciais com os EUA, depois que um aumento nas remessas no início deste ano fez com que o déficit comercial dos EUA com o país aumentasse. O país europeu exportou US$ 61,5 bilhões em ouro para os EUA nos 12 meses até junho, volume que agora estaria sujeito a US$ 24 bilhões adicionais em tarifas.

Alguns analistas questionaram se a mudança drástica poderia ser um erro por parte do CBP e sugeriram que ela pode estar sujeita a contestações legais.

Além disso, algumas mineradoras já sinalizam a possibilidade de suspender embarques, repercutindo a turbulência iminente nas cadeias globais de fornecimento do ouro.

“O ouro é movimentado entre bancos centrais e reservas em todo o mundo”, disse Robert Gottlieb, ex-comerciante de metais preciosos e diretor administrativo da JPMorgan Chase referindo-se às barras.

“Nunca pensamos que isso seria afetado por uma tarifa”.

O ouro tem valorização de quase 30% no ano, impulsionado por preocupações com tarifas, inflação e endividamento dos EUA. Se a decisão de tarifar o metal se mantiver, o mercado deve ter uma aumento de volatilidade nas próximas semanas.