O bitcoin (BTC) vez ou outra é chamado de “ouro digital” por sua escassez – lembrando que só 21 milhões de criptos podem ser emitidas, algo que só deve ocorrer por volta de 2140. Gestoras, especialistas e até o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos já bateram nessa tecla. Mas, neste momento, a moeda digital está longe de brilhar como o metal precioso.

Enquanto o ouro sobe 60% no ano e bate US$ 4.200 nesta quinta-feira (5), o bitcoin acumula queda de 0,50% entre janeiro e dezembro. Ou seja, quem entrou na cripto apostando nas previsões otimistas ao longo de 2025 está no prejuízo.

E não foram poucas projeções. O JPMorgan falou que o BTC poderia alcançar os US$ 165 mil; o Standard Chartered mencionou US$ 200 mil; o fundador da BitMex, Arthur Hayes, conhecido no mercado cripto, chutou US$ 250 mil; e o fundador da Binance, Changpeng Zhao, exagerou: até US$ 1 milhão.

Nesta quinta-feira (4), a criptomoeda é negociada na faixa dos US$ 93 mil. Para bater na menor previsão, teria que subir 61% em 27 dias. Na maior, o pulo precisaria ser de 975%. Pode ocorrer? Por um milagre, talvez, mas nunca na história a cripto conseguiu fazer uma proeza dessas.

O melhor desempenho do bitcoin em dezembro foi em 2020, quando a criptomoeda saltou 52%, de US$ 19 mil para perto dos US$ 29 mil. Naquele ano ocorreu o terceiro halving – processo que reduz a emissão da cripto – e a empresa Strategy, até então somente uma empresa da área de software, começou a comprar BTC. Hoje, ela é a maior bitcoin treasury company do mercado.

Veja o comportamento do bitcoin em dezembro nos últimos 13 anos:

Ano Preços (4 → 31 de dezembro) Variação %
2024 US$ 95.873 – US$ 93.420 -2,56%
2023 US$ 40.681 → US$ 42.654 +4,85%
2022 US$ 17.005 → US$ 16.558 -2,63%
2021 US$ 53.212 → US$ 46.810 -12,03%
2020 US$ 19.271 → US$ 29.347 +52%
2019 US$ 7.158 → US$ 7.204 +0,64%
2018 US$ 3.902 → US$ 3.696 -5,29%
2017 US$ 12.174 → US$ 14.903 +22,36%
2016 US$ 752 → US$ 998 +32,71%
2015 US$ 390 → US$ 434 +11,28%
2014 US$ 376 → US$ 313 -16,77%
2013 US$ 989 → US$ 767 -22,43%
Fonte: CoinGecko

O “ouro digital” perdeu o brilho? Não exatamente.

Não é bem assim. O bitcoin é uma espécie de quimera. Segundo o pessoal da TAG Investimentos, de vez em quando ele se comporta como ouro e reserva de valor, mas nesse momento tem se comportado mais como um ativo de risco e de liquidez.

“As correlações mudam sempre, por definição, mas agora a correlação do bitcoin é com o Nasdaq e com a liquidez na economia global”, escreveram na carta mensal de dezembro. Mas aqui vale uma nota: a Nasdaq sobe 20% – e o BTC não acompanhou.

A Tag reforçou que, mesmo no momento ruim, a cripto virou ativo institucional: ETFs (fundos negociados em bolsa), tesourarias corporativas e fundos soberanos passaram a comprar. Até o JPMorgan, historicamente crítico a cripto, liberou produtos para clientes.

“Isso não volta atrás. Volatilidade permanece, mas legitimidade está consolidada”, escreveram.

As previsões que atrapalham

Mesmo mais institucionalizado, o bitcoin ainda convive com projeções de preço consideradas exageradas por parte do mercado. Parte dessa euforia pode ser explicada pelo comportamento quase religioso de alguns investidores, algo que o economista Paul Krugman, Nobel de Economia em 2008 e um dos principais haters do BTC, destacou recentemente.

Em texto publicado em novembro, ele voltou a dizer que o bitcoin só sobe porque funciona como uma seita – com fiéis que dobram a mão sempre que o preço cai.

“Esse status de culto permitiu que o bitcoin se recuperasse de contratempos e escândalos que teriam afundado qualquer investimento normal, porque os verdadeiros crentes respondem a qualquer queda em seu preço investindo mais do que nunca”, disse.

O que esperar para o restante de dezembro?

Há gatilhos positivos à frente, como a possível queda de juros nos Estados Unidos na próxima semana – algo que tende a favorecer ativos de risco. Por outro lado, uma alta de juros no Japão, como já sinalizado pelo BOJ (o banco central do país), pode afetar a liquidez global, respingado na cripto.

No geral, os traders estão mais pés no chão. Ana de Mattos, analista técnica e trader parceira da Ripio, disse que, se houver força compradora, as próximas resistências (níveis de preço onde a alta tende a encontrar dificuldade e pode desacelerar) estão nas áreas de US$ 94.500 e US$ 101.300.

Já os suportes (níveis de preço onde a queda tende a ser freada e pode se estabilizar) de curto e médio prazo estão nas regiões de liquidez dos US$ 85.600 e US$ 79.000.

Já Guilherme Prado, country manager da Bitget no Brasil, falou que apesar de o BTC operar na faixa dos US$ 93 mil, o mercado ainda observa a resistência crítica em US$ 98.500. “Superar esse nível seria essencial para reverter a tendência de queda que já dura semanas”, falou.

Quer saber mais sobre cripto? Assine o morning call do InvestNews!