A entrega, uma das mais importantes desde a privatização da antiga Cedae, ocorre após meses de animosidade entre a concessionária e o governo fluminense — e marca o primeiro gesto público de reaproximação desde que a operação na Barra virou um dos focos de tensão.
De acordo com Leonardo Soares, diretor de Relações Corporativas da Iguá Rio, a modernização da ETE reforça a capacidade da estação para lidar com o volume crescente de esgoto que vem chegando à rede da região.
Na prática, a obra elimina gargalos históricos – como a dificuldade de realizar manutenções sem interromper o tratamento – e cria margens de segurança para absorver picos de operação. “Estamos entregando uma estrutura pensada para aguentar os próximos 30 anos de crescimento da Zona Sudoeste do Rio”, diz Soares, ao InvestNews.
Controlada hoje pelo fundo de pensão candense CPP, a Iguá chegou ao Rio em 2021, com a privatização da antiga Cedae. A empresa arrematou o Bloco 2 — que inclui Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Recreio, Vargens e municípios como Miguel Pereira e Paty do Alferes — por R$ 7,3 bilhões.
O pacote foi um dos mais disputados do leilão e redefiniu o mapa do saneamento no estado, triplicando o tamanho da Iguá, que assumiu o compromisso de investir R$ 2,7 bilhões ao longo dos primeiros 12 anos da concessão.
A modernização da ETE da Barra, entregue agora, é uma das peças centrais deste plano: a estação precisava ganhar escala para suportar a expansão da rede coletora que está sendo instalada no bloco e para atender às metas de universalização previstas no contrato.
Com a estação ampliada, Soares afirma que a Iguá vai se concentrar em acelerar a expansão das redes em áreas que ainda não têm cobertura adequada. A empresa diz ter concluído cerca de metade dos investimentos previstos para os primeiros 12 anos da concessão em menos de cinco anos.
Pacificação
A entrega da ETE da Barra também encerra um período de tensão entre Iguá e o governo do Rio de Janeiro. Em agosto, a companhia foi notificada pela Agenersa, a agência estadual responsável por fiscalizar a concessão, em um processo que propõe multa de R$ 124 milhões por irregularidades apontadas na operação da própria estação — entre elas interrupções temporárias no tratamento e falhas no sistema preliminar. Agenersa também chegou a propor a perda da concessão.
O caso ainda aguarda decisão final, mas acendeu um alerta numa concessão que atende mais de um milhão de moradores. Desde então, governo e concessionária passaram por uma fase de reconstrução de diálogo, e a presença do governador Cláudio Castro na inauguração desta segunda-feira reforça a tentativa de estabilizar a relação após um semestre turbulento.
Para a Iguá, porém, o termo “pacificação” não descreve a etapa atual. “Para existir uma pacificação precisa ter guerra – e eu acho que a gente nunca teve”, afirmou Soares. “Uma concessão tem seus contratempos e é natural haver divergências.”
Em paralelo, a Iguá discute com o governo fluminense, em arbitragem, um pedido de reequilíbrio econômico de R$ 828 milhões. A disputa gira em torno do índice de perdas de água encontrado quando a concessionária assumiu o Bloco 2 da antiga Cedae: o edital trabalhava com um patamar de 35%, mas a Iguá diz ter encontrado um nível significativamente maior, o que elevaria custos e reduziria a eficiência da operação.
A diferença, segundo a empresa, justifica a revisão contratual – tema sensível para ambos os lados e que adiciona complexidade às conversas ao longo do ano. Ainda assim, a cerimônia desta segunda-feira indica que as arestas mais agudas ficaram para trás.