A proposta da Tether é totalmente em dinheiro e visa adquirir os 65,4% detidos pela holding Exor NV por € 2,66 por ação. Segundo uma carta enviada à Exor e vista pela Bloomberg neste sábado (13), a oferta avalia a Juventus em cerca de € 1,1 bilhão (US$ 1,3 bilhão). O valor representa um prêmio de aproximadamente 21% sobre o preço de fechamento das ações do clube em Milão na última sexta-feira.
A Tether, mais conhecida por sua stablecoin de dólar USDT, afirmou que injetaria um adicional de € 1 bilhão para apoiar o desenvolvimento do clube e se comprometeu a comprar todas as ações restantes de outros acionistas a um preço “pelo menos igual” ao da sua proposta, conforme detalhado na carta.
Os Agnelli batem o pé: “o clube não está à venda”
A Exor, veículo de investimento da influente família Agnelli e que tem participações em companhias como Stellantis, Ferrari e CNH Industrial, rejeitou a abordagem de forma imediata, sinalizando que não tem intenção de vender sua participação para a Tether ou qualquer outra parte.
O conselho de administração da holding, em comunicado emitido no sábado, afirmou que “rejeita unanimemente” a proposta da Tether e que o clube “não está à venda”.
A Tether não respondeu aos pedidos de comentários.
A investida é uma jogada ousada e acontece em um momento sensível para os Agnellis, que estão reestruturando seu portfólio e avaliando desinvestimentos, incluindo uma potencial venda do grupo de mídia Gedi Gruppo Editoriale SpA. A família mantém o controle da Juventus há mais de um século.
Crise no campo acelera o movimento
A proposta surge em um momento em que a Juventus enfrenta dificuldades em campo, e os custos para se manter competitiva no mais alto nível do futebol europeu só aumentam. O clube de Turim, atualmente na sétima colocação na liga Série A, corre o risco de ficar de fora das competições europeias, ameaçando receitas cruciais de transmissão e comerciais.
A equipe não conseguiu recuperar o domínio que exibiu durante a sequência de nove títulos consecutivos da Série A, encerrada em 2021. Fora de campo, também houve reveses: em 2023, o clube foi punido com a perda de 10 pontos pela federação italiana de futebol após uma investigação sobre a contabilidade das transferências de jogadores. Suas ações acumulam queda de 27% neste ano.
A Tether, que se tornou o segundo maior acionista do clube com uma participação de 11,5% acumulada desde fevereiro, agora pressiona pela propriedade total.
Para seu CEO, o italiano Paolo Ardoino, a oferta tem um toque pessoal. “Para mim, a Juventus sempre fez parte da minha vida”, disse Ardoino em comunicado. “Eu cresci com este time.”
No entanto, as relações entre os acionistas têm sido tensas. A comunicação tem sido “muito, muito limitada”, disse ele em entrevista em junho.
O conflito entre a tradição e o digital
O contraste entre as duas partes dificilmente poderia ser maior. Através da Exor – uma das maiores holdings da Europa, com um valor patrimonial líquido de € 36,4 bilhões –, os Agnellis controlam ativos de peso como Ferrari, Stellantis, dona da Fiat e da Jeep, e a marca de luxo Christian Louboutin. A Juventus, embora icônica, representa apenas uma fatia mínima do valor da Exor.
Já a Tether é uma empresa emblemática do novo capital digital. Fundada em 2014, operou por anos sem escritórios públicos, antes de estabelecer sede oficial em El Salvador em janeiro. A empresa não possui um conselho independente nem revela detalhes de sua estrutura.
O USDT é a stablecoin mais usada no mundo, lastreada por um portfólio de ativos de US$ 181 bilhões, que inclui US$ 135 bilhões em títulos do Tesouro dos EUA, de acordo com um relatório de atestação. O lucro da Tether ultrapassou US$ 10 bilhões nos primeiros nove meses de 2025, segundo o mesmo relatório. A empresa está acelerando investimentos em vários setores, de inteligência artificial a agricultura, buscando diversificar para além dos ativos digitais.
Para os Agnellis, a Juventus é menos um ativo financeiro e mais um símbolo, um clube entrelaçado à identidade da família por mais de um século. A Tether está fazendo um caso de valor, com capital imediato na mesa, enquanto a Exor sinaliza que a tradição e o legado superam qualquer prêmio financeiro.