O SoftBank vendeu toda a sua participação na Nvidia, embolsando US$ 5,83 bilhões para ajudar a financiar os investimentos em inteligência artificial (IA) idealizados pela empresa, em um momento em que investidores questionam o volume de capital direcionado a uma tecnologia de retornos futuros incertos.

A venda da fatia na Nvidia destaca como o fundador Masayoshi Son precisa de recursos para perseguir uma série de projetos que vão desde centros de dados Stargate até fábricas de robôs de IA nos Estados Unidos. A saída coincide com um debate crescente sobre se os gastos das grandes empresas de tecnologia — de Meta Platforms a Alphabet — que devem ultrapassar US$ 1 trilhão nos próximos anos, resultarão em retornos proporcionais.

As ações da Nvidia caíam 1,3% nas negociações prévias à abertura do mercado.

SoftBank quer se tornar líder no crescente ecossistema de IA, com planos de aproveitar participações em empresas-chave do setor, como a OpenAI e a desenvolvedora de chips norte-americana Ampere Computing LLC.

Nesta terça-feira, executivos da SoftBank evitaram responder a perguntas sobre se a indústria está fomentando uma bolha de investimentos em IA e afirmaram que a venda não teve relação direta com a Nvidia, mas foi uma medida necessária de financiamento.

“Não posso dizer se estamos em uma bolha de IA ou não”, disse o diretor financeiro Yoshimitsu Goto durante a conferência de resultados na terça-feira. A SoftBank vendeu a Nvidia “para que o capital possa ser utilizado em nosso financiamento”, acrescentou, sem dar mais detalhes.

A SoftBank já havia vendido sua participação na Nvidia antes, em 2019. A empresa voltou a comprar pequenas fatias da fabricante de chips em 2020 — dois anos antes do surgimento do ChatGPT, que impulsionou uma valorização histórica das ações. A companhia revelou ter aumentado sua participação na fabricante norte-americana para cerca de US$ 3 bilhões até o fim de março. O movimento se mostrou lucrativo: desde então, a Nvidia ganhou mais de US$ 2 trilhões em valor de mercado.

Esse rali, junto com o investimento na OpenAI, ajudou a sustentar os resultados da SoftBank. A empresa japonesa reportou um lucro líquido surpreendente de US$ 16,2 bilhões em seu segundo trimestre fiscal, superando em muito a média das estimativas de analistas, de US$ 2,7 bilhões.

O valor da OpenAI aumentou em US$ 14,6 bilhões desde o investimento da SoftBank, disse Goto. A companhia está a caminho de registrar seu maior lucro anual desde 2020, segundo o analista da Bloomberg Intelligence Kirk Boodry. “A venda de US$ 5,8 bilhões em ações da Nvidia destaca a capacidade da empresa de obter liquidez enquanto continua seu programa de investimentos em IA”, acrescentou ele.

As iniciativas de Son — que incluem a implantação dos data centers Stargate e um polo de manufatura de IA de US$ 1 trilhão no Arizona — levaram o bilionário a se aproximar do presidente dos EUA, Donald Trump, bem como dos chefes da Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. e de conglomerados sul-coreanos. A SoftBank chegou até a considerar a compra da fabricante de chips norte-americana Marvell Technology Inc. no início deste ano.

A empresa de Son agora ostenta um portfólio que inclui alguns dos nomes mais cobiçados da IA no mundo, como OpenAI, ByteDance Ltd. e Perplexity AI Inc. Essas participações impulsionaram os ganhos não realizados da SoftBank e ajudaram a provocar uma alta de 78% em suas ações nos três meses até setembro — seu melhor desempenho trimestral desde o quarto trimestre de 2005.

A companhia também anunciou uma divisão de ações de 4 por 1, que ocorrerá em 1º de janeiro, medida que tornará seus papéis mais acessíveis a investidores de varejo japoneses. O desafio agora será equilibrar o financiamento de uma enxurrada de negócios já firmados, além de possíveis novas iniciativas que Son possa lançar nos próximos meses.

Por meio de seu Vision Fund 2, a SoftBank investirá agora os US$ 22,5 bilhões prometidos à OpenAI em dezembro e eliminará as condições previamente impostas. A empresa planeja adquirir a Ampere Computing LLC por US$ 6,5 bilhões e concordou em comprar a divisão de robótica da ABB Ltd. por US$ 5,4 bilhões.

A companhia ampliou um empréstimo com garantia em ações da Arm Holdings Plc de US$ 13,5 bilhões para US$ 20 bilhões, dos quais US$ 11,5 bilhões ainda estão disponíveis. Ela também obteve um empréstimo-ponte de US$ 8,5 bilhões para financiar o aporte na OpenAI, além de outro empréstimo-ponte para o acordo com a Ampere, informou.

“O movimento simples era comprar ações da SoftBank para ter uma exposição barata às ações da Arm e a um portfólio mais amplo de IA e tecnologia. Essa tese mais do que se comprovou — as ações mais do que dobraram, superando amplamente o modesto aumento no valor patrimonial líquido”, afirmou uma nota da Finimize Research publicada na plataforma Smartkarma antes da divulgação dos resultados, referindo-se ao valor patrimonial da SoftBank.

“Mas agora o desconto praticamente desapareceu, então a SoftBank já não é mais uma forma ‘barata’ de entrar nesse mercado. Por esse motivo, provavelmente é um bom momento para vender e realizar os lucros”, concluiu o relatório.