O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, defendeu, durante o 26º Santander Conference, a visão de que, seja qual for o vencedor das eleições em 2026, há uma grande chance de ocorrer uma mudança nos rumos da política econômica brasileira.
Na avaliação do gestor, sempre que o país se deparou com um problema inadiável encontrou uma solução para endereçar o problema fiscal. “Mesmo se for o mesmo governo após 2026, não sei se conseguiria manter a direção atual da política econômica.”
Xavier ressalta que os momentos passados nos quais ocorreu uma virada em direção a um maior pragmatismo fiscal, “os ativos se valorizam dramaticamente”.
Conforme o sócio da SPX, a trajetória do endividamento já traz a percepção de que o modelo precisa mudar para o país não enfrentar uma crise de confiança e a desvalorização generalizada dos ativos no futuro próximo. “A direção do indicador dívida/PIB vai ser a grande bússola do Brasil nos próximos anos. Vamos ter de fazer escolhas, seja quem for eleito.”
Queda da Selic ajuda ativos de risco
Uma segunda força é o início do ciclo de corte de juros pelo Banco Central, que pode começar entre o fim de 2025 e o início do próximo ano. O sócio, co-CIO e gestor de estratégia macroeconômica da Ibiuna Investimentos, Mario Torós, acredita que a chance de o BC iniciar o período de queda da Selic ainda em dezembro ou no começo de 2026, vai depender das decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Torós, ex-diretor de política monetária do BC, afirmou durante painel da 26ª Santander Conference acreditar que a autoridade monetária brasileira tende a ter mais paciência e esperar até o começo de 2026 para cortar. “A menos que a gente veja o Fed cortando duas vezes, acho que o BC vai esperar talvez até o início do ano.”
O início de um ciclo de queda da Selic associado ao mesmo movimento de juros nos EUA tem uma grande influência para os preços dos principais ativos. Nesse cenário, os investidores costumam se antecipar tanto a uma alta potencial das ações, diante da expectativa de uma melhora nos custos financeiros e pelo efeito estimulador para a economia dos juros mais baixos, quanto ao início de um período de redução dos retornos da renda fixa.
Risco Trump assusta
Apesar das perspectivas potencialmente positivas para os investidores em 2026, existem muitas incertezas no curto e médio prazo. E a maioria está ligada a evolução das retaliações do governo do presidente americano Donald Trump contra o Brasil.
Para Luiz Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset, o pior do tarifaço de Trump ficou para trás. O gestor da Verde, porém, acredita haver outros fatores que podem “jogar o Trump em cima da gente”. A mais importante é a agenda de restrições às big techs que pode ser interpretada pelo governo americano como uma ação para prejudicar os interesses econômicos dos EUA.
Se houver uma escalada nas retaliações, pode haver uma fuga de recursos do país, com consequente aumento do dólar e pressões inflacionárias. Em um cenário muito turbulento, o BC pode ter de segurar ainda mais tempo o juro em um nível mais elevado.
O risco Trump também pode ter efeitos de médio e longo prazos, na visão de Stuhlberger. “Acho que é um grande risco para o futuro tanto de valuation como para a maneira como a gente investe agora.”
Um evento que pode aumentar muito as incertezas globais está na sucessão do Fed. O problema não está necessariamente no nome do próximo presidente do BC americano, mas na própria visão do governo sobre a política monetária. “O pensamento de Trump é que qualquer juro que você paga é dinheiro jogado fora. Além disso, se eu sou o devedor do mundo vou pagar o juro que eu quero.”
Stuhlberger sugeriu que os investidores devem se preparar para um período mais caótico nos mercados, com a possibilidade de o novo Fed derrubar o juro para algo perto de zero à força. “Eu penso seriamente, como administrador de dinheiro, que preciso pensar em reservas patrimoniais que não dependam de moeda como uma forma de hedge (proteção).”
O gestor da Verde citou ativos imobiliários, participações em empresas, ouro e até Bitcoin como exemplos de ativos de proteção. “Acredito piamente que isso vai acontecer e o mundo ainda não está colocando isso nos preços”, disse.
Euro X dólar
O risco Trump, porém, pode colocar a Europa como oportunidade de diversificação das carteiras, na opinião de Xavier, da SPX. Investir em euro pode ser uma maneira de se proteger contra as incertezas trazidas pela guerra tarifária e pelos riscos geopolíticos atuais. “A gente está em uma nova oportunidade com perspectiva de aumento de gastos na região, principalmente, da Alemanha que tem espaço fiscal e se comprometeu com o reforço do poderio miitar e o incentivo à produtividade na economia.”
O gestor citou a sinalização por parte da Comissão Europeia de, finalmente, inaugurar o mercado de eurobonds de emissão conjunta dos países integrantes da zona do euro. Os títulos de dívida soberanos em euros atualmente são emitidos pelos próprios governos da área de união monetária.
A proposta seria inaugurar um modelo de captação de recursos por meio de papéis nos quais todos os membros sejam garantidores ao mesmo tempo. Assim, os países assumiriam os compromissos na proporção de recursos que cada um vai receber na operação.
“Se for feito em larga escala o euro poderia se tornar uma alternativa real ao dólar. Acho que é uma oportunidade única se a Europa souber aproveitar.