Não faz muito tempo, as montadoras exaltavam os carros elétricos como o futuro. Agora, porém, estão pisando forte no freio diante dessa perspectiva, à medida que a realidade do mercado as atingiu como um caminhão em alta velocidade. Veja o anúncio impressionante feito pela Ford Motor na segunda-feira: a empresa fará um ajuste contábil de US$ 19,5 bilhões relacionado ao seu negócio de veículos elétricos.

“Em vez de despejar bilhões no futuro sabendo que esses grandes veículos elétricos jamais darão lucro, estamos mudando de rumo”, disse o CEO da Ford, Jim Farley, ao explicar o plano da companhia de reforçar sua linha de carros a combustão e híbridos. A Ford também vai abandonar a picape totalmente elétrica F-150 Lightning, que havia se tornado queridinha da imprensa entusiasta dos veículos elétricos.

Desde 2023, a Ford já perdeu US$ 13 bilhões com seu negócio de veículos elétricos, e perdas ainda maiores são esperadas nos próximos anos. No ano passado, a empresa perdeu cerca de US$ 50 mil por cada EV vendido. A verdade é que o modelo de negócios dos veículos elétricos sempre dependeu em grande parte de subsídios e exigências governamentais. Agora que essa combinação de favorecimento e coerção do governo está, em grande medida, desaparecendo, a maioria das montadoras tem muito menos incentivo para produzir veículos elétricos.

O governo Biden tentou impor a transição para os elétricos por meio do endurecimento das regras de eficiência de combustível e de emissões de gases de efeito estufa. As montadoras eram obrigadas a produzir quantidades cada vez maiores de veículos elétricos, que precisavam ser vendidos com prejuízo devido à fraca demanda dos consumidores. O crédito tributário de US$ 7.500 para veículos elétricos, previsto na Lei de Redução da Inflação, ajudou a impulsionar a demanda, mas não o suficiente para tornar os carros lucrativos.

O projeto de lei tributária aprovado pelos republicanos neste ano eliminou o crédito em outubro, fazendo a demanda despencar. As vendas de veículos elétricos da Ford caíram cerca de 60% em novembro em comparação com o ano anterior. A lei também acabou com a penalidade pelo descumprimento das metas de eficiência de combustível. No início deste mês, o governo Trump anunciou que irá flexibilizar as regras de economia de combustível até 2031.

Essa desregulamentação permitiu à Ford reduzir suas perdas, por mais significativas que sejam. Um ajuste de US$ 19,5 bilhões é doloroso, mas melhor do que gastar dezenas de bilhões de dólares a mais produzindo carros que poucos americanos querem comprar. A Ford pode concentrar seus investimentos em caminhonetes e SUVs a combustão, que são populares entre os consumidores e geram — ousamos dizer a palavra proibida — lucros. Se a Ford ganhar mais dinheiro, os trabalhadores também ganham mais por meio da participação nos lucros.

A General Motors também recuou em seus planos para veículos elétricos neste outono e registrou um ajuste de US$ 1,6 bilhão. A indústria automobilística americana estaria mais forte hoje se seus CEOs não tivessem embarcado na “aventura” dos veículos elétricos ao lado de políticos que prometiam subsídios.

Traduzido do inglês por InvestNews