Rio de Janeiro, 1930. Alberto Dom Abravanel queria que o bebê se chamasse “Dom”, no sentindo de “senhor”. O cartório não deixou. Mas o comerciante nascido na Grécia bateu o pé. Se não pode “Dom”, então, vai outra palavra que lembre “senhor”: Senor.
A mãe, Rebeca Caro, uma imigrante nascida na Turquia, não gostou. Passou a chamar o bebê de “Silvio”.
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Alberto era dono de uma loja de artigos para turistas na Lapa, centro do Rio. Os negócios iam bem, mas sua mente não. Ele tinha se viciado em jogo. Tudo o que ganhava com a loja ia embora no cassino. Rebeca, então, pediu para que o filho de 14 anos arrumasse um trabalho.
Mas Senor foi mais original. Viu um camelô vendendo capinhas de título de eleitor na avenida Rio Branco, e uma lâmpada acendeu em sua cabeça.
“Quando o tal camelô acabou de vender uma remessa de carteirinhas, saí atrás dele para ver onde tinha mais. Comprei uma por 2 cruzeiros e vendi na rua pelo dobro, falando que era a última. Passei a vender mais e mais. Dizem que a moeda que usei para comprar a primeira carteirinha era a moedinha número 1 do Tio Patinhas. Nunca mais parei de faturar”, ele disse em depoimento no livro “A Fantástica História de Silvio Santos”, de Arlindo Silva.
Enquanto faturava, Senor chamou a atenção de um fiscal da prefeitura. O fiscal, chamado Renato Meira Lima, tinha como dever prender os camelôs do centro do Rio. Ao ver o jovem interagindo com o público, com toda aquela desenvoltura e o vozeirão, decidiu ajudar.
Em vez de levar Senor Abravanel para a delegacia, lhe deu o cartão de um amigo que trabalhava na Rádio Guanabara. O empreendedor adolescente, então, visitou a rádio e participou de um concurso de locutores.
Ficou em primeiro lugar – batendo outro jovem, Chico Anysio. Mas ficou só um mês no trabalho novo. Ganhava muito mais como vendedor ambulante.
Nesse meio tempo, passou a usar os concursos de locução como fonte de renda extra, de olho nos prêmios em dinheiro. Ganhou vários seguidos. O pessoal das rádios entendeu que estava ficando chato, e passou a barrar o rapaz. Aí Senor passou a se inscrever usando seu nome caseiro – Silvio. E um produtor sugeriu um sobrenome artístico que soasse melhor com a nova alcunha: Santos.
Aos 18 anos, foi servir o Exército, na Escola de Pára-Quedistas de Deodoro. E entendeu que o serviço militar não era compatível com o comércio informal. “Tive de maneirar nas atividades de camelô. Imagina a cara dura que seria se eu fosse pego vendendo bugigangas!”, disse no livro de Arlindo Silva. “Foi aí que decidi ser locutor, algo mais condigno com minha condição de pára-quedista do Exército Brasileiro. E deixei de vender coisas nas ruas”.
Silvio foi trabalhar na Rádio Continental, em Niterói. A ponte ainda não existia. Ele pegava balsa todos os dias.
Foi aí que outra luzinha acendeu na cabeça dele. Silvio fez um acordo com a administração da barca e montou alto-falantes ali. A ideia era fazer um programa de rádio para a travessia, de meia hora. Ele colocava músicas e, entre uma canção e outra, fazia comerciais – faturando com a venda de espaço publicitário.
E deu um passo adiante. Passou a organizar um bingo na barca.
Ele não era o único radialista com negócios paralelos. Um colega de São Paulo, Manuel da Nóbrega, tinha criado um negócio chamado “Baú da Felicidade”. Vendia um baú de brinquedos em 12 prestações, para que pais dessem às suas crianças no Natal. Era bom para ambas as partes. As prestações faziam os brinquedos caberem no orçamento das famílias, e Manuel da Nóbrega investia o dinheiro ao longo do ano, multiplicando o caixa. Uma operação bancária, basicamente.
O business model era bom, mas o negócio ia mal. Não engrenava. Manuel, então, chamou Silvio para ser seu sócio – acreditando no tino comercial do colega. O resto é história.
“Nunca tive medo de o Baú não dar certo. Negócio é negócio. Se perder, perdeu”, disse numa entrevista ao jornal O Estado de São Paulo em 1987. “Se amanhã eu acordar e disserem que o país é comunista, vou perguntar: ‘Ah é? E como faço para ser o chefe do Partido?”
Do mundo não se leva nada, afinal.
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