“A China está preocupada com a escassez de soja”, escreveu Trump na plataforma Truth Social nesta segunda-feira (11). “Espero que a China quadruplique rapidamente os pedidos de soja. Esta também é uma forma de reduzir substancialmente o déficit comercial da China com os EUA.”
Trump também agradeceu ao líder chinês Xi Jinping no post, sem dizer o motivo.
A pressão do presidente ocorre enquanto os agricultores americanos estão a apenas algumas semanas da próxima colheita, o que deve aumentar a oferta disponível para venda.
A China é a maior compradora mundial de soja e costuma ser o maior cliente dos produtores derivados da soja americana, um comércio avaliado em mais de US$ 12 bilhões em 2024.
No entanto, dados do governo dos EUA no final de julho mostraram que a nação asiática se absteve de reservar cargas para a próxima safra, que começa em setembro, já que as tensões entre os dois lados persistem.
O Brasil é hoje o maior fornecedor de soja para a China, destino de mais de 70% dos embarques nacionais do grão. A relação comercial, avaliada em dezenas de bilhões de dólares por safra, sustenta boa parte do superávit da balança brasileira e influencia diretamente a renda no campo.
Qualquer mudança no apetite chinês pelo produto brasileiro — como a possibilidade de redirecionar compras para os Estados Unidos — pode abalar preços internos, reduzir volumes embarcados e repercutir em toda a cadeia do agronegócio.
China x EUA
A agricultura tem sido uma questão fundamental na disputa comercial entre os dois lados. A China recorre a culturas da América do Sul e de outras regiões para atender às demandas. O governo chinês concordou em aumentar as compras de produtos agrícolas dos EUA, como a soja, durante a chamada ‘fase 1’ do acordo comercial firmado durante o primeiro mandato de Trump, embora Pequim tenha, em última análise, ficado muito aquém das metas de compra do pacto.
As declarações de Trump geraram um novo otimismo de que o comércio bilateral entre a China e os EUA poderá em breve ser reestabelecido, com ativos como ações chinesas também em alta.
A soja dos EUA também ficou mais barata que os embarques brasileiros à medida que o influxo de nova oferta se aproxima.
Pequim enfrenta o prazo de 12 de agosto antes que a trégua tarifária com os EUA expire, embora o governo Trump sinalizou que provavelmente será estendida.
A China há muito se preocupa com o fornecimento de soja, que é essencial para a dieta alimentar da população e da alimentação animal da nação. O país intensificou as compras do grão do principal fornecedor, o Brasil, nos últimos meses, e também testa carregamentos experimentais de farelo de soja da Argentina para garantir o fornecimento do ingrediente para ração animal.
“A decisão de comprar farelo de soja da Argentina é apenas uma solução temporária”, disse Hanver Li, analista-chefe da consultoria de commodities Shangai JC Intelligence, sediada na China. “Se as negociações entre a China e os EUA correrem bem, não será um padrão comercial de longo prazo.”
Esta é normalmente a época do ano em que as compras da China começam a se transferir para o Hemisfério Norte.
Analistas consultados pela Bloomberg esperam que o Departamento de Agricultura dos EUA melhore a perspectiva para a colheita doméstica em um relatório previsto para ser divulgado na terça-feira (12).
Ainda assim, há poucos sinais de que a China esteja preocupada com a escassez de soja, apesar dos comentários de Trump, disse Vitor Pistoia, analista sênior de grãos e oleaginosas do Rabobank. Se as relações comerciais não melhorarem, o país poderá obter o suprimento anual inteiramente da América do Sul, se necessário, ignorando os EUA, observou ele.
“Quando você soma o que o Brasil tem, o que a Argentina tem com a oferta do Uruguai e do Paraguai, todos esses países têm o suficiente para abastecer a China”, afirmou ele em uma entrevista.