Os mercados de madeira têm sido afetados ultimamente pela incerteza comercial e pela deterioração do mercado imobiliário. Os contratos futuros de madeira caíram 24% desde que atingiram a máxima de três anos no início de agosto e fecharam segunda-feira (8) a US$ 526,50 por mil pés-tábua, que é a unidade de medida de volume para madeira serrada.
A queda de preço poderia ter sido pior, mas duas das maiores serrarias da América do Norte anunciaram na semana passada que reduziriam a produção.
O cenário é preocupante porque tem sido um indicador confiável do mercado imobiliário, bem como da atividade econômica dos EUA.
Durante o lockdown da Covid-19, os preços de madeira serrada quase triplicaram em relação ao período pré-pandemia, um sinal precoce da inflação.
Quando o Federal Reserve (Fed) começou a aumentar as taxas de juros em 2022 para conter a inflação, a madeira serrada foi um dos primeiros ativos a perder valor. Agora, os preços sinalizam cautela novamente.
Um excesso de madeira foi acumulado nos Estados Unidos no início deste ano, em antecipação a impostos mais altos sobre as importações canadenses e tarifas adicionais sobre a madeira ameaçadas pelo presidente Trump.
Os preços da madeira têm oscilado. Subiram na primavera, depois que a Casa Branca anunciou que estava investigando aspectos de segurança nacional da madeira importada e Trump ameaçou impor tarifas elevadas sobre todos os produtos canadenses.
Os preços despencaram quando Trump recuou em relação ao Canadá. Em maio, voltaram a subir, à medida que os compradores começaram a estocar antes do aumento programado nas taxas atuais sobre a madeira canadense e das tarifas ameaçadas por Trump.
Stinson Dean, ex-comerciante de madeira e cofundador da fabricante de treliças de Indiana, a Revol Building Solutions, disse que os compradores estavam mais focados nos impostos de importação do que na demanda ao aumentar os preços.
Sem saber se haveria tarifas, Dean decidiu não estocar e, em vez disso, adotou uma abordagem precária para o fornecimento de sua fábrica, que pré-fabrica estruturas.
“Eu ia perder dinheiro por conta das tarifas, ou ia perder dinheiro porque não havia tarifas”, disse ele. “Era 50/50 de qualquer maneira. Então, fiquei de braços cruzados.”
Os preços à vista também caíram, de acordo com a Random Lengths. O Framing Lumber Composite Index, da publicação especializada e serviço de precificação, caiu cerca de 12% desde 1º de agosto.
Os produtores estão respondendo com cortes.
A Interfor, terceira maior produtora de madeira da América do Norte, anunciou na quinta-feira (4) que reduzirá a produção em 12% com cortes em suas serrarias no Sul dos EUA, Noroeste Pacífico, Colúmbia Britânica e leste do Canadá.
A empresa reduzirá o horário de trabalho e reconfigurará os turnos, além de prolongar os feriados e as paradas para manutenção, reduzindo a produção em cerca de 145 milhões de pés-tábua até o final do ano.
A Domtar, outra grande produtora, está paralisando sua serraria em Glenwood, Arkansas, deixando outra em Maniwaki, Quebec, inativa por tempo indeterminado, e eliminando um turno em sua unidade na região de Côte-Nord, na província, disse um porta-voz.
Analistas e traders afirmam que serão necessários novos cortes para aliviar o excesso de madeira. Isso pode não ser um problema, considerando que impostos mais altos elevaram os preços de equilíbrio das serrarias canadenses, enquanto a demanda diminui.
“Prevemos novos fechamentos ou cortes”, disse Michael Roxland, analista da Truist Securities.
A Casa Branca ainda está considerando tarifas amplas sobre madeira importada em nome da segurança nacional, como já fez com produtos de alumínio, aço e cobre. Quaisquer tarifas impostas por Trump seriam separadas dos impostos existentes sobre as importações de madeira serrada de coníferas canadenses, que atendem a cerca de 24% do consumo dos EUA.
Esses direitos antidumping e compensatórios são resultados de uma disputa comercial de décadas. Eles aumentaram no mês passado para cerca de 35% para a maioria dos produtores canadenses, de 15%.
As taxas, amplamente contestadas, são reajustadas anualmente com base nos dados de vendas dos exportadores canadenses de dois anos anteriores.
Antes do aumento das taxas, as serrarias canadenses que gerenciam estoques para grandes clientes, desde home centers até atacadistas, lotavam armazéns e centros de distribuição, disse Matt Layman, analista de mercado e consultor que publica o Layman’s Lumber Guide. Isso significa que elas já têm bastante madeira não vendida perto do seu destino final.
“Os produtores estavam tão confiantes que ignoraram um obstáculo óbvio ao acumular madeira nos EUA: a demanda, ou a falta dela”, disse ele. “Há facilmente madeira suficiente nos EUA para cobrir vários meses da demanda prevista para o outono.”
Madeira e construções residenciais
As autorizações de construção residencial caíram em julho para uma taxa anual ajustada sazonalmente de cerca de 1,4 milhão de unidades, a menor desde junho de 2020.
O gasto total com construção nos EUA caiu 3,4% em julho em relação ao recorde estabelecido em maio de 2024.
As taxas de hipoteca têm apresentado tendência de queda, e Wall Street está precificando que o Fed cortará as taxas em sua reunião deste mês, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME.
Custos de empréstimo mais baixos podem estimular a construção e a compra de imóveis. Podem também incentivar proprietários a financiar reparos e reformas, que são a maior fonte de demanda por madeira serrada.
Traduzido do inglês por InvestNews
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