O índice S&P 500 adicionou US$ 15 trilhões em valor de mercado desde o início de abril e registrou 27 recordes em 2025. O ganho de 34% nos últimos cinco meses — impulsionado por uma disparada nas ações de Big Tech — só foi superado em quatro outras ocasiões desde 1950, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Com o Fed de volta ao ciclo de cortes de juros, o apetite por risco continua elevado. A preocupação de alguns investidores, porém, é que a recuperação já tenha incorporado uma série de fatores positivos, desde a política monetária mais branda até a resiliência da economia diante das tarifas. Isso pode deixar as ações vulneráveis se o cenário de crescimento enfraquecer.
“Não estamos mais lutando contra o Fed, o que é bom para as ações”, disse Michael Sansoterra, CIO e gestor sênior da Silvant Capital Management. “O risco é que, se a economia tremer de forma significativa, os traders podem entrar em pânico e vender primeiro justamente as caras ações de Big Tech, em reações impulsivas.”
Economia em ritmo moderado
Apesar da euforia com os cortes de juros da última semana, ainda não está claro se o Fed relaxou a política monetária a tempo de proteger a economia dos efeitos negativos da guerra comercial. A FedEx Corp., por exemplo, afirmou na quinta-feira que espera um impacto de US$ 1 bilhão com a volatilidade do comércio e a perda de uma isenção-chave para produtos de baixo valor.
Economistas projetam que o PIB real dos EUA desacelerou para 1,5% no terceiro trimestre, ante os 3,3% reportados oficialmente no segundo.
Segundo analistas da Bloomberg Intelligence (BI), a questão central é se a economia conseguirá escapar de um regime de crescimento moderado, que historicamente se associou a ganhos mais fracos do mercado. O modelo da BI mostra que períodos de temor de desaceleração — como em maio passado — costumam ser oportunidades de compra, enquanto um cenário de economia forte também tende a sustentar altas.
Agora, porém, os EUA estão numa rara “zona intermediária”: longe da expansão vigorosa de 2021, mas sem sinais claros de recessão. Desde 1969, o S&P 500 apresentou retorno mediano de apenas 4% nos seis meses seguintes quando o indicador da BI marcou 0,5 — exatamente o caso de agosto. Isso contrasta com ganhos medianos de 13% quando o modelo aponta recessão, e de quase 6% quando sinaliza uma economia saudável.
“A barra está alta e o Fed precisa lançar uma aceleração econômica com cortes de juros, ou o ritmo acelerado das altas deste ano deve esfriar em breve”, disse Gillian Wolff, estrategista da BI.
Ela também destacou que o P/L futuro do S&P 500, em torno de 23, está cerca de duas vezes acima da média histórica de 15 anos, o que sugere dificuldades para extrair mais prêmios com os preços atuais.
Investidores ainda otimistas
Apesar dos riscos, há poucos investidores abertamente pessimistas. Sansoterra, por exemplo, está comprando uma gama de ações de tecnologia, de Broadcom Inc. a Palantir Technologies Inc., apostando que o rali vai continuar.
“Muita dor econômica já tinha sido precificada nas ações na primavera. A economia teria de sofrer uma desaceleração significativa para realmente abalar os preços e forçar revisões de lucros para baixo”, disse Eli Horton, gestor sênior da TCW Group, que também favorece papéis de tecnologia e crescimento.
O histórico mostra que ralis como o atual são difíceis de interromper: desde 1950, o S&P 500 avançou em média 5,5% nos últimos quatro meses do ano quando já havia registrado pelo menos 20 recordes até o fim de agosto — como ocorreu em 2025 — segundo Sam Stovall, estrategista-chefe da CFRA Research.
Esses ganhos, no entanto, podem vir acompanhados de solavancos. Stovall vê maior chance de uma queda de 5% em outubro, tradicionalmente o mês mais volátil para as bolsas — embora setembro seja, em média, o mais fraco.
Ainda assim, ele conclui: “Embora outra correção possa estar no horizonte, os traders ainda não queimaram todo o combustível do mercado.”