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A psicologia por trás da febre dos NFTs
Se comprar antiguidades conecta com o passado, comprar um ativo digital, pelo contrário, conecta com o futuro.
Na semana passada, a notícia mais destacada sobre o metaverso, espaços virtuais que permitem interagir, visitar lugares e até fazer negócios usando avatares, foi de que um terreno no Decentreland foi vendido pelo equivalente a mais de R$ 13 milhões. O Decentreland é um jogo baseado em realidade virtual, formado por milhares de terrenos. Tem uma criptomoeda própria, a MANA, negociada em marketplaces como qualquer outro ativo digital.
É inegável que negócios assim estão na crista da onda. NFTs (Tokens Não Fungíveis), a forma como foi feita a transferência de propriedade dos terrenos do Decentreland, devem movimentar US$ 40 bilhões no mundo este ano. Uma espécie de certificado de autenticidade de ativos digitais, funciona no caso como uma escritura, comprovando que aquele terreno é original em tem dono.
Há NFTs para todos os gostos. Em março, uma obra digital do artista Beeple, garantida por um NFT, foi vendida por US$ 70 milhões. Já Tom Brady, astro do futebol americano, tem uma startup, a Autograph, que vende autógrafos de ídolos do esporte como Tiger Woods e Simone Biles. Um NFT do próprio Tom Brady vale US$ 4 milhões. Obras de arte são leiloadas o tempo todo em plataformas como Larva Labs e OpenSeas.
Olhando apenas pelos valores envolvidos, pode parecer um investimento duvidoso. Mas a psicologia envolvida sugere o contrário. Colecionar, afinal de contas, não começou com o digital. Há mais de um século, por exemplo, os americanos já colecionavam cards de baseball. Brasileiros E, como diz Dillon Rosenblatt, CEO da Autograph, tudo ou quase tudo envolvendo NFT, pelo menos no momento, tem a ver com colecionar.
NFTs parecem ser, para ele, a próxima fronteira. A tecnologia blockchain garante não só que o ativo é original como que é escasso. E escassez é uma característica do mundo valiosa nos colecionadores. Daí que mesmo que muitas obras possam ser encontradas no Google e a situação pareça com a de ter uma cópia de um quadro de Van Gogh exatamente igual em casa, até as mesmas pinceladas, o NFT é como ter um certificado que garante que aquele é o Van Gogh original.
A psicologia por trás dos NFTs
Em um estudo sobre as motivações dos colecionadores, a neuropsicóloga Shirley M. Mueller, ela mesma uma colecionadora, aponta que passar a possuir um bem raro eleva o orgulho e faz as pessoas se sentirem mais inteligentes. Algo que aumenta em níveis exponenciais quando ainda por cima o valor pago foi pequeno.
Mas de nada valeria se a compra fosse ignorada por todo mundo. Não é o que acontece quando alguém faz uma aquisição icônica. Na verdade, a notícia corre o grupo, pequeno ou grande, do qual a pessoa faz parte. Fora o efeito, também importante, de se sentir parte de algo na moda. Se comprar antiguidades conecta com o passado, comprar um NFT, pelo contrário, conecta com o futuro.
No caso da arte digital, vale ainda a percepção de que, embora a obra não “exista” no mundo real, como um quadro, uma instalação ou uma escultura, NFTs, garantindo a autenticidade, criaram escassez, atraindo compradores para o mercado. Vale aí, ainda, a mesma relação que fãs de arte têm com os autores, assim como com a história por trás das obras. E ainda a percepção de que a obra comprada vai se valorizar no futuro.
Regra que vale para todo mercado de arte, digital ou não.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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