Nesta sexta-feira (12), os títulos atrelados à inflação, o Tesouro IPCA+, voltaram a cair. Agora estão em patamares mais próximos das mínimas vistas antes dos ruídos políticos contaminarem os mercados e fazerem os retornos desses papéis retomarem ao nível de 8% ao ano.
O Tesouro IPCA+ 2029, por exemplo, saiu de 7,98% de juro acima da inflação vista na super quarta-feira (10) da política monetária para 7,79% nesta sexta-feira (12). O Tesouro IPCA+ 2040, que chegou a 7,01% no dia do Copom, voltou para 6,87% ao ano. E o papel mais longo da plataforma Tesouro Direto, o IPCA+ 2050, está com rendimento de inflação mais 6,88% contra 7,02% visto pouco antes da decisão de juros.
As mínimas anteriores ao episódio do anúncio da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro foram alcançadas entre fim de novembro e início do mês. O Tesouro IPCA+ 2029 chegou a 7,64% ao ano em 4 de dezembro. O Tesouro IPCA+ 2040 no mesmo dia chegou a 6,82%. E o Tesouro IPCA+ 2050 foi negociado a 6,78% no mesmo dia.
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Menos política e mais visão sobre juros
Mas o que mudou de lá para cá? Em primeiro lugar, o ruído politico arrefeceu. Ainda que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenha reafirmado sua pré-candidatura como o escolhido do próprio pai, os investidores passaram a considerar o evento mais como uma jogada para tentar aprovar uma anistia ao ex-presidente no Congresso. Ou seja, os nomes na futura corrida presidencial ainda não estão definidos.
Mas o fator mais importante veio mesmo do cenário para juros. Ainda que o Copom tenha evitado alimentar expectativas para um corte de taxas no início do próximo ano, o mercado entendeu que o ciclo de reduções está mais perto do que nunca. Mesmo se o BC não baixar em janeiro, a visão é a de que a primeira diminuição da Selic não passa de março.
E tem mais: diante de um juro real no maior patamar em 10 anos, combinado a uma inflação que mostra estar controlada, à convergência de expectativas para o cenário vislumbrado pelo Copom no horizonte relevante – que vai até o segundo trimestre de 2027 – e sinais claros de desaceleração da atividade, os investidores veem crescentes possibilidade de a autoridade ter de acelerar o passo nos cortes.
Mercado vê cortes mais amplos
O último boletim Focus do BC, que reúne projeções para indicadores como Selic, IPCA, PIB e câmbio, mostra a mediana de estimativas do mercado para a taxa de juros no fim de 2026 em 12,25% ao ano. Isso representa uma queda de 2,75% no ano que vem. Se o Copom optar por iniciar o ciclo com um corte de 0,25 ponto percentual teria de realizar reduções de 0,50 ponto em, ao menos, metade das oito reuniões no ano.
Esse, por exemplo, é o cenário base do Citi. O economista-chefe do banco no Brasil, Leonardo Porto, enxerga o Copom cortando 0,25 ponto já a partir de janeiro e acelerando posteriormente para ajustes de 0,50 pp. Isso até que a Selic alcance 12% no fim do próximo ano.
Já existem casas, como o Itaú, que começam a ver espaço para o juro cair a 11% ao ano no fim de 2026. Nesse caso, o banco central teria de realizar cortes de 0,5 ponto percentual em todas as reuniões do ano que vem, começando já em janeiro.