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Entrevista: ‘A Caixa não cometerá erros de 10 anos atrás’, diz Pedro Guimarães

Em conversa com o InvestNews, o líder do banco estatal fala sobre os impasses no pagamento do auxílio emergencial e não descarta o IPO da Caixa Seguridade.

Na quinta-feira (21), a Caixa Econômica Federal anunciou um lucro líquido recorrente de R$ 3 bilhões no primeiro trimestre de 2020, cifra 7,5% ao mesmo intervalo de 2019. O banco público adotou uma série de medidas para apoiar a economia durante a pandemia da Covid-19. Prorrogou as parcelas do crédito imobiliário, reduziu juros de algumas linhas e disponibilizou mais de R$ 154 bilhões, dos quais R$ 60 bilhões foram para o capital de giro de micro, pequenas e médias empresas.

Pedro Guimarães, presidente da Caixa, concedeu entrevista exclusiva ao InvestNews e comentou as estratégias do banco em relação ao crédito imobiliário, microcrédito, abertura de capital da Caixa Seguridade e os entraves para o pagamento do auxílio emergencial (coronavoucher). Para Guimarães, a pandemia foi a grande crise da nossa geração, mas deixou também um legado positivo para o banco. O executivo destaca que a Caixa gerou na pandemia 50 milhões de cartões, dos quais 10% têm potencial para converter os clientes a produtos de crédito.

À frente da Caixa desde 2018 e figura conhecida do mercado de capitais, Guimarães também afirma que prioriza um diálogo próximo com o mercado e garante que está é a única forma de o banco adotar práticas de governança e não repetir os mesmos problemas que sofreu em gestões anteriores. Confira trechos da entrevista:

InvestNews – O IPO da Caixa Seguridade, que era o mais esperado para esse ano, realmente vai ficar para depois? Qual é a previsão?

Pedro Guimarães – Nós estamos preparados. Antes de a pandemia começar, fui aos EUA a trabalho e permaneci na época do Carnaval avaliando a operação. Mas interrompemos o IPO na metade de março, quando ficou claro o impacto da pandemia.

Naquela época, o Ibovespa estava entre 115 mil e 120 mil pontos. Agora estamos na média de 75 mil a 83 mil pontos. Neste novo patamar, não há a menor possibilidade de realizarmos uma abertura de capital com um preço coerente. Contudo, assim que o mercado voltar, nós voltaremos. Temos dois IPOs preparados, da Caixa Seguridade e da Caixa Cartões, que estão maduros. E também temos o IPO da Caixa Asset (gestão de patrimônio) e das Loterias, estes ficam para 2021 com certeza.

No caso da Caixa Loteria, precisamos apenas da regulação, já que somos monopolistas do serviço. O business está 100%, depende apenas da questão jurídica. Já a Caixa Seguridade tem um balanço forte desde 2015 e cresce a cada trimestre. É a empresa de seguros que mais cresce no Brasil. Recentemente ganhamos 50 milhões de cartões, para quem tinha 5 milhões de cartões de crédito antes da pandemia e hoje tem 50 milhões de débito, estamos dobrando a nossa base. Quando a abertura de capital chegar teremos empresas fortes, por isso é fundamental que a Caixa dialogue com o mercado.

A Caixa defende que está focada no crédito para pequenas e médias empresas, deixando os empréstimos das grandes companhias nas mãos dos bancos privados. Há algumas semanas, Roberto Setubal, do Itaú, apontou que para eles também não faz sentido dar crédito para elas, apesar de gerarem empregos. Você concorda?

Se olhar nos balanços, o crédito para grandes empresas nestes bancos já é grande. Na Caixa, nós emprestamos para empresas grandes também, mas apenas para o setor imobiliário, de saneamento ou infraestrutura.

Recentemente, liberamos R$ 43 bilhões apenas para o setor imobiliário, o que pode ter evitado que 1,5 milhão de pessoas fiquem desempregadas. No caso do saneamento, 95% dos empréstimos do setor é nosso.

Agora é importante destacar que algumas empresas não estavam bem antes da pandemia, e não será a crise que as consertará. As empresas que estavam mal vão ter problemas.

Um levantamento do Sebrae aponta que apenas 14% dos microempreendedores tiveram acesso a crédito durante a pandemia. O que está impedindo que o recurso chegue às mãos do empreendedor?

Antes da pandemia, nosso alcance em microcrédito era nulo. Agora chegamos aos 14%. Em uma semana, emprestamos para 6 mil empresas quase R$ 1 bilhão e esperamos chegar aos R$ 5 bilhões. Sabemos que não é suficiente, mas pelo menos 40% do mercado deve ser atendido.

Agora, é importante esclarecer que o modelo de negócios do microempreendedor sofre com alta rotatividade, e quero reforçar que na minha gestão a Caixa Econômica não cometerá o mesmo erro que há 10 anos, quando emprestou além do calculado matematicamente e precisou tirar R$ 40 bilhões do Tesouro para injetar na economia. Ou utilizar FGTS como patrimônio. Não adianta a gente emprestar dinheiro sem critério matemático.

Segundo o DataPrev, pelo menos 80 milhões de brasileiros precisam de auxílio emergencial. Acredita que o volume do auxílio tem sido o adequado até o momento? Vão prorrogar as parcelas?

Até o momento, temos 59 milhões de pessoas aprovadas segundo o DataPrev. Nos próximos 10 dias, todas elas devem receber. Ainda temos 9 milhões de pedidos sendo analisados, 50% que se cadastraram pela primeira vez e o outro 50% que teve o auxilio negado.

Certamente, os beneficiados vão superar os 60 milhões. Estamos falando de mais de 1/3 da população adulta no Brasil, que hoje tem cerca de 150 milhões de pessoas. A decisão de continuar com o auxílio emergencial vai depender de Guedes e Bolsonaro. Mas, na Caixa Econômica estamos organizados, não temos mais filas gigantescas perto das agências, nossa tecnologia melhorou, temos o know-how para continuar cuidando do auxílio. Só depende do aceno do governo.

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